Tuti´s Pão: 50 anos de qualidade com muita história em Balneário Camboriú

Empresa familiar é hoje a mais antiga panificadora da praia

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(Arquivo Tuti´s Pão)

“No dia 6 de dezembro de 1972 quando as portas do panifício Tuti´s Pão abriram pela primeira vez, vieram pessoas que já tinham padaria aqui e não queriam que nós abríssemos. Queriam comprar no dia da inauguração e eu chorei muito. Até hoje ainda falam que a padaria está aberta graças ao choro da dona Carmen”.

(Arquivo Tuti´s Pão)

A afirmação é de Carmen Wegner, 88 anos, uma das fundadoras da Tuti´s Pão, que completa 50 anos nesta terça-feira (6). Ela acompanha até hoje o movimento do investimento que ela e o marido Edgar fizeram há 50 anos na praia ‘quase deserta’ de Balneário Camboriú.

Lembranças 

Histórias e lembranças são muitas. 

Dona Carmen lembra do balcão de fórmica roxo e o primeiro uniforme com bolinhas roxas, uma cor ‘avançada’, que não existia em móveis na época.

Lembra das receitas que vinham de casa, da mãe, da sogra, da avó e dos pães que tinham sempre novidades.

“Receitas novas sempre em pauta e desde o início a preocupação em usar somente produtos de qualidade, como farinha de trigo, manteiga etc. Isso foi logo reconhecido pelo consumidor e permanece igual até hoje”, disse Carmen.

Os horários também mudaram bastante.

“No início a padaria fechava 8h, 8h30 da noite, porque não tinha movimento, ninguém mais circulando na cidade. Depois que a Univali abriu a faculdade, melhorou o movimento, porque 90% dos estudantes moravam aqui em Balneário Camboriú. Então fomos retardando os horários de fechamento da padaria, porque eles voltavam de Itajaí e queriam comprar pão”.

(Arquivo Tuti´s Pão)

O futuro presente

Dona Carmen lembra que a empresa nasceu de olho no futuro.

“Meu marido tinha uma visão de progredir sempre, apostar em novidades e investir sempre. Em 1993 ele faleceu, mas os filhos já estavam encaminhados, aprenderam muito com ele”, destacou.

Nos dias atuais, o futuro continua ainda mais presente. 

“Sempre valorizamos e primamos pelos cuidados com o meio ambiente. Trocamos as sacolas de plástico por sacolas de pano. Por ocasião do cinquentenário será a quarta vez que vamos distribuir sacolas de pano para nossos clientes. Eu gostaria de fazer um apelo, para que as pessoas usassem mais as sacolas de pano. Muito esporadicamente vem alguém com a sacolinha de pano comprar pão. É só deixar ela sempre no carro ou na bolsa e todos estarão colaborando com o meio ambiente tão prejudicado pelo plástico. É uma atitude tão pequena e tão grande para a natureza. Basta lembrar de levar”.

Dona Carmen com Gilson, Tuti, Ewerton e Edgar, em 2014 (Arquivo Tuti´s Pão)

Agradecimento

“Ainda vou quase todos os dias na padaria, é um trabalho que sempre me trouxe muita satisfação. Até hoje fico feliz quando ouço alguém dizer, ‘que coisa boa esse pão, esse bolo, esse café’. Agradeço a Deus por permitir estar aqui comemorando estes 50 anos, agradeço à minha família, aos amigos e principalmente aos nossos clientes, que são o estímulo para continuar essa caminhada”, concluiu Carmen.

Um grupo de funcionárias, nos anos 90. Dona Carmen no balcão. (Arquivo Tuti´s Pão)

A herança do aprendizado

A Tuti´s Pão é uma empresa familiar. Os filhos do casal fundador são Gilson, Ewerton, Tuti e Edgar. Nesta reportagem todos falam sobre a importância dos 50 anos da empresa. Acompanhe:

Gilson, Edgar, Carmen, Tuti e Ewerton, em 2017 (Arquivo Tuti´s Pão)

Ewerton Wegner

Ewerton Wegner, administrador da panificadora, disse que o aprendizado (ele trabalhou desde 85 até 93 junto com o pai) e os fundamentos herdados são um alicerce.

“O aprendizado foi muito importante, mas a forma de gerir era muito diferente. Naquela época tinha 12, 16 funcionários, hoje tem 40, antes da pandemia eram quase 50…mas os fundamentos, o pai e a mãe colocaram uma diretriz muito forte, boa, e a gente procurou seguir, sempre adaptando para o momento atual”, afirmou.


Mercado exigiu mudanças

Ewerton explicou que a panificação hoje é bem diferente de quando iniciou a empresa, há 50 anos, mas o pão francês é a estrela que segue, é o carro chefe até hoje, o ítem mais vendido. O formato redondo que é muito usado para hamburger foi lançado na inauguração como um diferencial, uma marca que ficou. A receita e os ingredientes do pão francês não mudaram, o método de fabricação mudou um pouco em função do espaço interno.

“Mas no contexto da loja, a modificação foi grande. Quando abriu, basicamente era pão, leite, café, presunto e queijo. Hoje

temos um mix de mais de dois mil produtos dentro da loja, uma exigência do mercado mesmo”, disse Ewerton.

Ele lembra que em determinada época, nos anos 90, Balneário Camboriú tinha quase 120 panificadoras, hoje o número é bem menor, mas com mais estrutura, pela própria necessidade do mercado, é preciso oferecer mais produtos.

“Hoje toda padaria tem café associado. Algumas se especializam em outras áreas, como pães de fermentação natural, outras em serviço mais gourmet, serviço de atendimento de café da manhã. A área de confeitaria evoluiu muito, antes era só cuca, sonhos, eram poucas receitas, mas hoje há uma enorme variedade, tanto que a nossa torta mais vendida é a de granola. Fizemos a adaptação. No início era um lugar só para comprar pão. A partir de 95 iniciamos com café…e desde então vamos aprimorando. Hoje ele está ainda mais estruturado, tem uma representação bem maior dentro da empresa. Mas a regra de não usar muitas essências, aditivos químicos, pré-misturas etc. isso nunca mudou aqui, o pai nunca usou e assim continuamos fazendo”.


Gilson Wegner

Gilson fala sobre as diferentes épocas que a empresa atravessou, com períodos às vezes mais complicados que promissores. 

“Durante os 50 anos da empresa Tuti’s atravessamos períodos diversos da economia e política com reflexos diretos na nossa padaria.

Quando iniciamos as atividades os preços eram tabelados e tínhamos que atuar dentro uma margem de lucros bastante restrita. Mas por incrível que pareça nessa época os ganhos eram melhores.

Mais tarde o tabelamento de preços acabou e veio a alta inflação, foram tempos mais difíceis.

Depois, nos anos 80 e 90 vieram os argentinos. 

O fluxo de turistas era alto e os ganhos eram em dólares. 

Foi uma época de prosperidade, mas devido a política econômica internacional isso também passou.

E finalmente, com o crescimento do município tivemos um aumento do movimento nos meses de baixa temporada. O que ajudou muito e facilitou o planejamento”.


Edgar Wegner

Edgar descreveu a preocupação com o meio ambiente que sempre esteve presente na empresa. O pai gostava de estar no sítio e sempre aproveitou o local para fazer o descarte dos rejeitos da padaria, para compostar, virar adubo, transformar em horta e retornar à padaria em forma de temperos, verduras etc.

“A história do sítio está ligada a da padaria Tuti´s desde a sua fundação. Os fundadores Edgar e Carmen viram a necessidade de ter um reaproveitamento dos descartes da padaria e a forma que acharam foi o reuso dessas sobras para a criação de animais (porcos e galinhas) e produção de compostagem (adubo).

Também foi desenvolvido a produção de legumes, verduras, temperos e ovos que são utilizados nas produções da padaria privilegiando o uso dos alimentos orgânicos de melhor qualidade. 

Hoje em dia continuam as mesmas atividades de aproveitamento e produção de alimentos orgânicos e como a propriedade está na área urbana do município de Camboriú se 

valoriza a preservação dos mananciais de água, da vegetação nativa e das caraterísticas rurais da propriedade”.


Ingrid Cristina Wegner (Tuti)

Ingrid Cristina tinha 8 anos na inauguração. Ela conta que ficou muito lisonjeada quando o apelido que recebeu do irmão mais velho, virou nome da empresa.

“Moro no Mato Grosso a 1800 km de Balneário Camboriú e seguido encontro alguém que me fala, ‘fui comer uma torta na Tuti’s e estava uma delícia’.

Fico muito alegre por fazer parte da família que mantém um negócio por 50 anos prezando qualidade e tradição. 

Meu apelido? Meu irmão mais velho me deu por eu ser grudenta como o chiclete tuti-fruti”.


(Arquivo Tuti´s Pão)