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“Enéas Athanázio aborda a temática do holocausto com reflexões atuais e oportunas”

 Por Guilherme Queiroz de Macedo

Recebi com muita satisfação e surpresa, dois livros de autoria de Enéas Athanázio, dentre os quais O Holocausto. Parei tudo que estava fazendo para ler o livro, sobre os quais relato as minhas impressões e comentários de leitura a seguir. Foi realmente uma grata surpresa, pois esperava que o autor fizesse novos lançamentos, somente em 2019, uma vez que já haviam sido lançados dois livros de sua lavra em 2018 – Indiologia Militante e Farquhar e Lobato.

Enéas Athanázio

O livro, de autoria de Enéas Athanázio, com sugestiva capa de Jean Pierre Valim, lançado nos 25 anos da Editora Minarete, aborda a temática do holocausto em livro, em artigos de sua autoria, nos quais faz a resenha de leituras de livros a respeito das vítimas e sobreviventes do holocausto, ocorrido na Alemanha nazista, nos anos 1930 e 1940 do século XX, trazendo-nos importantes e oportunas reflexões para os dias atuais que estamos vivendo no Brasil.

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A obra contém dezoito artigos, cujas resenhas retratam e abordam as diversas facetas e aspectos inéditos da temática do holocausto que, ainda hoje não são muito conhecidas, em suas múltiplas e variadas abordagens, pela maioria da população brasileira. O livro enfoca, de forma diversa, vários relatos e testemunhos de vítimas do holocausto enfocando, sobretudo, o nazismo alemão antes, durante e depois da II Guerra Mundial (1939 – 1945).

Inicialmente, gostaria de registrar que o lançamento de “O Holocausto” é extremamente importante e oportuno, sobretudo neste gravíssimo momento histórico em que vivemos na história do Brasil, marcada por atos e manifestações de cunho fascista que ameaçam o estado de direito e a democracia, que ainda nem completou 50 anos em nossa História.

No Brasil, a onda nazifascista nos anos 1930, que aqui se chamou Integralismo e (nos dia atuais já existe até mesmo movimentos neo-fascistas e neo-nazistas), se utilizou do Plano Cohen para desfechar o golpe do Estado Novo, quando todos os comunistas estavam presos desde a Revolta Comunista de 1935. Foi o início dos oito anos de Ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937 – 1945). Mesmo assim, os Integralistas tentaram derrubar Vargas em 1938, mas ele não os prendeu como fez com os Comunistas. Mandou o líder integralista Plínio Salgado para o exílio em Portugal para fazer companhia a Salazar que, juntamente com Franco na Espanha completava o quarteto nazi-fascista europeu. A destruição de Guernica, imortalizada no famoso painel de Pablo Picasso, é exemplo da barbárie nazi-facista dos anos 1930 que, se a sociedade brasileira não ficar alerta e mobilizada, pode se repetir no Brasil dos anos 2020.

Trata-se de uma obra com dezoito artigos, inicialmente publicados em colunas virtuais e em jornais, a respeito das leituras de obras, realizadas pelo autor,cuja temática principal é o holocausto vividos por pessoas de várias nacionalidades e integrantes de movimentos políticos, sociais e culturais, considerados pelos nazi-facistas como inimigos dos regimes e ditaduras de extrema direita, que dominaram a Europa entre os anos 1920 e 1940 do século XX.

Vários intelectuais e pensadores sofreram perseguições, prisões e foram mortos neste período sombrio, dentre os quais o historiador francês de origem judaica, Marc Bloch, autor de Apologia da História ou O Ofício do Historiador, criador da Revista e da Escola dos Annalles, que revolucionou a historiografia nos anos 1920 e 1930, e Antônio Gramsci, militante do Partido Comunista Italiano, autor das famosas Cartas do Cárcere e das obras Literatura e Vida Nacional e Os Intelectuais e a Organização da Cultura, dentre outras.

Nos comentários efetuados pelo autor, em cada um dos artigos, destacamos as conclusões e recomendações do autor, acerca das contribuições e reflexões suscitadas pela obra encerram e que, a propósito, são consideradas como primordiais para que ditaduras nazi-fascistas como as de Hitler (Alemanha), Mussolini (Itália), Salazar (Portugal) e Franco (Espanha), bem como as do Estado Novo (1937 – 1945) e a Ditadura Militar (1964 – 1985), no Brasil nunca mais voltem a ocorrer.

Em seguida, abordaremos os dezessete artigos (resenhas) e uma crônica, publicados em colunas jornalísticas virtuais, assinadas por Enéas Athanázio.

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1 – Desprezo pela vida

No primeiro artigo, o autor destaca uma das obras de autoria de um de seus autores prediletos – Georges Simenon – considerada como um dos mais instigantes romances ambientados na França ocupada.

2 – O anjo de Hamburgo

No segundo artigo, o autor destaca o importante papel desempenhado pela esposa do médico, diplomata e escritor mineiro Guimarães Rosa na época em que foi designado para o Consulado de Hamburgo, onde conheceu Aracy, que ficou conhecida como o “anjo de Hamburgo”, por facilitar a emigração de judeus, que fugiam da perseguição nazista, para o Brasil. Athanázio relata, ainda, que o profundo sentimento humanitário de Aracy novamente se fez presente, durante a Ditadura Militar (1964 – 1985), durante a qual abrigou perseguidos políticos em sua residência. Anos depois, Aracy foi reconhecida como personalidade de relevo internacional pela comunidade de Israel. Citando a afirmação do ensaísta Ayrton Celestino, Enéas conclui que os fatos vividos por Aracy são “um alerta para que tais monstruosidades nunca mais se repitam”.

3 – O romance do sofrimento

No terceiro artigo, o autor destaca uma obra na qual são relatados os sofrimentos de duas irmãs polonesas de origem judaica, destacando a luta da inteligência delas contra a truculência da ditadura nazista, em sua luta cotidiana para se libertarem de suas garras.

4 – O sobrevivente

No quarto artigo, Athanázio nos apresenta a resenha da leitura de um livro narrando a trajetória de um judeu sobrevivente da barbárie nazista, destacando ser “difícil imaginar que alguém tivesse suportado tantos e tais sofrimentos e ainda pudesse sobreviver sem perder a razão” e conclui afirmando que “fatos assim precisam ser sempre lembrados, ainda que dolorosos, para que não se repitam”.

5 – Ocaso

No quinto artigo, Enéas destaca a leitura de uma obra a respeito do “amigo e confidente de Hitler”, condenado a vinte anos de prisão pelo Tribunal de Nuremberg, destacando a ascensão e queda de Hitler, presenciada pelo mesmo. Uma das situações mais absurdas que o livro revela é que o amigo de Hitler “jamais confessou que soubesse das atrocidades do regime, em especial do genocídio dos judeus”, sendo por isso conhecido como o “bom nazista”, se é que tenha existido algum, embora o filme A Lista de Schindler tenha mostrado algo parecido.

6 – Pijamas listrados

No sexto artigo, o autor comenta uma obra sobre dois garotos, na qual um deles, filho de um chefe militar nazista, resolve ficar ao lado do outro, que era prisioneiro dos nazistas. A referida obra, que tem uma versão em filme, mostra o destino de um dos garotos, justamente o filho do militar nazista, cujo destino é a câmara de gás, da qual extrai uma dura lição que o livro e o filme encerram: “a de a criatura (o campo de extermínio) pode se voltar contra o criador (o executor)”. Athanázio considera que “mesmo sendo uma história amarga, na qual o inocente é punido pelo pecador, vale como uma advertência aos fanáticos que acreditam e pregam medidas radicais”.

7 – Táticas de sobrevivência

No sétimo artigo, o autor trata a respeito de um livro que relata a vida de um soldado britânico, feito prisioneiro pelos alemães, e que foi encaminhado como prisioneiro para um campo de concentração, cuja localização é vizinha a Auschwitz, e que resolve a entrar no campo de concentração dos judeus para verificar o que lá ocorria.

8 – Traição premiada

No oitavo artigo, o autor destaca a famosa estilista francesa Gabrielle Coco Chanel que, na França ocupada pelos nazistas, colaborou com o regime, mostrando as estratégias de que ela se serviu para evitar que fosse levada a julgamento, após a 2ª. Guerra Mundial.

9 – Um relato assombroso

No nono artigo, Enéas destaca mais um livro que apresenta um relato assombroso dos horrores da barbárie nazista, marcada pela brutalidade inimaginável, na Alemanha nazista, da vida da autora da obra, de origem judaica que viveu “uma situação inusitada e difícil: para sobreviver casou-se com um ariano, mesmo contrariando os princípios judaicos”, sendo por isso hostilizada pelos próprios judeus. Athanázio conclui a resenha, enfatizando que “sua vida é um relato terrível do que pode acontecer em tempos de ódio e intolerância”.

10 – Um ror de tragédias

No décimo artigo, Enéas nos apresenta a resenha de mais uma obra sobre a barbárie nazista, na qual “coisas mínimas constituíam motivos para surras e espancamentos sem piedade” considerados como “um ror de tragédias”. E nos desvela as estratégias utilizadas pelos nazistas para exterminar os prisioneiros, cuja maioria eram judeus, ao afirmar que “ficou evidente que a ordem era matar pelo excesso de trabalho, extorquindo do prisioneiro até a última gota pelo esforço de guerra”. Athanázio destaca o significado do livro, em que “a experiência tresloucada permitiu o surgimento deste livro, um documento único das entranhas do pior lado do nazismo”, citando a advertência do autor da obra: “As pessoas acham que isso não vai acontecer novamente e, em especial, que isso não vai acontecer aqui. Não acredite nisso! Não é preciso muita coisa”.

11 – Uma história de ódio e resistência

No décimo primeiro artigo, Athanázio destaca uma das obras de Maura Palumbo, que se dedica há alguns anos ao estudo da II Guerra Mundial. A respeito do relato de Palumbo da destruição das obras literárias e científicas dos principais pensadores e intelectuais de origem judaica, Enéas destaca a passagem, na qual Maura afirma que: “Não importa o que contenham e o valor de suas lições. São maculadas pelas mãos judaicas que os escreveram. É o desvario do ódio e da intolerância”.

12 – Uma história sombria

No décimo segundo artigo, Enéas destacou uma obra na qual contém um relato de uma história sombria, marcada pelos crematórios que funcionavam dia e noite nos campos de concentração nazistas, “transformando em cinzas espalhadas ao vento milhares de pessoas”, afirmando ser “mesmo impossível esquecer coisas assim”.

13 – Ziklon B

No décimo terceiro artigo, Athanázio destaca um “gesto de admirável coragem editorial”, a tradução brasileira de um livro odiado e atacado no mundo todo pelos “neonazistas, simpatizantes e agregados”. Em seguida, Enéas enfatiza que “o livro semelha uma obra de literatura de terror, embora baseada em provas documentais e depoimentos concludentes. É de arrepiar”, ressaltando que “deveria ser lido por todos os brasileiros, em especial pelos inocentes úteis que andam por aí a pregar idéias nazistas sem conhecer a história e as consequências delas. A leitura é ainda mais oportuna porque vivemos momentos de ódio, intolerância e xenofobia, não apenas no Brasil, mas também em outros países”. E, mais uma vez, Athanázio conclui: “É desalentador. Fica a impressão de que o ser humano não aprende com as lições da História e insiste sempre em reincidir nos mesmos e trágicos erros”.

14 – Carta para o futuro

No décimo quarto artigo, Enéas inicia a sua resenha sobre mais uma obra a respeito dos horrores do holocausto nazista durante a II Guerra Mundial, afirmando que “sempre que toco no assunto, há quem afirme que não deveria fazê-lo, para que seja esquecido. Entendo, porém, que precisa e deve ser lembrado sempre para que não seja esquecido jamais e não corra o risco de se repetir”, destacando que os pensamentos contidos na “Carta para o Futuro” “seja válido para todos os genocídios perpetrados ao longo da História e em todos os lugares”. Athanázio nos alerta que, embora “a hipótese de sua repetição parece remota, mas é necessário observar que o neonazismo vem se manifestando com intensidade, inclusive no momento em que escrevo e até mesmo no Brasil”. O autor demonstra a sua admiração e respeito pela obra escrita pela sobrevivente do campo de concentração, ao afirmar que: “confesso minha admiração, misto de espanto, diante de uma pessoa que foi submetida a tudo aquilo e conseguiu viver uma vida quase normal, útil, repleta de boas realizações. Creio que eu morreria de tristeza e humilhação”. A mãe da autora – Eva – se casou com Otto Frank, pai de Anne Frank, que escreveu o conhecido Diário, editado no mundo todo: “amiga de Eva na adolescência, Anne também foi executada e seu diário revelou os tempos sombrios em que viveu na clandestinidade, padecendo fome, frio e medo”, destacou Enéas. Após a II Guerra Mundial, Eva dedicou-se à preservação do legado de Anne Frank, criando uma Fundação. Neste sentido, “Carta para o futuro” “pretendia enviar uma mensagem para o porvir”.

15 – Stefan Zweig

No décimo quinto artigo, enfocando o conhecido escritor austríaco Stefan Zweig (1881 – 1942), segundo Athanazio “figura ligada ao nosso país, autor do célebre livro ‘Brasil, país do futuro’”, residente em Petrópolis, onde faleceu e foi sepultado. A sua trajetória itinerante como um “homem cosmopolita, perseguido pelos nazistas, que vai fugindo pela Europa, de país em país, até que vem parar no Brasil do Estado Novo, onde põe fim à vida em companhia da esposa”, nos é mostrada por Enéas. A provável explicação para o fim trágico da vida de Zweig, abordada na resenha de Enéas da biografia de autoria de Alberto Dines, contextualizada de forma bastante pertinente, o contexto da época da II Guerra Mundial: “Mas sobreveio a guerra, a mortandade, o ódio racial, a perseguição sem trégua. O mundo, antes percorrido com interesse, se tornou pequeno e só restava a fuga para o Brasil, em busca da segurança no país do futuro. A depressão insuportável, porém, o acompanha e o fim trágico aconteceu – a morte no paraíso – como escreveu seu biógrafo Alberto Dines”.

16 – Stefan Zweig (2)

O décimo sexto artigo, enfocando mais uma vez o conhecido escritor austríaco Stefan Zweig (1881 – 1942), desta vez as memórias escritas por ele, que “reúne as lembranças de um apaixonado pacifista que, não obstante, sofreu os efeitos das duas guerras mundiais, em especial da segunda, cujas consequências pessoais foram catastróficas, gerando nele a profunda depressão que acabou por levá-lo ao suicídio aqui no Brasil, em Petrópolis, onde está sepultado”. O escritor alemão, de perambular pela Europa, como um nômade, fugindo da perseguição nazista, “então chega ao Brasil, onde foi bem recebido, e continuou a produzir, escrevendo o seu célebre livro “Brasil, país do futuro”. No entanto, não consegue resistir à depressão de que é vítima: “mas as sombras e os temores não o abandonaram e a eles não consegue resistir”. Athanazio destaca a importância da leitura da obra por todos os brasileiros nos sombrios tempos atuais que vivemos, ao afirmar: “eis um livro que deveria ser lido por todos que suspiram saudosos da ditadura e que, em vez de aprimorá-la (a democracia), votam nos Tiriricas da vida para desmoralizar nossa democracia”.

17 – Jorge Amado Cronista: tempos de tensão

No décimo sétimo artigo, Athanázio faz uma resenha de um livro pouco conhecido de autoria do escritor Jorge Amado (1912 – 2001), intitulado “Hora da Guerra”, “contendo numerosas crônicas de Jorge Amado (1912 – 2001) escritas durante a II Guerra Mundial entre 1942 e 1944 para publicação em um jornal baiano e que estavam inéditas em livro”. De acordo com o autor, as crônicas “descortinam um panorama do grande conflito visto da Bahia, acompanhando passo a passo os acontecimentos e revelando com o autor estava informado e atento a tudo que ocorria em outros cantos do planeta”. Enéas cita, inclusive, outros autores brasileiros que também se destacaram em crônicas escritas nos tempos da II Guerra Mundial, como Carlos Scliar, Rubem Braga, Joel Silveira e Antonio Callado, exaltando o papel exercido pelos intelectuais na luta pela democracia, enfatizando “os que se entregam ao esforço de guerra aqui no país, denunciando os adesistas, os quinta-colunas, os derrotistas e os que semeavam a divisão de forças, o antissemitismo e o preconceito contra os negros”. Enéas destaca, ainda, que o livro de Jorge Amado “é um documento que merece a leitura atenta de todos os brasileiros e que engrandece a obra do grande escritor cujo centenário se comemora neste ano (2012)”.

18 – Onde estará “Monsieur”?

O décimo oitavo texto trata-se de uma crônica, publicada anteriormente na obra “Fiapos de Vida – Volume 2” (Editora Minarete, 2004), na qual o autor relata que, nos tempos em que foi advogado em São Simão (Campos Novos), foi procurado por um engenheiro agrônomo, que se identificava como Eugène Parries e dizia ter nascido em Luxemburgo, que desejava receber um pagamento não efetuado e atrasado por um serviço que havia prestado. No entanto, desapareceu, sem deixar aviso, “sumiu sem deixar rastros”. Mais tarde, o autor soube que o cidadão havia sido assassinado em um hotel curitibano. Depois de muito se perguntar sobre os motivos de seu desaparecimento e do seu assassinato, o autor se pergunta se o “crime teria relação com a Guerra Mundial, na qual Monsieur teria participado como agente, embora não se saiba de que lado”.

A obra “O Holocausto” nos revela a prática de Enéas Athanázio de um dinâmico, atualizado e profícuo jornalismo cultural, atividade semanal que vem desenvolvendo com propriedade há vários anos no Jornal Página 3 (Balneário Camboriu – SC), além de contribuições quinzenais na coluna virtual do Rio Total Coojornal, e bimestrais na coluna “Autores Catarinenses” do periódico Blumenau em Cadernos. 

Guilherme Queiroz de Macedo é professor Licenciado em História e Pedagogia – UFMG

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