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Balneário Camboriú

Volta às aulas em Balneário Camboriú

Pais e professores analisam retorno e falam sobre possibilidade de nova parada.

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As aulas presenciais das redes municipal e estadual de Balneário Camboriú retornaram na quinta-feira (18) mesmo com o aumento dos casos de Covid-19 na cidade e no Estado. Boa parte dos pais apoiam o retorno e estão levando seus filhos para os colégios e núcleos de educação infantil – tanto que, segundo dados da Secretaria de Educação de Balneário, 92% dos pais dos alunos matriculados na educação infantil se mostraram favoráveis ao retorno presencial e 78% do Ensino Fundamental; o número é parecido com o das escolas da rede estadual da região – 82% dos alunos voltaram para as atividades presenciais. Por isso, considerando a grande quantidade de alunos que retornou, as instituições estão com o ensino híbrido, com aulas presenciais e online [turmas divididas].

Mesmo com essa ‘aprovação’ o Sindicato dos Servidores Municipais de Balneário Camboriú (SISEMBC) protocolou um ofício nesta semana, endereçado ao prefeito Fabrício Oliveira, destacando a preocupação diante do cenário atual e solicitando que o retorno das aulas presenciais se dê somente após a vacinação de todos os servidores que atuam na rede de educação do município. 

A Comunicação da prefeitura informou, na tarde desta quarta-feira (24) que o governo municipal está seguindo o cronograma imposto pelo Ministério da Saúde e governo do Estado e que os professores são o quarto grupo prioritário. Mesmo assim, na Secretaria de Saúde há uma equipe médica exclusiva para o atendimento dos servidores da educação, que em caso de sintomas de Covid serão imediatamente testados, com o resultado saindo em 30 minutos.

Responsáveis avaliam retorno municipal e estadual

“Tem a questão social, a escola marca o desenvolvimento humano”

Marilene (foto PMBC)

Marilene Cardoso

Secretária de Educação de Balneário Camboriú

“Estou visitando as escolas e vejo que os professores estão se reinventando, os alunos estão felizes, mas estão percebendo que as escolas estão diferentes, não é como antes, é preciso cuidado, distanciamento. Os pais também estão compreendendo a organização das chegadas e saídas para não causar aglomerações. A escola tem a questão social, marca o desenvolvimento humano, a interação inclusive facilita o desenvolvimento. Estamos tendo todos os cuidados necessários, com o atendimento aos servidores na Secretaria de Educação; estamos realizando cerca de 10 atendimentos por dia, desses seis foram positivos, mas a maioria dos professores já estavam com Covid antes do retorno das aulas. Os alunos estão atentos e obedecendo as orientações, sabem o que é preciso exatamente para as aulas continuarem. No caso das crianças dos NEIs, de zero a dois anos, por questão de asfixia não é obrigatório o uso de máscara, mas de dois a cinco anos é recomendado o uso; de seis anos em diante é obrigatório. Nós estamos orientando os pais a estimularem o uso porque a máscara é um importante meio de proteção. As políticas públicas e organização que tivemos trouxe segurança para os pais, tanto que os números do retorno não negam, mostram que eles querem que os filhos estejam na escola. O Comitê dos Plancons (Plano de Contingência Municipal para Educação) está passando em todas as unidades, junto com a Defesa Civil e Secretaria de Saúde estamos trabalhando para o retorno dar certo, ele foi muito planejado, foi um esforço de muita gente. Estamos acompanhando o comitê do Governo do Estado também, e temos a mesma visão: de que é importante o aluno estar na escola. Nos oito meses com aulas online perdemos muito, mas claro que se houver situação e a indicação seja que as aulas sejam novamente interrompidas vamos retomar o 100% online. A todo tempo estamos avaliando o processo”.

“Por melhor que seja a tecnologia nada substitui a interação presencial”

Cleonice (foto 17 CRE)

Cleonice Wehmuth Monteiro Berejuk

Supervisora regional de educação, responsável pela 17ª Coordenadoria Regional de Educação, que engloba Balneário Camboriú

“Das 45 unidades [escolas estaduais] que atendemos, quatro estão trabalhando com 100% online e as demais com o ensino híbrido. Entre as quatro há o CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) de Balneário [as outras três são Vitor Meirelles e Pedro Paulo Felipe, de Itajaí e Manuel Henrique de Assis, de Penha], porque a maioria dos professores de lá são do grupo de risco. Estamos finalizando as contratações de ACTs (admitidos em caráter temporário – que estão, pela primeira vez, escolhendo as aulas de forma totalmente online e seguirá dessa forma daqui para frente) e assim que eles forem chegando conseguiremos fazer a composição dos horários, porque o presencial é realmente o nosso foco. O retorno era aguardado com bastante ansiedade por todos. Fizemos um levantamento e 82% dos pais optaram pelo retorno de seus filhos, os 18% que não retornaram foi por serem de grupo de risco ou porque não se sentiam completamente seguros, mesmo assim é um percentual pequeno. O retorno tem sido cansativo, mas gratificante; tenho recebido fotos e vídeos, que mostram a alegria contagiante dos alunos, principalmente os do Ensino Fundamental. Temos notado uma mudança comportamental nos alunos, no sentido de respeitarem as normas. Há um monitoramento constante do recreio, todos sentados, não tem a correria típica, porque nesse momento não é possível. Os alunos estão tendo a percepção do quanto são responsáveis por si e pelos colegas. Não podem emprestar material, dividir lanche, é algo que precisamos relembrar todos os dias, assim como o uso da máscara, que também precisa ser trocada após um tempo. Todos os professores do Fundamental receberam face shield [através do Governo do Estado], já que eles são os que podem estar mais expostos porque as crianças querem estar mais próximas deles. Os do Ensino Médio que quiserem as escolas têm recurso para aquisição e possuem autonomia para comprar [com acompanhamento do Conselho Gestor da unidade e pela Associação de Pais e Professores – APP]. Os professores que apresentarem sintoma são afastados e a turma passa a ser assistida de forma remota, com aulas online, se os alunos tiverem sintoma acontece a mesma coisa. Para evitar contaminação maior, podemos também colocar a escola no online por um tempo, para garantir a segurança de todos e após isso voltar para o presencial/híbrido, pois por melhor que seja a tecnologia nada substitui a interação presencial, aluno-aluno, aluno-professor. A convivência é saudável e necessária, além de que estudos já confirmaram que o contágio entre crianças e adolescentes é baixo. Estamos trabalhando também com manutenções, incluindo capina e roçada, que irá contemplar todas as unidades. Estamos sempre atentos e em contato com os gestores, atendendo demandas. Mesmo tendo dificuldades, estamos focando em minimizá-las; todo dia é um dia novo”.

EEB Mário Dalago, de Camboriú (foto 17 CRE)

Pais opinam e falam sobre experiência dos filhos

“Fazer a lição de casa já é difícil, imagina toda a parte da aula”

Daniel Cenci

Empresário, pai de Victória, que estuda na 4ª série do CEM Professor Armando César Ghislandi e de Miguel, que estuda no Jardim II do NEI Pão e Mel

Daniel e os filhos no retorno das aulas (foto Arquivo pessoal)

“2020 foi frustrante, para nós o online não funcionou. Não é fácil dar aula em casa. Mesmo eu sendo favorável ao home school, mas é muito difícil porque as crianças não têm a concentração em casa que teriam na escola, pois estão perto da TV, do celular, da cozinha. Fazer a lição de casa já é difícil, imagina toda a parte da aula. Nunca fomos a favor do fechamento das escolas, não é a criança em casa que vai resolver. Escola é atividade fundamental. Há crianças que iam para a escola para comer, pior ainda, para fugir de abusos que eram vítimas em casa. Há muitas situações além do aprender, o convívio social com outras crianças. O Miguel ficou triste porque só foi dois dias, agora ele está em casa e volta na próxima semana, já que está sendo ‘escalonado’. Para a Victória, minha mais velha, está sendo muito bom também. Eles reclamaram de precisar usar a máscara o tempo todo, os professores estão cobrando, estão contendo as saídas e chegadas também. Inclusive quando vi os protocolos de segurança achei até rígidos demais, mais do que supermercados e comércios, tão rígidos quanto de hospitais, e talvez isso desanime pais e crianças a continuarem com o presencial. Eu pretendo continuar levando meus filhos, infelizmente no RS a onda de casos voltou, mas não gostaria que as escolas fechassem de novo. As crianças têm que conviver com o vírus assim como nós, não adianta isolar totalmente. As crianças precisam brincar. Sinto que meus filhos estão seguros na escola, sim. Como pai, a mensagem que deixo é a de que as autoridades precisam entender que educação é tão fundamental como segurança, saúde e comércios. As crianças não podem ser prejudicadas”.

“As crianças precisam ter novamente o direito de um aprendizado melhor”

Israel e Lutyane no retorno das aulas (fotos Arquivo Pessoal)

Vinicius Willian Bissóqui

Balconista de farmácia, é pai de Israel Augusto e Lutyane, estudantes do CAIC Ayrton Senna da Silva

“O ano de 2020 foi um pouco tumultuado, tivemos que nos adaptar aos horários de atividades e estudos, não temos a mesma qualificação de um professor, algumas vezes não sabíamos explicar da melhor maneira para o aprendizado das crianças. O aprendizado deles foi mediano pois não tinham constância na matéria e devido ao pouco tempo de estudos eles muitas vezes não conseguiram absorver o que precisava. Sempre fui a favor do retorno do presencial, porque a capacitação dos profissionais, professores e toda gestão escolar torna o aprendizado mais fácil e compreensível. Percebo que as escolas estão seguindo as normas de prevenção com muita eficiência, tudo de forma organizada e segura para nossos filhos e para nós pais também. O retorno dos meus filhos está sendo excelente, eles estão felizes por retornar, sentiram muita falta da escola no ano passado. Considero extremamente absurda a chance das escolas fecharem novamente, entendo que precisamos olhar pela saúde de todos, mas é inadequado fechar as escolas, se os locais que  mantém a aglomeração, permanecem abertos com poucas medidas de prevenção, se for necessário o fechamento, é preciso então que comecem a tomar providências mais rígidas nos locais que são os maiores causadores da proliferação do vírus. As crianças precisam ter novamente o direito de um aprendizado melhor ao lado dos professores capacitados. Quero deixar meu agradecimento, a escola por sua organização e por tomar todas as providências para os meus filhos e as demais crianças voltarem ao seu ano letivo. Assim como eu desejo que as medidas sejam tomadas para que não tenhamos o fechamento de escolas, afinal, o conhecimento é o bem mais precioso”.

“Sinto que o lugar onde minhas filhas mais estão seguras é na escola”

Catarina e Olívia estudam no Quintal Mágico (foto Arquivo pessoal)

Vanessa Valentini

Advogada, é mãe de Catarina e Olívia, que estudam no Quintal Mágico

“Minhas filhas tem 2 e 4 anos, estão na educação infantil. Não tiveram aula online. Recebiam vídeos curtos, no início de vídeos retirados do YouTube. Depois começaram a receber vídeos com as professoras, com histórias, brincadeiras, que não ocupavam mais de 20 minutos do dia. Portanto, não aprenderam praticamente nada nesse período (minha filha mais velha já fazia atividades com as letras do alfabeto). O ano de 2020 foi difícil para toda a família. Felizmente pudemos fazer teletrabalho, o que não é o caso da maioria da população. No início, quando nada se sabia sobre a doença, eu era contra o retorno. Mas com o passar dos meses, os estudos, os exemplos dos países ao redor do mundo, a consciência de que a pandemia não iria acabar tão cedo, e vendo a necessidade das minhas filhas, passei a ser a completamente a favor. Participei do movimento pela volta às aulas na cidade e sou muito ativa. Vejo que as escolas estão conseguindo seguir as normas de prevenção. Sinto que o lugar onde minhas filhas mais estão seguras é na escola. Quando as aulas retornaram no ano passado, minhas filhas tiveram aula com uma professora que, à noite, começou a apresentar os sintomas de Covid. Nenhuma criança foi contaminada. Aqui em casa também somos um exemplo. Meu marido pegou Covid num encontro com amigos. Os sintomas iniciaram no sábado à tarde. Não permiti que minhas filhas fossem para a escola a partir de então. Elas não apresentaram nenhum sintoma, e também não contaminaram ninguém. Elas estão extremamente felizes com o retorno. Estão mais vivas, mais alegres, mais leves. É notória a mudança de comportamento. Minha filha mais velha estava muito estressada, com um comportamento difícil. Isso está mudando agora com o retorno das aulas, pois está encontrando os amigos, gastando energia, aprendendo, brincando, e tudo num ambiente seguro. Eu e a maioria das mães que conheço somos contra um novo fechamento das escolas. Não irei mais aceitar esses desmandos dos nossos governantes. Não há qualquer justificativa para tanto. Aqui em casa ninguém pegou Covid na escola, mas num encontro com amigos. Após um ano de pandemia, a vida precisa continuar. Esse ano de 2020 será irreparável para as nossas crianças, intelectual, física e emocionalmente. Iremos lutar por isso até o fim, com as forças e as armas que tivermos. Não há qualquer embasamento científico para o fechamento das escolas. Peço aos governantes que tenham bom senso e pensem naqueles que serão o futuro da nação. Os pais precisam trabalhar, e as crianças precisam aprender, socializar, se sentirem cuidadas e protegidas. Quantas crianças foram abusadas, abandonadas, descuidadas em 2020? O número certamente é incalculável. E as consequências saberemos em breve. Essa conta vai chegar”.

“A evolução dele em um mês de aula não se compara com os nove meses que ficou em casa”

Priscylla com o marido Christian e o filho Lucca (foto Arquivo pessoal)

Priscylla Matte

Fisioterapeuta e terapeuta transpessoal, é mãe de Lucca, de cinco anos, que estuda no colégio Unifica Kids

“O ano de 2020 foi extremamente desafiador para todos nós, tive que parar de atender porque o meu filho não podia ficar com os avós e meu marido precisava trabalhar. Lucca, no primeiro momento, achava que estava de férias, mas com o passar dos dias foi entendendo que a situação estava começando a ficar diferente. Após uns dois meses ele começou a apresentar sintomas de ansiedade, morder gola da camiseta, acordar a noite e extrema dependência de um dos pais, pedindo atenção quase que 100% do tempo. Ele não conseguiu fazer as aulas online, não tinha foco para ficar em frente ao tablet fazendo atividades, preferia fazer comigo, por isso desistimos e me empenhei para ensinar o que podia, e assim ele teve evolução, porém nem se compara com a que tem na escola. Ele retornou em novembro, quando houve a liberação das escolas e a evolução dele em um mês de aula não se compara com os nove meses que ficou em casa, foi infinitamente superior. Em um primeiro momento ninguém era favorável ao retorno, até porque não sabíamos nada sobre o vírus, mas começaram a aparecer os estudos retirando as crianças do foco de principais propagadores da doença, porém estavam sendo os mais afetados emocionalmente. Participei e ainda participo das manifestações que ocorreram não só em Balneário, como em inúmeras cidades do estado. Assim como fiz parte da organização da Carreata Nacional que aconteceu em janeiro em várias cidades do Brasil. Eu vejo que esse retorno já deveria ter acontecido em setembro de 2020, as escolas tiveram tempo de se adequar e infelizmente a educação no Brasil, assim como a saúde, sempre são deixados para segundo plano. As escolas foram muito exigidas no Plancon, e acredito que estão cumprindo as regras, falo com mães que têm filhos em outros colégios e está sendo rigoroso todo o processo, desde a entrada, uso de máscaras, distanciamento em sala de aula. No colégio do meu filho de 20 alunos na sala, hoje contamos com apenas 10. Tenho total confiança no colégio e em deixar meu filho lá, se ele pegar Covid sei que vai ser muito mais provável que seja por contato conosco do que na escola. Meu filho pede para ir para aula até nos finais de semana, ele está adorando o retorno e já está super adaptado a nova realidade de distanciamento, máscaras, aferição de temperatura e uso do álcool. Se as escolas fecharem será um ato ilegal, pois em dezembro de 2020 conseguimos que a educação se tornasse um serviço essencial em SC, não podendo fechar em nenhum nível da matriz de risco. Não sou contra o comércio, porém acho que o principal problema somos nós mesmos, que acabamos relaxando e tentando voltar a uma vida normal que ainda não existe. Ainda precisamos de muita conscientização e esse caminho é longo, isso em todo o mundo, não só aqui. Porém acho injusto deixarem tudo aberto e fecharem o local que já está sendo comprovado como o menor risco de transmissão, que são as escolas”.

Psicóloga analisa inseguranças dos professores:
“2020 vai deixar sequelas”

Dias antes do retorno presencial, cerca de 200 gestores e coordenadores da rede municipal passaram por um curso através da Escola do Legislativo, na Câmara de Vereadores. A psicóloga responsável, Josiane Hoepers, da Associação de Proteção, Acolhimento e Inclusão Social (PAIS) de Balneário Camboriú conversou com o Página 3 e falou sobre as inseguranças que os professores têm nesse momento, e analisa que o ensino online veio para ficar – algo que já vem sendo debatido por profissionais desde 2020.

Josiane ministrou curso de Inteligência Emocional para gestores e coordenadores da rede municipal (foto Divulgação)

Josiane Hoepers

Psicóloga do PAIS

“Discutimos com os gestores e coordenadores os anseios que ele têm, como o temor pela contaminação e de levar o vírus para dentro de suas casas, a questão de como as crianças estariam voltando, a defasagem no aprendizado e desenvolvimento, como seria recebê-las, a apreensão com as cobranças que os pais podem fazer. É complicado essa situação de precisar correr atrás do tempo ‘perdido’, é tudo muito atípico e não tinha como ter uma visão antecipada de como seria tudo. É muito importante que os professores sejam vacinados o quanto antes, já que estão na linha de frente. A questão da saúde mental deles também é muito importante, Balneário tem os Abraços, como Abraço ao Servidor, Abraço à Vida, Abraço à Mulher, que está disponível para atender a todos. Os medos são reais e precisam ser debatidos. Houve muita discussão sobre a importância do retorno, e já se sabe que 2020 vai deixar sequelas, não dá para saber como as crianças se desenvolveram, principalmente as que estavam na fase da alfabetização, a questão do desfralde também, são etapas em que pode ter acontecido regressão. Retornamos com a preocupação de que não podemos ficar muito tempo isolados, no PAIS percebemos um crescimento de casos de violência, e agora com o retorno das escolas isso tende a aparecer mais, já que é na escola onde as crianças costumam relatar o que acontece em casa. Os professores também se cobram muito, e o trabalho precisa ser uma corrente, com o apoio essencial de entidades também como o NAHC (Núcleo Assistencial Humberto de Campos) e o Conselho Tutelar também. Com os Abraços, que também atendem crianças e adolescentes, também temos parceria, eles nos encaminham as crianças, adolescentes e seus pais, pois fazemos um atendimento sistêmico. Em 2020 fizemos mais de 18 mil atendimentos, todos online. Retomamos neste ano o programa Papo Reto, que é nas escolas estaduais [Higino Pio, Ruizélio Cabral e Francisca Alves Gevaerd], oferecendo suporte psicológico para os adolescentes do Ensino Médio, pois os casos de ansiedade e depressão aumentaram, com muitos atendimentos por conta do isolamento social. Temos que respeitar quem quer fazer o presencial, mas vejo que o ensino online veio para ficar. Sabe-se que para as crianças é um pouco mais complicado, precisaria criar outras ferramentas para elas também serem incluídas. É tudo muito novo, e o novo causa estranheza. O vírus trouxe muitos medos e precisamos tratar eles. Cada dia é um dia e precisamos continuar nos cuidando, a volta às aulas já foi uma grande conquista”.

Professores e gestores opinam

“Confesso que meu coração está apertado”

Carla Cravo

Há 28 anos professora da rede municipal de Balneário Camboriú

Carla (foto Arquivo Pessoal)

“Acredito que meu sentimento em relação à Covid-19 não seja diferente da maioria dos profissionais da educação. Há um mix de sentimentos que nos atordoam diariamente. Porque sabemos muito pouco sobre o vírus, mas o que sabemos, já é o bastante para nos preocuparmos. Nosso esforço é diário para atendermos o protocolo estudado para o retorno às aulas. Na educação infantil o desafio é bem maior que no ensino fundamental, e olha que o maior problema não é o uso da máscara, mas sim manter o distanciamento entre eles. Um dos questionamentos que ouvi de uma aluna de quatro anos, nesta semana foi “A profe não vai deixar eu brincar perto da minha amiga?”. Segui conversando sobre os combinados da sala e os cuidados com o vírus, mas pelo seu olhar tristonho não consegui convencê-la. Hoje mesmo fui surpreendida com um beijo mega carinhoso no rosto e um abraço pra lá de apertado de criança no final da manhã. E me perguntei: como não corresponder à tamanha espontaneidade de carinho desta criança, que me conheceu há poucos dias? Confesso que meu coração está apertado, amedrontado pelo desconhecido, incomodado com a forma que algumas pessoas estão lidando com a pandemia. Se pudesse escolher, não voltaria a trabalhar presencialmente até tomar a vacina. Sonho com a notícia cuja manchete seja Vacina para todos” em curto período de tempo”.

“Vejo o retorno como algo positivo”

Fernanda Regina e seus alunos no NEI Iate Clube  (foto Arquivo Pessoal)

Fernanda Regina Milani Schappo Macedo

Professora do NEI Iate Clube

“2020 foi um ano bem complicado, existiam muitas inseguranças em relação a tudo o que estava acontecendo. Porém, logo no início a Secretaria de Educação já se organizou com as plataformas para o ensino fundamental e também para a educação infantil, nós do infantil tivemos manutenção de vínculos por grupo de WhatsApp, que foi bem tranquilo. Não vi dificuldade em me adaptar ao online, porém, senti muito a falta do convívio e tenho certeza de que as crianças também sentiram. Sobre o retorno do presencial, no início fiquei bem apreensiva, tinha medo de os protocolos não darem certo e o contágio ser maior. Até mesmo para meu filho que já vai na escola, fiquei pensativa se ia mandá-lo ou não. Porém, neste momento, em que já estamos há uma semana com crianças estou muito tranquila e em paz. Não posso falar de todas as realidades, mas em meu Núcleo tudo está muito organizado, não faltaram EPIs para que se cumpram os protocolos do Plancon, as entradas e saídas das crianças estão bem organizadas e as famílias estão cooperando bastante. Hoje vejo o retorno como algo positivo, as crianças estão felizes em estar na escola. Para os maiores, como, por exemplo, meu filho de 7 anos, o relato dele é que está sendo maravilhoso poder conversar novamente com seus amigos. Sinto-me segura e tranquila no NEI. Quanto aos pequenos, para eles ainda é muito difícil compreender o distanciamento, porém, como estamos com poucas crianças em sala está fácil de organizar a rotina com propostas com distanciamento, assim não há a necessidade de ficar cobrando e falando o tempo todo sobre isso com eles. Sobre o uso de máscaras, estamos respeitando a vontade deles, não estamos cobrando e nem forçando que eles usem, até porque existe uma lei que ampara que crianças menores não precisam usar. Nossa prioridade têm sido o bem estar deles. Penso que temos que ser prudentes e responsáveis, se as autoridades competentes entenderem que é necessário fechar novamente as escolas, então aceitaremos a decisão. Em nosso cenário atual é melhor prevenir do que remediar, levando em consideração que nosso município atende a saúde dos municípios vizinhos, toda a atenção e cuidado são necessários. Todos temos que ser pacientes, solidários e compreensivos. Empatia nunca foi tão necessária, quanto agora”.

“A rotina não é mais a mesma, não somos mais os mesmos”

Fernanda Guedes e sua turma no CEM Iate Clube (foto Arquivo Pessoal)

Fernanda Guedes

Professora do CEM Iate Clube

“2020 foi o ano da mudança, novos hábitos, intenso trabalho e preocupações; foi um misto de emoções, o ‘se reinventar’ não foi algo tão fácil, as mudanças nos mostraram possibilidades de caminhos e forças que não imaginávamos ter. Tivemos que nos moldar ao novo da noite para o dia, minha maior preocupação sempre foi como tocar o coração daquela criança do outro lado da tela, ou tocar aquele que não tem a tela. Terminei o ano ainda mais grata à vida, à família e ao trabalho, e acima de tudo, feliz por viver, ser e sentir quem eu sou. O retorno às aulas presenciais nos causou medo, como em qualquer linha de frente; foi uma sensação inexplicável, o uso da máscara e equipamentos de segurança, nos causando desconforto e até mesmo dores e falta de ar. A rotina não é mais a mesma, não somos mais os mesmos. Aos poucos o medo vai dando lugar para a esperança, esperança por dias melhores, toda a comunidade envolvida tem consciência de que tem muita coisa para mudar, muitas decisões já tomadas precisam ser revistas, pois a teoria é uma, a prática é nossa! O CEM Iate Clube está fazendo o possível para seguir todos os protocolos sanitários, toda a comunidade escolar está engajada para que tudo aconteça da forma mais segura possível, a gestão, na pessoa da dona Ruth Batschauer, sempre nos tranquilizando, nos passando segurança, e o mais importante: nos ouvindo e repassando as nossas petições e angústias para a Secretaria de Educação. Estamos todos lutando pela mesma causa, em tempos como este percebemos que o se colocar no lugar do outro tornou-se imprescindível. A pandemia nos moldou de uma forma diferente, percebemos isso nas crianças também. Ao fazer uma dinâmica de acolhimento, pude perceber nos olhos de cada criança que existe esperança. Em forma de dinâmica, tentei transmitir que mesmo em meio a uma pandemia podemos brilhar, podemos fazer a diferença como aluno, como filho, como ser humano, como amigo. Basta querer, e isso vem de dentro de nós. Hoje estamos lutando na linha de frente, levantando a bandeira que a educação é serviço essencial, mas ver o descaso de algumas pessoas é lamentável, se deparar diariamente com a falta de conscientização traz uma sensação de desamparo, que estamos lutando sozinhos. Enquanto colocamos a nossa vida em risco pela educação, pelo futuro da nossa nação, alguns colocam a nossa vida em risco pelo simples prazer da ‘curtição’, pelo prazer momentâneo”.

“Não estamos preparados para enfrentar a sala de aula sem a vacina”

EEB Professora Maria da Glória (foto 17 CRE)

Daniela Chilomer

Professora de Inglês na Escola de Educação Básica Professora Maria da Glória Pereira

Daniela (foto Arquivo pessoal)

“O ano letivo de 2020 foi de muitas dificuldades e adaptações. As ferramentas do Google Classroom são várias mas, confesso que tive muitas dificuldades para aprender, talvez aprendi umas duas ou três, de modo que tentei me adaptar e utilizar nas aulas remotas. Tanto para mim, quanto para os alunos foi muito difícil se adaptar nessa mudança tão radical no processo de ensino/aprendizagem. Em sala de aula hoje ouvi muitos relatos dos alunos que afirmaram não aprender com o ensino remoto, e, por essa razão, optaram pelas aulas presenciais. A princípio, comparando as aulas remotas com as presenciais, eu fui a favor do retorno, pois sempre tive consciência de que o processo de aprendizagem acontece mediante professor/aluno. Então, nesse contexto, preferia voltar para as aulas presenciais. Mas, por outro lado, vivenciando esse retorno, vejo uma situação bem diferente, pois não estamos preparados para enfrentar a sala de aula sem a vacina. Muitos de nossos alunos já contraíram o Covid, e isso assusta, pois demonstra que nem todos tomam os devidos cuidados e preocupação. O cenário escolar apresenta os cuidados, as exigências, as cobranças do protocolo e regramentos, mas no dia a dia, percebe-se falhas, pois atualmente o quadro funcional está bem deficitário, em função da ausência dos demais professores e funcionários, devido a questões de saúde e comorbidades. Vejo nestes dias de aula presencial que por mais que sigam todo o protocolo, a escola necessita de mais cuidados e atenção. Neste momento não me sinto segura, pois sei dos riscos que corremos no ambiente escolar. Apesar do número reduzido de alunos, nem todos se cuidam como deveriam, o uso de máscaras corretamente e principalmente o distanciamento na hora do recreio e entrada e saída da escola. Hoje [quarta-feira, 24] em uma das turmas comentava sobre a questão desse retorno tão estranho e frio e os alunos concordaram comigo. Não estamos felizes, e esse lado emocional interfere muito no espaço escolar, pois antes era um ambiente feliz, sorridente, de barulho e alunos circulando. Tanto para nós professores e alunos, existe um descontentamento do que se imaginava encontrar na escola e não está sendo bem assim. Observando o cenário, acredito que não estávamos preparados e pode acontecer de aumentar os casos e com isso o fechamento das escolas”.

“Percebemos que as crianças lidam melhor do que os adultos”

Cássia, gestora do NEI Iate Clube (foto Arquivo Pessoal)

Cássia Andrea Rosa

Gestora do NEI Iate Clube

“Durante o ano apostamos na manutenção dos vínculos com as famílias, através de brincadeiras, vídeos. Os pais participavam de grupos pelo WhatsApp conosco. Para os professores foi um momento de adaptação com tecnologia, foi interessant para o crescimento, mas cansativo também. A maioria das famílias aceitou a volta, estão apostando nesse retorno porque as crianças estavam sentindo falta, é cansativo ficar só em casa, assistindo TV, no celular. Trabalhamos com crianças de 0 a três anos, tentamos colocar a máscara às vezes, mas não é obrigatório; apesar de ser legal eles irem se acostumando. Na realidade, percebemos que as crianças lidam melhor do que os adultos. O uso do parquinho está sendo escalonado, duas turmas usam por período e aí sanitizamos. Temos um espaço bacana no NEI, cada sala tem uma porta lateral para um espaço aberto, as crianças levam seus brinquedos, estamos apostando em brincadeiras com água, bolha de sabão, e na acolhida, adaptação, porque algumas crianças estão chorando ainda, por todo o tempo que ficaram com a família em casa. Dividimos as turmas, são cerca de 24 por turma, 12 de manhã e 12 à tarde, mas nem todos estão frequentando. Estamos cobrando, seguindo as regras, se a escola não cobra os pais percebem, procuramos manter o Plancon, e ao longo do tempo vamos nos adequando cada vez mais. Fiz uma pesquisa nesta semana com meus professores e poucos apresentam inseguranças, eles se sentem seguros com a forma do trabalho, já que estamos com menos crianças também, isso somou bastante para a qualidade do trabalho. Os pais se sentem bastante seguros também, aparentam estar muito satisfeitos, pois veem que as crianças precisam ter contato e estar no NEI. Torcemos para que as escolas não fechem novamente, seria um retrocesso. Estamos na torcida para que isso não aconteça”.

“Com menos alunos em sala tem sido até mais fácil o aprendizado”

Saly Amaral

Gestora do CEM Ariribá

Saly, gestora do CEM Ariribá (foto Divulgação/Arquivo pessoal)

“2020 foi atípico, a pausa que era por 10 dias inicialmente passou para 30 e a partir dali fazíamos um plano de retorno a cada 30 dias. Ninguém imaginou que a pandemia iria durar tanto tempo. Balneário saiu na frente, porque já possuíamos a plataforma do Google e em uma semana os alunos começaram a ter aula online, ainda em março. Inicialmente o conteúdo que as crianças recebiam era de adaptação, porque esperávamos voltar, mas com o tempo percebemos que o retorno não ia acontecer tão rapidamente e começamos a trabalhar as atividades do ano letivo. Os alunos sentiram dificuldade, a plataforma era nova, os pais e professores não entendiam como proceder, foi um aprendizado para todo mundo. Os pais que não tinham internet tiravam as atividades impressas semanalmente. O aprendizado foi bem afetado, mas desde 4 de janeiro a Secretaria de Educação voltou-se para o trabalho com nós gestores, nos preparando para o retorno presencial. Até dia 12 de março iremos analisar como está sendo, após isso irá iniciar a retomada dos conteúdos, trabalhamos isso desde o ano passado. Cada escola vive uma realidade diferente, mas estão confiando em nós. No Ariribá estamos com 800 alunos presenciais [o total é de 1.100, há 100 no online e 200 que ainda não retornaram nenhuma forma – os pais precisam assinar um ‘termo de responsabilidade’, que serve de controle para as escolas], e percebemos que eles estão dando ‘um banho’ de responsabilidade, respeitam o distanciamento, usam máscara, não tem contato, o lanche é espaçado. A escola está sendo para aprendizagem mesmo. Os professores estão muito preocupados com a aprendizagem e rendimento, com menos alunos em sala tem sido até mais fácil o aprendizado. Na nossa unidade optamos que os alunos do presencial [o ensino é híbrido, uma semana na escola e outra em casa, com divisão das turmas] vão levar as atividades impressas para casa, e depois retornam para tirar as dúvidas com o professor. Todos os alunos com dois ou mais sintomas de Covid são isolados, são atendidos pelas unidades de saúde e se estiverem aptos retornam [com apresentação de atestado], já entre os professores houve casos de positivados, mas que já estavam antes do retorno presencial. Nós gestores fomos preparados pela Secretaria para nos sentirmos seguros com esse retorno, acolhemos nossa equipe, deixando claro que eles não estão sozinhos e que estão tomando todas as precauções possíveis, porque o presencial é a melhor opção. Acredito que as atividades presenciais não vão parar, a educação é um serviço essencial e direito de todos. A pandemia continua sim, mas há maneiras de seguirmos e estamos nos prevenindo, utilizando máscara, mantendo o distanciamento, com higienização e adequação a esse novo normal. A educação é fonte de emprego de muitas pessoas, se paralisa uma gama de funcionários, como serviços gerais e alimentação, não tem como trabalhar, já que não podem estar no online, e os pais também dependem de nós”.


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