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VARGAS VILA

Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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Na minha casa de Piçarras deparei com alguns livros
de Vargas Vila (1860/1933), escritor que foi dos mais lidos no Brasil na
segunda metade do Século XX. Suas obras eram publicadas pela extinta
Editora Prometeu, de São Paulo, em papel grosso e amarelado, com
sobrecapas berrantes e coloridas. Foi um escritor incansável, exercitando
quase todos os gêneros e produziu uma obra imensa. Embora autodidata,
foi jornalista, professor, político e diplomata, além de orador de grandes
dotes. Viveu em vários países mas não se deu bem em alguns deles.
Espírito inquieto e revolucionário, segundo seus
biógrafos, aos 16 anos já participava de uma revolução na Colômbia, seu
país natal. Derrotado, foi forçado a se refugiar no remoto interior. Mais
tarde residiu na Venezuela, na Espanha e nos Estados Unidos. Teve que se
exilar para não ser preso e parece que foi expulso de Nova York por ter
escrito que os ianques são os maiores inimigos dos latino-americanos, o
que constitui inegável verdade. Passou longas temporadas em Paris e
Madri, fixando-se depois em Barcelona, onde viria a falecer, vítima de
breve enfermidade. No Vaticano, onde ocupou um cargo diplomático,
recusou-se a ajoelhar aos pés do Papa Leão XIII, alegando que nenhum
homem deve jamais se ajoelhar diante de outro. Foi considerado persona
non grata e teve que buscar outros ares. Com o passar do tempo foi
aprimorando o pensamento revolucionário chegando a beirar o
anarquismo científico, como ele próprio admitia. Intérpretes de sua obra
aproximam seu pensamento ao existencialismo de Kirkegaard.
Anticatólico e anticlerical ao extremo, professava um ateísmo explícito que
conflitava com o Divino e isso tudo se revela de forma clara nas suas obras.
Em 1900 foi excomungado pela Santa Sé em virtude da publicação do
romance “Ibis”. A impressão que fica é de que não deu a mínima
importância.

Envolvido em quanta “revolução” eclodia na Latino

América, num período histórico em que golpes militares e
“pronunciamentos” se sucediam, Vila lutava e escrevia como um
desesperado. Seus panfletos políticos repercutiam, os ensaios eram
debatidos e os romances tinham grande aceitação, inclusive no Brasil. Os
romances chegavam a numerosas edições. Não obstante, hoje está
completamente esquecido.

Editou várias revistas literárias, sempre com boa
aceitação, A relação de suas obras é impressionante; creio que ultrapassam
as duzentas. No Brasil muitas foram editadas, quase sempre em tradução de
Galvão de Queiroz, tradutor que verteu incontáveis livros para o português.
Segundo a editora, foram publicadas entre nós:

“Ibis”
“Flor do Lodo”
“Lírio Branco”
“Lírio Vermelho”
“Lírio Negro”
“A Loucura de Job”
“A Semente”
“O Caminho do Triunfo”
“A Conquista de Bizâncio”
“Aurora Rubra”
“O Rosal Pensante”
“Os Farias”
“Salomé”
“Aura, ou As Violetas”
“O Minotauro”
Diversas delas mereceram mais de uma edição
brasileira. Embora “Ibis” seja o mais famoso entre os romances, “A
Conquista de Bizâncio” me impressionou mais.

Em Nova York, Vila conviveu com o poeta e
revolucionário cubano José Marti, homem de vasta cultura, de quem se
tornou grande amigo. Tudo indica que foi uma relação benéfica no sentido
cultural.

A vida e a obra de Vargas Vila são de uma riqueza
existencial espantosa. Nelas a realidade e a ficção se envolvem de tal forma
que é difícil separá-las.

To be continued, como dizem os americanos.

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