A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla (21 a 28 de agosto) tem como tema “Conectar e somar para construir inclusão”, proposto pela APAE Brasil. O tema foi escolhido para ampliar debates sobre o avanço da tecnologia e as formas que ela pode promover maior inclusão para as pessoas com deficiência.
A tecnologia consegue alcançar este público de maneira significativa, através da linguagem, das ações, do conhecimento e de formas mais fáceis de comunicação com a sociedade de um modo geral.
Nesta Semana Nacional, a reportagem do Página 3 perguntou a profissionais e responsáveis por instituições que atendem pessoas com deficiência sobre o tema deste ano.
“De que forma a tecnologia nesta era da informação está conectando, ajudando e melhorando na busca de políticas públicas e na inclusão que ainda é uma barreira a ser vencida”?
“A tecnologia contempla todos os nossos educandos”
Sandra Mara Luchtenberg, diretora e Margid Buckstegge, presidente da Apae/Balneário Camboriú
“A tecnologia contempla todos os nossos educandos, a era da TI chegou nas APAEs também. Através da era digital, redes sociais, lives, sites, aplicativos e toda conexão que temos à disposição, a APAE, as pessoas com deficiências e suas famílias, conseguem ter mais conhecimentos e entendimentos sobre seus direitos e deveres, interagindo e se aproximando da sociedade.
Este tema visa mostrar à população, que a comunicação digital é uma ferramenta capaz de ampliar horizontes e perspectivas, consequentemente, uma união de esforços em torno de uma corrente para construção da tão sonhada inclusão em todos os sentidos, políticas públicas, respeito, mostrando o quanto a inclusão é importante para o desenvolvimento do nosso país, afinal, a sociedade é de todos e para todos”.
“A tecnologia ajuda a divulgar para um público maior”
Sandra Severino e Giovana Reig, supervisoras técnicas da Amor pra Down
“A tecnologia nos ajuda a divulgar mais rápido e para um público maior as informações sobre cuidados e oportunidades para as famílias e pessoas com síndrome de Down, além de seus direitos, principalmente pelas redes sociais.
Ao mesmo tempo possibilita os profissionais a se atualizarem e melhorarem sua atuação profissional, o que resulta em melhoria na saúde e na inclusão social. Outra forma é pelo uso de equipamentos tecnológicos nas terapias”.
“O avanço da tecnologia dá autonomia, segurança e reduz as desigualdades”
Marcelo Achutti, secretário da Educação (assessorado pelo Departamento de Educação Especial)
“A sociedade brasileira ainda não se deu conta da importância da necessidade de capacitação para a inclusão de pessoas com deficiência, seja na educação, no mercado de trabalho, na acessibilidade entre outras questões, que impedem e dificultam o reconhecimento de efetivo pertencimento dessas pessoas onde elas queiram estar.
Diga-se que, por vezes, ainda são vistas como um problema e tal conclusão deve-se à ausência de políticas públicas direcionadas a esse público.
Tal assertiva é notória na medida em que os usos de ferramentas tecnológicas já estão à disposição e acessíveis às pessoas que não apresentam dificuldades em manejá-las. Reconhecendo-se ainda as dificuldades para as classes menos favorecidas.
É visto que nos últimos anos esse tema está na agenda da sociedade organizada e em alguma medida os poderes constituídos estão se mobilizando vez que assim a legislação exige no sentido de que essas pessoas tenham as mesmas oportunidades e condições, como também qualidade de vida que a de todos os outros.
O avanço da tecnologia e o seu uso permite o desenvolvimento das pessoas com deficiência dando-lhes autonomia, segurança em qualquer ambiente e reduz as desigualdades entre as pessoas que enfrentam essa situação.
A proposta do município de Balneário Camboriú para as unidades escolares é desenvolver mecanismos tecnológicos, que necessariamente não precisam estar associados ao uso de computadores, tabletes, mas à utilização de metodologias ativas e processos dinâmicos de ensino-aprendizagem.
Temos 14 polos com salas multifuncionais em nossa rede, que possuem recursos diversos para atender estratégias de desenvolvimento do Plano de Desenvolvimento Individual de cada criança/adolescente com deficiência, adequando-se as especificidades de cada um.
Atualmente diversos alunos são atendidos no Polo de Atendimento Educacional com aptidão em Altas Habilidades/Superdotação e alunos com indicativo de AH/SD, que se encontram na fase exploratória. Todos são atendidos por professores de AEE que seguem a teoria de Joseph Renzulli, proposta pelo MEC, considerado referência na atualidade, tanto nos instrumentos e processos de identificação das características quanto em indicadores de Altas Habilidades/Superdotação, além do atendimento educacional proposto.
Os alunos identificados em suas áreas de interesse participam das oficinas que são organizadas pelos professores de diversas áreas. O polo oferece oficinas de artes, música, robótica, entre outras que estão em fase de implantação. Ambas adotam a metodologia de projetos, colocando em prática os princípios da Educação Mediada – Histórico Cultural validada pela nova Proposta Curricular de Balneário Camboriú, postulada por Vigotsky.
Visando estabelecer diretrizes e procedimentos para um efetivo atendimento educacional especializado da Educação Especial, na rede Municipal de Ensino, por meio dos Polos de Altas Habilidades/Superdotação e Polo de Educação Bilíngue (surdos) também é ofertado atendimento educacional especializado em salas de recursos multifuncionais, possibilitando ao aluno, além de frequentar as aulas nas turmas regulares, possa se atendido no contraturno.
Os materiais pedagógicos apoiam o aluno com deficiência para que tenha acesso ao conteúdo curricular. Assim, o aluno com problemas de visão pode usar uma lupa eletrônica para ampliar o tamanho da letra no computador ou jogar uma partida de dominó com textura, que permite identificar as peças pelo tato, além de aprender a escrever em braille com materiais específicos.
Já o aluno surdo pode assistir a histórias na língua de sinais e um com problemas motores, tem acesso a teclado de computador especial.
Repita-se, os espaços disponíveis em nossa rede têm condições de atender da melhor maneira possível, com qualidade, os alunos portadores de deficiência, bem como para aqueles com altas habilidades/superdotação, matriculados nas classes comuns do ensino regular. Esclarecemos que estamos constantemente atentos às normas editadas pelo MEC adequando-as à nossa realidade”.
“O uso da tecnologia é um aliado para incluir as pessoas com deficiência na sociedade”
Indira Radke, advogada e Valdeci Matias, coordenador da Afadefi
“A tecnologia vem revolucionando as relações humanas em todos os segmentos. No que tange à inclusão de pessoas com deficiência, se observa que há, da mesma forma, importante papel sendo desempenhado.
O uso da tecnologia é um aliado para incluir as pessoas com deficiência na sociedade de maneira plena e eficaz. A gama de recursos tecnológicos existente pode aprimorar, por exemplo, a forma como as pessoas com deficiência se comunicam, permitindo uma comunicação digital mais eficaz e inclusiva.
A educação também é revolucionada por meio da tecnologia, já que mecanismos de ensino podem ser adaptados e personalizados para a necessidade e tipo de deficiência do aluno, seja ele remoto ou presencial.
As pessoas com deficiência física, público atendido pela Afadefi, também podem se beneficiar da tecnologia que visa o aprimoramento dos recursos médicos e fisioterápicos utilizados para melhorar a qualidade de vida e a mobilidade desses pacientes, por meio, por exemplo, de dispositivos, próteses tecnológicas, cadeiras motorizadas e outros recursos.
As parcerias público-privadas e com o terceiro setor, são importantes nesse processo de aprimoramento das políticas públicas para a pessoa com deficiência, pois oportunizam a participação efetiva de toda a sociedade na criação de recursos inclusivos”.
“A tecnologia é importante na busca de equipamentos adaptados a esse público”
Gevelyn Almeida, diretora técnica do ICED/BC
“A tecnologia é extremamente importante para a pessoa com deficiência na busca de equipamentos devidamente adaptados a esse público para melhora da autonomia, qualidade de vida para atividades de vida diária ou mesmo a prática esportiva e inclusão proporcionando tecnologia assistiva diretamente relacionada a especificidade do que se necessita.
Para nós pessoas com deficiência, o acesso a essas tecnologias auxiliam grandemente processos inclusivos onde diretamente pode estar relacionado a políticas públicas e inclusão, mas a barreira principal a ser vencida é a informação sobre tais tecnologias, equipamentos e também o acesso às entidades a formas de financiamento e apoio por parte do setor público.
O acesso a equipamentos tecnológicos específicos é oneroso para o público com deficiência e as entidades buscam sempre em parcerias seja público privadas o suporte para a aquisição de materiais e promover políticas públicas permanentes para que a inclusão aconteça de fato.
Porém acreditamos que a principal barreira é a falta de entendimento acerca da especificidade do público com deficiência, de legislações pertinentes a efetividade na prática e a falta de diálogo entre poder público e sociedade civil organizada ou seja as entidades ou pessoas com deficiência que tem vivência e que pode auxiliar com canais de diálogo a quebra de tantas barreiras impostas que precisam ser superadas, trabalhar questões inerentes à deficiência com mais alteridade”.
“A tecnologia vem para aprimorar os atendimentos educacionais e clínicos”
Cátia Franzoi, diretora da AMA Litoral
“Estamos vivendo em um mundo globalizado, a qual a tecnologia vem sendo de grande importância em todo o processo de conhecimento e acesso à informações, além de ser algo facilitador em todo o processo de ensino e aprendizagem.
Com isso, a AMA Litoral por trabalhar diretamente com pessoas com Transtorno do Espectro Autista, busca sempre novas formas de inovar, inventar e reinventar indo ao encontro das necessidades, dificuldades bem como as potencialidades de cada um, para que possamos fazer a diferença em todo o trabalho que vem sendo desenvolvido com os educandos/atendidos da instituição, contribuindo em todo o processo de inclusão, acessibilidade, qualidade de vida e bem estar de cada um.
Nesse sentido, a AMA Litoral SC unidade Balneário Camboriú SC e a filial unidade Itapema SC, busca investir na inclusão digital como forma de promover as educandos/atendidos a acessibilidade digital, auxiliando assim em todo o processo de aprendizagem, acesso ao conhecimento além de toda a parte de desenvolvimento cognitivo e social.
A tecnologia vem para aprimorar os atendimentos educacionais e clínicos realizados objetivando contribuir na inclusão social e digital, acesso ao conhecimento, bem como uma melhor qualidade de vida dos mesmos.
Não podemos esquecer, de que, a partir da tecnologia, podemos observar uma crescente de informação e de forma muita rápida e prática,muitas vezes na palma da mão ,o que faz com que a sociedade tenha acesso precocemente a todas as informações.
Mas ao falarmos em tecnologia precisamos entender que estamos falando de algo que vem a cada ano ganhando mais espaço dentro da sociedade, o que de certa forma causa uma certa preocupação, pois se não tiver um conhecimento prévio sobre o assunto a ser pesquisado, pode-se cair em buscas utópicas, gerando assim mais prejuízos e sérios danos.
Enfim a tecnologia veio com força total e essa ferramenta nos acrescenta muito, desde que seja usada com responsabilidade.
Quando falamos em política pública, devemos ter o entendimento de quais sites iremos realizar a busca e ter um prévio entendimento do que buscar e de como utilizar tais informações pesquisadas fazendo com que a pesquisa realizada sirva como um nortear facilitando caminhos com seriedade para o que é de seu direito”.