Balneário Camboriú foi reconhecida como a cidade mais empreendedora de Santa Catarina e a 4ª do Brasil, segundo um levantamento do Observatório de Negócios do Sebrae/SC. O município tem, segundo dados da Junta Comercial do Estado de Santa Catarina (JUCESC), mais de 49 mil empresas (CNPJs ativos). Porém, enfrenta também uma crise de falta de mão de obra, com mais de 700 vagas em aberto – estas disponíveis apenas no SIME e SINE (Sistemas Municipal e Nacional de Emprego, respectivamente), principalmente na área do varejo, turismo e serviços.
Praça do Empreendedor vem para auxiliar

Este ano já foram atendidas 3.283 pessoas na Praça do Empreendedor de Balneário Camboriú (localizada na Casa dos Conselhos – Rua 1822, nº 1510, no Centro), sendo 1.315 em janeiro, 1.041 em fevereiro e 927 em março.
O número de serviços prestados, entretanto, é ainda maior, visto que cada pessoa acaba acessando mais de um serviço por vez.
A Praça do Empreendedor facilita a abertura de empresas, orienta empreendedores e auxilia trabalhadores na busca por emprego. Antes conhecida como Sala do Empreendedor, a Praça amplia sua atuação, atendendo tanto empresários quanto aqueles que buscam inserção no mercado de trabalho por meio do Sistema Municipal de Emprego (Sime), além de ter parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Falta de capacitação

O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Balneário Camboriú, Nelson Oliveira, salienta que o número de atendimentos é positivo, mas reconhece que a falta da efetivação de empregos, se mostra como um grande desafio da cidade.
O elevado número de vagas não preenchidas tem um responsável: a falta de qualificação da mão de obra.
“Acredito que as pessoas querem trabalhar, mas na vida é um dia de cada vez – há o desafio do desenvolvimento humano para trabalhar, pois depende de capacitação, não é automático [saber trabalhar em determinadas áreas]. O patrão se depara com o desconhecimento e rejeita naturalmente. Por isso, no nosso entendimento, há falta de capacitação, e isso coloca barreiras para quem quer trabalhar. O empreendedor quer contratar, mas não tem tempo de qualificar, de ensinar. A nossa economia é baseada no serviço, no pequeno empreendedor, e isso leva a outra estrutura – diferente do padrão da indústria, que tem como dar treinamento, os menores querem contratar e começar a produzir hoje”, diz.
Romper barreiras
Por isso, na visão de Nelson, para ‘romper a barreira’, é necessário trabalhar a capacitação e a prefeitura da cidade pretende fazer isso ‘de forma muito forte’, com o compromisso de ampliar a parceria com o Sebrae.
Porém, o secretário avalia que o fato de Balneário ser a principal cidade no segmento empreendedor do Estado mostra que o sonho da maioria das pessoas é justamente ser o empreendedor.
“Mas repito: é um dia de cada vez. Estamos, sim, em uma cidade muito dinâmica, com soluções diversas, mas requer capacitação. Precisamos nos preparar para ser ‘o empreendedor’, exige plano de negócios, por exemplo. Tanto que você olha e vê que em uma rua tem o mesmo negócio em diferentes estabelecimentos, todos viram concorrentes e ninguém ganha. Se você faz plano de negócio, a chance de ter sucesso é muito maior. Eu acredito que estamos, sim, na melhor cidade de todas,, eu comecei a vida aqui com 21 anos, trabalhando no camelódromo, mas como em qualquer lugar, há desafios e você precisa se qualificar para avançar”, opina.
Balneário Camboriú atrai muitos empreendedores

O secretário aproveita para opinar também sobre o alto valor de aluguel das salas comerciais (em uma rápida pesquisa online é possível encontrar espaços, no Centro, que ultrapassam os R$ 20 mil/mês) e que por isso é realmente necessário se preparar para empreender.
“Você precisa colocar tudo na ponta do lápis para não se frustrar. Vai ter desafio, mas a qualificação aumenta a chance de ter um serviço mais qualificado para atender a demanda do mercado. Acredito que esse título de cidade mais empreendedora de SC é legítimo e se dá em função da diversidade cultural, algo que enriquece qualquer pauta e torna o ambiente muito mais dinâmico e produtivo. Muita gente quer vir para Balneário, sonha em se mudar e empreender na cidade. O governo busca motivar e nortear para qualificar, mas vale lembrar que há a dinâmica de livre mercado e a prefeitura não pode interferir (nos alugueis caros). Nem temos ferramentas para interferir nisso, por isso a pessoa precisa se preparar, inclusive para isso”, completa.
Mais de 49 mil empresas – 43 mil são MEIs e ME

O presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais de Balneário Camboriú e Camboriú (AMPE-BC), Antônio Demos, disse que hoje a entidade tem 286 associados, mas que o número de empresas na cidade, segundo dados da JUCESC, é de 49.333 (número de CNPJs ativos), sendo que o número de MEIs e ME é 43.000 (22 mil MEIs e 21 mil MEs).
“Com isso podemos ver que as pessoas têm mais interesse em empreender, pela autonomia, e havendo mercado, utilizando de criatividade, acabam empreendendo e não optando pelo vínculo trabalhista, esta é uma tendência, considerando que o setor produtivo está aquecido e em Balneário isso é maior ainda, porque tem série de atrativos – se for competente o suficiente e proposta de negócio bem estruturada, acaba tendo probabilidade de sucesso bem maior”, diz.
Questionado sobre a situação dos alugueis caros, Demos concorda e aponta que está dentro do segmento empresarial há 30 anos e como liderança empresarial há 15, mas vê que há muitos empresários que conseguem trabalhar de casa ou em salas diferentes (como nos escritórios compartilhados, os coworkers).
“Vejo que temos que migrar urgentemente para desenvolver negócios de alto valor agregado. Nada contra atividades sem muito valor agregado, mas se for desenvolver uma empresa de software ou fundo de investimentos, por exemplo, requer menos e o aluguel não vai ficar caro. O comércio, hoje, está muito precário no sentido de não ter acordado para logística, tecnologia e novas tendências. Necessitamos desenvolver atividades em áreas mais estratégicas, como T.I., que pode atender o mundo todo e não somente quem está em Balneário”, comenta.
Nova matriz econômica é necessária
Demos salienta que uma nova matriz econômica mais moderna é necessária na cidade, mas vê que hoje não existe articulação empresarial e governamental para realizar isso e que existem apenas projetos isolados, a exemplo do parque tecnológico no Bairro Nova Esperança, que nunca saiu do papel.
“Tudo de forma desarticulada, o poder público puxou, mas sem entrosamento com entidades representativas não foi pra frente. Já comentei com a prefeita Juliana Pavan que esperamos que ela não cometa o mesmo erro, que um projeto de desenvolvimento para a cidade precisa ser articulado com entidades empresariais, para que seja projeto de cidade e não de um governo só. Quem melhor entende de economia são os empresários e agentes governamentais precisam entender isso”, explica.

O presidente da AMPE comenta que sempre foi defensor da criação de incubadoras, sendo de base tecnológica ou não, com espaço para que investidores possam estar financiando talentos que venham a desenvolver produtos de alto valor agregado, de ponta, ou novos negócios que agreguem valor – que ocupem nicho de mercado que não está sendo ocupado. Essas incubadoras podem abrigar startups, para que no momento que entrarem no mercado, cheguem com uma certeza maior.
Demos viu nascer o projeto Gene, de Blumenau, ainda nos anos 90, que hoje é uma incubadora para estudantes da Furb apresentarem e desenvolverem projetos.
“Há muitas ações isoladas que se perdem no caminho, por não terem recebido suporte necessário na concepção do negócio. Toda e qualquer ação é importante, mas focar na inovação, no desenvolvimento de novos negócios que contemplem talentos locais e de outras regiões é de extrema importância. A partir do projeto Gene, Blumenau se tornou polo de tecnologia. Floripa está estourando com isso, Joinville está no caminho e Balneário tem potencial. Discute-se há mais de 10 anos, mas não teve nenhuma ação concreta de fato. E aí foca-se somente em turismo e construção civil, que são pilares fundamentais, mas temos que aproveitar para desenvolver atividades de forma bem mais organizada”, acrescenta.
Reativar o fórum das entidades

A união de entidades de classe é, segundo Demos, algo que pode ajudar a fazer avançar os projetos de inovação em Balneário Camboriú, por isso ele propõe a retomada do Fórum das Entidades, algo que existiu na época da pandemia de Covid-19. Por isso, pretende conversar com lideranças de entidades como Sinduscon, Acibalc, CDL, Sindilojas, Sindicont e Sindisol.
“Grandes empresas terceirizam as pequenas. O nível de produtividade e qualidade é menor (nas menores) porque as grandes investem em treinamento, mas quando precisam do instalador de ar-condicionado, de piso etc, se deparam com diferença, por isso precisamos todos focar em tecnologia e qualidade. O problema de mão de obra já vem de longa data. Economia aquecida = falta de mão de obra qualificada. As entidades que respondem por essa atividade devem ter programas voltados à qualificação não só quando há necessidade. Hoje já há muitos cursos gratuitos, a exemplo do Jovem Aprendiz, tem formação e entidade por trás, mas é preciso ampliar a atuação das entidades que auxiliam nisso – como Senai, Senac e Sebrae, para ter uma agilidade maior, e as entidades podem e devem ajudar nisso”, completa o presidente