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CONTARDO CALLIGARIS: POSTURA DIANTE DA VIDA

Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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Psicanalista e escritor, o ítalo-brasileiro Contardo Calligaris se tornou conhecido pela brilhante coluna que assinava no jornal “Folha de S. Paulo” e que tinha numerosos leitores cativos. Dentre os vários livros que publicou, destaca-se “O Sentido da Vida”, lançado pela Editora Planeta (S. Paulo – 2023) e que vem sendo bastante lido e discutido. Nele estão reunidos alguns ensaios nos quais reflete a respeito da vida humana como quem deixa uma herança para orientação dos que ficam.

Logo de início ele levanta uma tese que contraria o pensamento generalizado das pessoas. Para a grande maioria dos seres humanos, a busca da felicidade é um objetivo, uma procura permanente. Para ele, no entanto, essa é uma preocupação desnecessária porque o que importa não é ser feliz mas viver uma vida interessante, observando-a com atenção para viver com intensidade todos os momentos. Nesse ponto ele concorda com Gilberto Amado quando afirmava que é indispensável prestar atenção na vida e saber ler suas mensagens. Quanto a uma vida interessante, isso me parece muito vago: aquilo que é interessante para um poderá não ser para outro. Além disso, abdicar do desejo de ser feliz pode tornar a vida muito vazia ou sem objetivo. 

Aborda em seguida outra questão grave: o valor da vida. Nos tempos modernos, creio que por influência do cristianismo, a vida é o valor maior, o bem supremo. A história, no entanto, revela que nem sempre foi assim. No pensamento grego e romano certos valores estavam acima da vida. O filósofo Sêneca, depois de ter sido tutor do imperador Nero, caiu em desgraça e ele determinou que se suicidasse. O filósofo obedeceu, não por Nero, mas porque ele, na qualidade de imperador, representava o império ou a república e estas instituições estavam acima da vida individual. Calligaris recorda o exemplo do próprio pai. Ele se juntou aos partisans que lutaram de armas na mão contra o fascismo, colocando em risco a própria vida e de seus familiares. E por que agiu assim? Porque a democracia constituía para ele um valor maior que a própria vida. Como Montesquieu, ele acreditava que só na democracia o ser humano pode viver com dignidade.

Fechando esse livro tão rico de ideias e sugestões, o autor chega ao cerne da questão e conclui: o sentido da vida é a própria vida concreta. A que vivemos e da qual também faz parte morrer.

Antes de falecer, o escritor Enéas Athanázio enviou ao Página 3 diversos artigos de sua autoria, que serão publicados semanalmente.
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