Neste final de semana o vereador Kaká Fernandes reclamou nas redes de uma placa colocada pelos artistas responsáveis pela revitalização do Beco do Brooklyn, que fica entre a Rua 1.100 e a Avenida Atlântica, por causa da frase ‘sejam todes bem-vindos’.
O vereador protestou e anunciou que a retirada foi feita pela organização, após um pedido dele para a presidente da Fundação Cultural, Denize Leite para que ela assim determinasse.
Só que a organização procurou o Página 3 para informar que isso não procede. A presidente da Fundação Cultural, Denize Leite, confirmou ao Página3 que a retirada foi feita pelos organizadores e não por ordem dela.
Desde julho…
A placa com termo ‘todes’ começou a ser discutida na tarde de sexta-feira (8), apesar de que ela estava no Beco desde a sua reinauguração, ocorrida em 24 de julho.
O termo faz parte da linguagem neutra, que visa trazer maior igualdade entre homens, mulheres e não-binários (pessoas que não se percebem como pertencentes a um gênero (masculino/feminino) exclusivamente).
“Não somos palco para isso”, disse um dos organizadores
Um dos idealizadores do movimento Open Street Gallery, o arquiteto e produtor cultural Murilo Trevizol, procurou o Página 3 na manhã desta segunda-feira (11) para explicar que a informação de Kaká Fernandes não procede. Ele (Murilo) optou por retirar a placa por conta própria ainda na sexta-feira (8), após ver que a situação estava causando burburinho.
“Estamos no início de uma fake news. Não somos palco para isso que aconteceu. O vereador parece nunca ter ido visitar o espaço, pois a placa estava lá desde a sua reinauguração, em julho. No momento em que me avisaram sobre os burburinhos, que poderiam expor principalmente os patrocinadores, quem realmente tem poder de solicitar algo a nós, eu decidi retirar a placa. O vereador propagou em seu vídeo como se pudesse decidir a remoção ou não da placa, e essa ordem não existiu!”, destaca.
Murilo acrescentou que a Fundação Cultural foi uma instituição apoiadora e não realizadora ou organizadora, portanto, não teriam autonomia para remover a placa.
“Tinha outra placa igual, que foi removida por vândalos. A Open é uma empresa com CNPJ que produz e presta seus serviços, que tem relações saudáveis com instituições de nível internacional, não é um palco para esse tipo de coisa, que nos coloca em situações desagradáveis como empresa e descaracteriza nosso trabalho”, diz.
Placa tinha objetivo de integrar os públicos
Murilo salienta que escreveu a placa com o objetivo de que todos que fossem ao Beco se sentissem bem-vindos, sem distinção alguma.
“Que todos se sentissem bem e incluídos, pois é um local aberto, de acesso à arte e cultura de maneira ampla e democrática. E também não existe nenhuma ilegalidade em usarmos o termo. Isso tudo não leva a lugar nenhum”, afirma, lembrando que os artistas passaram mais de 100 dias trabalhando no Beco, e que realizam visitas frequentes no local e seus arredores, que vêm sofrendo transformações positivas após a revitalização.
Foco é arte e não política
Segundo Murilo, havia a opção de deixar a placa, já que a situação gerou repercussão, mas que o foco da Open Street Gallery é o oposto disso.
O único contato que a Fundação fez com a organização foi no sentido de falar que estariam ocorrendo comentários sobre o uso do termo ‘todes’.
“Aí eu recebi um story de um portal com a enquete ‘todes x todos’, com imagem da nossa placa. Fiquei de orelha em pé e vi que poderia ter essa distorção e associação da questão política usando a nossa arte e história como palco para isso. Poucos, como o Página 3, prestigiam e dão espaço para o nosso projeto, onde a arte teve o poder, foi uma solução, para transformar um local que é palco de problemas sociais [diversos crimes já aconteceram no Beco, antes de ele ser revitalizado] em um atrativo turístico”, pontua.
Movimento de arte independente
A própria prefeitura, através de sua Comunicação, informou que o Beco do Brooklyn é considerado uma área privada [por ser formado por ‘paredes’ de prédios], tanto que a iniciativa de revitalizá-lo foi de artistas, através da Open Street Gallery.
“Nós não temos afiliações partidárias e a Open Street Gallery é um movimento de arte independente justamente por causa disto. Eu, como produtor cultural, sempre tento levar arte e cultura para a vida das pessoas com extrema dificuldade e aí usurpam a nossa validação e importância como movimento de arte atuante e original daqui. Continuaremos na busca por sermos valorizados e evidenciados só pelos nossos trabalhos mesmo”, completa.