A morte de um adolescente de 15 anos, na praia central de Balneário Camboriú no último dia 30, repercutiu nacionalmente, acendendo um alerta para os perigos que o mar oferece: junto da vítima estavam outros três adolescentes, que conseguiram se salvar.
A praia de Balneário, apesar de ser propícia para banho, exige cuidados pelos pontos de repuxo. O Capitão Rodrigo Schardong, do Corpo de Bombeiros da cidade, falou sobre o assunto com o Página 3. Confira.
Orientações e o perigo do mar
O Capitão salientou que uma grande preocupação que o órgão e os guarda-vidas possuem é a rotatividade de pessoas que Balneário atrai, principalmente porque boa parte delas não conhece as orientações e os perigos do mar.
“Por mais que os guarda-vidas orientem e que tenhamos material informativo disponibilizado gratuitamente online, não conseguimos atingir todo mundo. Por isso é muito importante que, quando a pessoa chegue na praia, converse com o guarda-vidas, saiba como está a condição do mar naquele dia”, explica, citando que os banhistas também devem respeitar e obedecer aos guarda-vidas quando estes pedem para saírem da água.
“Infelizmente há pessoas que ignoram, que não querem sair do mar, mas o guarda-vidas só apita quando há perigo”, acrescenta.
Bandeiras e repuxo
Schardong lembra que há diferença entre a bandeira que está no posto dos guarda-vidas para a que está na areia, perto da água. A do posto indica a qualidade do mar no dia – verde significa mar bom, amarela mar ruim e vermelha mar perigoso (é indicado evitar entrar na água).
“A bandeira que está na areia indica local perigoso e fica em frente do canal de retorno, o chamado repuxo. Em Balneário há pontos fixos de repuxo e outros que mudam, hoje pode estar e amanhã não. No Pontal Norte, por exemplo, há dias em que há muito repuxo”, diz.
‘Água no umbigo, sinal de perigo’
O bombeiro afirma que uma das maiores preocupações é com as crianças e adolescentes, já que muitos entram na água sem os pais e podem acabar se afogando.
“A pessoa percebe quando cai no repuxo, porque forma um buraco e o mar começa a puxar. Fica difícil caminhar e quando você nada contra, vai cada vez mais para o fundo. Uma dica é nadar lateralmente a praia, mas a principal é: água no umbigo, sinal de perigo. Não se pode brincar com o mar”, pontua.
Banho noturno e álcool: principais ‘vilões’
Apesar de rotineiro, o banho de mar noturno ou após a pessoa consumir álcool é uma das principais ‘dores de cabeça’ dos guarda-vidas.
“Infelizmente esses dois casos são muito comuns. Quando a pessoa ingere álcool ela sofre diminuição em sua capacidade física e na percepção do perigo, quando vê já não dá mais pé [no mar]. Há verões em que 30% das vítimas de afogamento estavam embriagadas. Por isso pedimos: se você bebeu, não entre na água”, explica.
O banho de mar noturno – como foi o caso do grupo de adolescentes onde o garoto que faleceu estava – é outra preocupação, já que os guarda-vidas só estão na praia das 8h às 20h.
“Além de que à noite você não consegue identificar o repuxo. Às vezes deixamos as bandeiras para auxiliar as pessoas a saberem que o mar está perigoso, mas infelizmente há situação de vandalismo, furtam as bandeiras, jogam elas na areia. E se você entra no mar à noite e alcoolizado duplica o perigo. Já aconteceu em Balneário de banhistas entrarem na água sem ninguém ver, se afogarem, e a família só perceber depois, com o corpo sendo localizado dois, três dias”, conta.
Falsa sensação de segurança
Schardong explica que Balneário não tem mar bravo ou de tombo, como é o caso da Praia Brava de Itajaí, mas que isso atrai uma ‘falsa sensação de segurança’, já que apesar do mar ser bom para banho, conta com as áreas de repuxo.
“Não é impossível acontecer algo ruim, há dias em que temos mais de 15 áreas de repuxo”, diz.
A cidade conta também com um Pelotão de Busca e Salvamento, que possui uma unidade, localizada no Pontal Norte, nas proximidades do deck, onde ficam guardadas as embarcações utilizadas pelos guarda-vidas.
“Pedimos também que a população cuide com as embarcações, principalmente as motos aquáticas. Há quem não respeite o limite e entre na área de banhistas, e então cabe a nós acionarmos a Marinha do Brasil. É crime e você pode ser penalizado, ainda mais se dirigir sem ter habilitação e embriagado, infelizmente pode até acontecer acidentes maiores, como já ocorreu em verões passados”, completa.
Operação Veraneio
Dados da Operação Veraneio que iniciou no dia 18 de dezembro até a data de 5 de janeiro:
– 1 afogamento seguido de morte;
– 1 afogamento com recuperação;
– 21 ocorrências de criança perdida;
– 2 ocorrências de lesão por água viva;
– mais de 90 mil prevenções realizadas.