Quem já foi até o Hospital Municipal Ruth Cardoso já pode ter cruzado com um dos cães comunitários que lá vivem: a dupla Tazo e Mero (os nomes são abreviações dos medicamentos Meropenén e Tazocin).
Os dois vivem no Ruth Cardoso desde 2022, mas recentemente foram oficializados como cães comunitários – uma garantia para que eles não precisem sair do hospital, já que agora o local deverá ser terceirizado.
Antes deles, o hospital já teve outro cãozinho que lá morou, o Negão, que era de um homem em situação de rua que faleceu no hospital. Negão morou no Ruth Cardoso por cerca de dois anos [ele morreu em maio/2018].
Paula Wendhausen, assistente administrativo do Hospital Municipal Ruth Cardoso, tinha recém começado a trabalhar no hospital quando a dupla chegou. Eles foram abandonados juntos no mesmo dia e, segundo ela, a equipe do HMRC foi criando um vínculo com eles.
“Tentamos adoção por redes sociais, se alguém queria adotar, mas teria que adotar os dois e ter um espaço grande para eles, mas a gente não conseguiu, e então eles foram ficando. A gente foi se reunindo, hoje tem um pequeno grupo de pessoas, de funcionários, que se junta para cuidar deles, com vacina, banho. Cada um ajuda com pouco, coloca ração, a gente combina de levar para o banho – já temos uma parceria com um pet shop para o banho, inclusive”, conta.
A assistente do HMRC divide também a origem dos nomes dos dogs – são abreviações dos medicamentos Meropenén e Tazocin, e foram escolhidos via enquete logo que eles chegaram no hospital.
“A casa deles é aqui, mas eles também são livres para irem e virem. Agora que são oficialmente cães comunitários do hospital isso nos dá uma segurança. Como eles foram ficando aqui, a gente abraçou eles e vamos cuidar deles. São dois cães muito dóceis, tanto com as crianças que vêm aqui, com gestantes, com todos… eles são muito mansos. Como não conseguimos adoção para eles, queremos continuar mantendo eles aqui no hospital, tendo um lar”, acrescenta.
Outra funcionária do Ruth Cardoso que cuida da dupla é Clarissa Zingalli, coordenadora de governança, que conta que no hospital sempre aparecem animais, mas que Tazo e Mero foram diferentes porque apareceram juntos e ficaram. Inclusive os dois são identificados com coleiras, com seus nomes e também com o nome do hospital.
“Eles são animais dóceis, são bem receptivos. Os próprios funcionários começaram a ter um carinho especial por eles. Como a Paula contou, começamos a dar água, petisco em dias de calor, cada um trazia um pouquinho de ração… e eles começaram a ficar. Mas eles são cães livres, eles não ficam só aqui, têm total liberdade para sair. São castrados, têm acompanhamento veterinário – quando eles têm algum ferimento, a gente leva, assim como sempre tomam banho, temos um grande cuidado. E vale lembrar que eles não entram no hospital, ficam somente no pátio”, explica, salientando que nenhum dos cães avançou em qualquer pessoa – pelo contrário, todos que interagem, de crianças à idosos, sempre elogiam a dupla.
Acadêmico de Direito da Univali auxiliou no processo
Um ‘vizinho’ da dupla é Bruno Costa, que cursa Direito na Univali de Balneário Camboriú, e preside o Centro Acadêmico do curso.
Ele acompanhou de perto o processo de Negão e Sushi – os cães comunitários da Univali e que já foram notícia no Página 3 [relembre aqui].
Por isso, ele auxiliou também Tazo e Mero a se tornarem cães comunitários.
“Eu recebi o primeiro contato com a Tita [a atriz e professora Tita Nacle, que é a cuidadora do Sushi e do Negão]. Ela me buscou várias vezes para a gente conversar sobre o Sushi e o Negão, e eu sempre ajudei porque é uma causa que me importa muito, que eu gosto muito de estar sempre ativo. E sobre o Tazo e o Mero, ela justamente me veio com o relato de que a Paula, que é justamente quem está à frente do cuidado com os dois, junto com a restante da equipe aqui do Ruth, que estavam com essa dificuldade porque está para acontecer a terceirização da administração do hospital, e com essa terceirização pode vir de acontecer da nova administração acabar afastando o Tazo e o Mero”, relata.
Para dar segurança para a equipe e para os cães, Bruno procurou a Secretaria do Meio Ambiente de Balneário Camboriú e iniciou o processo para cadastrar os dois como cães comunitários – e deu certo.
“O que eu fiz foi entrar em contato com a Semam, e com o Abraço Animal, que foi o pessoal responsável para cuidar dessa demanda. A gente recebeu uma ficha de cadastro desses animais, preenchemos os dados – nome, localidade, as características, uma série de informações, e estando tudo de acordo, oficializaram. Os dois já eram castrados e já estava tudo certinho. Com esse cadastro eles ficam mais seguros, sabendo que o Ruth é a casa deles, o local ‘oficial’ deles”, pontua.
Bruno agradeceu a equipe do Ruth Cardoso pelo suporte com os cães e citou ainda a importância de as pessoas não abandonarem e maltratarem animais – o que é crime. “Reconhecemos sempre o trabalho das ONGs, como a Viva Bicho, que são instituições importantes que cuidam desses animais, precisamos ajudá-las. Essas iniciativas são importantes, como, por exemplo, a parte da castração – que parte da condição de ser um cão comunitário é ser castrado, porque é uma forma também de estar controlando para que não venha a ter mais animaizinhos perdidos na rua, abandonados. Todo mundo pode ajudar um pouquinho, se a gente fizer, provavelmente vamos conseguir um futuro melhor”, completa.