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Dia Internacional Contra a Homofobia: “Balneário não tem a visão ampliada que deveria ter”

Nesta segunda-feira (17) é lembrado o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, data criada para chamar a atenção para a violência, discriminação e preconceito que enfrentam as comunidades LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgenêros, Queer e Intersexuais; o + significa todas as outras letras do LGBTT2QQIAAP, sigla que não para de crescer, unindo ainda os As de assexuais e aliados – pessoas que se consideram parceiras da Comunidade). 

Fernando (D) com o marido Luiz Gustavo (Arquivo Pessoal)

A data escolhida tem motivo: em 17 de maio de 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Este Dia marca a luta não somente dos homossexuais, mas também dos transgêneros, travestis e bissexuais, servindo ainda de conscientização.

“Pandemia suspendeu tudo, mas homofobia não parou” 

O empresário Fernando Lisboa, que é militante da causa e membro-organizador da Parada LGBTQI+ de Balneário Camboriú, que acontecia anualmente na cidade, antes da pandemia, lembrou das barreiras e dos enfrentamentos que as comunidades sofrem no seu cotidiano. 

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Fernando é de Ibitinga, interior de São Paulo, é ex-policial militar (atuou por 12 anos), ex-combatente do Exército Brasileiro e ex-árbitro de futebol. Ele mora em Balneário Camboriú desde 2007. 

“Tivemos que suspender tudo por conta da pandemia. Apesar disso, a homofobia não parou. Temos um prefeito nefasto. Na primeira campanha dele, em 2016, o apoiamos. Eu deveria ter gravado, mas não o fiz porque confiamos nele. Ele prometeu que iria apoiar a comunidade, que não iria fazer nada para intervir a nossa luta, deu todas as garantias disso. Na ocasião, ele chegou a aceitar a nossa proposta de criar uma comissão em apoio à comunidade, mas na hora da prática recuou”, relembra. 

Um ano depois, em 2017, o prefeito Fabrício Oliveira tentou impedir a Parada, mas a organização do evento moveu uma ação junto ao Ministério Público, que entendeu que Fabrício estava cometendo um ato homofóbico e o enquadrou inclusive com improbidade administrativa. 

“Infelizmente esquece que o estado é laico, e isso se reflete em nossa cidade. Ele governa para a igreja dele, a Embaixada do Reino de Deus. Mesmo Balneário sendo uma cidade cosmopolita, não tem a visão ampliada que deveria ter, e por isso somos condenados a um prefeito homofóbico. Não queremos privilégios, e sim oportunidades iguais. Ele [Fabrício] está prefeito, é gestor neste momento, é um mero gestor, mas deveria fazer uma gestão pensando em todos e isso não acontece”, pontua. 

“Se a família não acolhe, quem vai acolher?” 

O ativista destaca que homofobia não é só matar alguém da comunidade LGBTQI+, esse é, segundo ele, ‘o último sacramento’. 

“A homofobia nasce dentro de casa. É a violência psicológica, quando o pai, a mãe, o irmão, a tia e o tio, não aceitam a pessoa pelo simples fato de ele/ela ter uma orientação sexual diferente. Se a família não acolhe, quem vai acolher? O heterossexual não é expulso por beijar uma menina. Pelo contrário, isso é celebrado. Ele é visto como o machão. E isso se reflete na questão do machismo também, a menina se beija um, dois, é mal vista. Com a comunidade LGBTQI+ vai além: somos expulsos de casa”, acrescenta. 

Fernando lembra ainda que a escola também é um ‘antro do bullying’ para os membros da comunidade e que, por isso, muitos acabam não completando os estudos. 

“Infelizmente, para muitos a prostituição acaba sendo o único caminho. A família e a escola não aceitam, o mercado de trabalho também não, e aí acontece isso. A prostituição, infelizmente, é a única que ‘não limita’. O que as pessoas não entendem é que não queremos ser tratados de forma diferente, pelo contrário! Queremos os mesmos direitos. Não acho que sou melhor por ser gay, o ponto é que somos iguais e que ninguém tem nada a ver com quem eu me deito ou não. É isso que muitas pessoas não entendem. Não queremos ‘dózinho’, pagamos os mesmos impostos, queremos incentivo e espaço”, diz. 

‘Conversão’ é proibida pela psicologia, mas igrejas ainda insistem 

O empresário aproveitou para citar a questão da ‘conversão’, chamada ainda de ‘cura gay’, e que isso é proibido pela psicologia. 

“Infelizmente, a religião ainda defende e insiste nesse absurdo. Muitos gays e lésbicas se sentem acolhidos na igreja, são chamados de ‘irmãos’, mas não estão sendo convertidos. Eles estão sendo coibidos, impedidos de serem quem são de verdade”, comenta. 

Fernando usa o exemplo de sua própria história: ele teve um casamento heterossexual, é pai, e mesmo assim não conseguiu ‘fugir’ de ser quem é. 

“Sou ex-árbitro, ex policial, vivi rodeado pela sociedade heteronormativa brasileira, e mesmo assim eu sou gay. Não existe isso de escolher. É absurdo. Você acha que não tive relações durante meu tempo no Exército? Há muita hipocrisia… em todo lugar, infelizmente. Tive que vir trabalhar em São Paulo, porque em Balneário sou o Fernando da Parada LGBTQI+. Dizem que quero colocar peito e bunda na Avenida Atlântica, sendo que é o que mais tem lá (risos)”, explica. 

Paulo Gustavo: “Uma perda irreparável” 

A morte do ator Paulo Gustavo, por problemas decorrentes da Covid-19, foi uma perda irreparável, comentou Fernando. 

“Não só para o movimento gay, mas para todo o Brasil. Ele era um ser humano ímpar. Para nós ele era a personificação do que queríamos. Paulo tinha sucesso, se casou, teve filhos. Muitos gays olhavam e pensavam ‘é isso que queremos’. Era um espelhamento, um exemplo. Eu não canso de ver o trabalho dele. Assim como me emociono com o Senna até hoje, me emociono agora com o Paulo Gustavo. É algo muito forte porque o perdemos para uma doença que já tem vacina! É um misto de saudade e revolta, porque houve negligência, é algo que poderia ter sido evitado. Paulo foi um rosto, um tapa na cara da sociedade que se nega a entender a gravidade dessa doença, desse vírus”, opina. 

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“Precisamos de leis que nos defendam” 

Para o futuro e dias melhores para a comunidade LGBTQI+ no Brasil, Fernando diz que é preciso mais leis. 

“Não existe lei hoje. Há o entendimento de que homofobia se enquadra como racismo. Comemoramos recentemente também os 10 anos da união homoafetiva, o STF permite. Agradecemos pelo Judiciário nos apoiar, porque se dependêssemos do Governo Federal e do Congresso nefasto e hipócrita não conseguiríamos muitos dos direitos que temos hoje. As pessoas não podem mais nos matar e tentar nos calar. Eles [os homofóbicos] acham que têm direito, porque hoje há um idiota que vocifera muita besteira diariamente e batem palma para esse maluco”, completa.

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