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A cada noite deixamos de existir

Raul Tartarotti*

Foi lançado nas telas de seu celular e tablet, o clubhouse, a mais nova oportunidade pra passar seu tempo, de forma rápida, nos teclados a dois dedos, e com muitas pessoas juntas.

O novo clube de nome pomposo, reúne muitas tribos, para bater papo. Você pode sair da sala, assim como entrou, em silêncio. Ninguém te viu, não te abraçou, tampouco sabe quem você é.

Pode pedir a palavra, mentir, mas se disser muitas verdades, corre o risco de ser seguido por muitos, podendo virar celebridade.

Não vai ter troca de abraço e tampouco endereço físico. O medo nos tira do encontro provável, podendo ser uma ameaça até para a família.

Mas, também é um ambiente de negócio e flerte. Todo mundo se aperfeiçoa em alguma coisa, política, big brother, coaching, piadas, receitas, liste um cardápio longo que não chega ao final.

Todos estão conversando muito lá dentro, cada qual confinado dentro dos limites do seu saber. Parece a escola de Terêncio Escauro (século XV d.c.), em Roma, onde os filósofos e poetas conversavam até ficarem roucos.

Tudo nos cobra velocidade demais, mas nossa compreensão não tem esse ritmo, você necessita se conectar com alguém para ser você, se for uma passagem batida como uma conversa a muita distância, corre o risco de ficar no caminho sozinho.

É muito bom passar o tempo no que couber em cada pedaço de paciência, já que estamos presos por ter cometido o crime de espalhar vírus.

O aplicativo sincroniza você com uma bolha, que não sangra, mas te suga, é uma das formas de alívio pandêmico.

São dezenas de grupos para te pegar e ouvir sobre seu conhecimento, você pode correr o risco de secar. Mas antes de entrar, sugiro buscar conhecimento em livros, jornais, revistas, essas são minhas fontes de informação. Assim você se preenche antes de soltar o verbo.

Você pode divagar sobre longevidade, meta difícil de atingir. Como, por exemplo saber como foi a vida durante a I Guerra Mundial, onde os recursos eram precários tanto para matar como ajudar os feridos.

Em seguida, saber como foi o sofrer de gripe espanhola, que levou daqui mais gente que a guerra anterior. E como se não bastasse 34 anos depois inventaram outro morticínio mundial, a II Guerra.

Temas muito antigos e difíceis de terem sido testemunhamos por uma só pessoa, e ainda viva.

Porém, por incrível que os jornais nos informem, nesse mês de fevereiro de 2021, a Irmã André, que vive no lar de idosos Saint Catherine Labouré, na cidade de Toulouse, sul da França,  completa 117 anos. Ela vivenciou tudo que relatei anteriormente.

Evidente que sua saúde está frágil, mesmo assim foi infectada pelo corona e se curou. Difícil crer que possamos chegar a tal façanha humana; é alentador. Suas preces contemplativas a trouxeram até aqui, e com velocidade muito lenta, foi ao longe.

Talvez o ritmo de nossa ida a lugar algum, pudesse dar espaço ao despertar espirituoso e contemplativo de nossos companheiros seres vivos.

O sono, é prova de que parar, também pode nos dar prazer, e fazer com que cessemos de existir durante algumas horas.

Ele nos cura temporariamente da fadiga radical diária, e a cada noite, deixamos de existir. Pela manhã, depois que abrir os olhos, bem, aí é com você.

*Raul Tartarotti é engenheiro biomédico e cronista.

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