Dez dias que quebrei o dedinho do pé, o mindin. Nunca dei importância para esse dedo, coisinha insignificante, quando ia na manicure, mal dava para pintar.. O meu ao menos é assim, uma coisinha gordinha minúscula, com um resto de unha em cima.
Chutei um banco em casa, sem querer, essas topadas que a gente dá. E não foi a primeira, já chutei algumas quinas por aí. Mas essa vez foi especial, doeu muito, acordei de madrugada com o dedo latejando, não dei bola.. já passa, é só o dedinho. Eis que de manhã o insignificante está ficando roxo e começa a me fazer mancar. Só o início de uma relação que ainda não existia entre nós.
Fui ao PA, raio x .. dedo quebrado, atadura por 15 dias, “suspende pilates, sem fazer peso, não molha o dedinho”…
Saí de lá pensando .. nunca quebrei nada, pelo menos romantizava dos tempos de escola que colocaria gesso se quebrasse algum dia.. achava o máximo assinar nos gessos dos amigos .. não, não se engessa mindin.. Segui nem dando bola, dedo mequetrefe mesmo, quebro ele e nem gesso colocam.
Comentei com uma amiga pelo zap que falou em tom de ironia “nem deve ter quebrado, nunca vi quebrar e não engessar”. …
Segui os dias subindo e descendo escadas, lavei, estendi roupas, uma dorzinha tranquila, nem remédio tomei.. O banho se tornou um verdadeiro malabarismo para não molhar o bonito.. Aí vieram os dias, 3,4,5.. com dor aumentada e dificuldade para caminhar… pedi uma muleta emprestada.. e ouvi da vizinha… “Muleta pra que mulher ? Imagina se quebrasse o pé inteiro..” Vê só que a insignificância desse dedo permeia o coletivo.
Uns seis dias depois voltei no médico para refazer a atadura e dar uma olhada por causa da dor. .. o dedo estava preto… e ele foi categórico.. “ou vc sossega, ou vou engessar o pé inteiro e deixar mais um mês”… (hahaha).. e eu que sempre sonhei com o gesso saí de lá quietinha, não quero gesso, tá bom assim.
Reduzi pela metade as atividades, trouxe o notebook pra cama, as roupas por lavar podem esperar mais uns dias…e para cozinhar .. tomar banho vou devagar, sem forçar.. porque afinal o pequeno me mostrou a importância dele.
O mindin me mostrou a importância de aquietar, ter paciência comigo e com o tempo de espera, cuidar do meu estresse e da raiva, porque foi uma topada literalmete que escancarou o grau de estresse que eu estava.. e olhar (ou ainda tentando olhar) com outros olhos situações corriqueiras e maravilhosas como tomar um banho em pé, no chuveiro, a benção de tomar um banho gostoso e quentinho.. a benção de caminhar, apenas caminhar.. a gente caminha e nem liga..a gente respira e nem liga.. já parou pra ver se você respira direito de forma que te favorece a vida ?
Uma busca rápida na internet “Qual a função do dedo mindinho?”..e uma chuva de respostas reforçando a importância dele.. “fornecer equilíbrio e propulsão..” “o primeiro dedo que toca ao solo quando pisamos”.
De fato, um dedo de respeito.