Durante muito tempo, houve um hiato na história da ocupação humana na América Central, representada em especial, pelo território hoje ocupado por Honduras, Costa Rica e Nicarágua. Acreditava-se que na Mesoamérica, com a amplitude de ocupação da civilização Maia, raros ou irrisórios grupos humanos haviam surgido. Essa ideia equivocada obteve respaldo pelos poucos estudos voltados à ocupação da região, assim como pelas espessas florestas – como Mosquitia, em Honduras – que apontavam para um território geograficamente desfavorável ao estabelecimento de grandes povoações.
Em 1994, uma equipe formada por dois hondurenhos e dois norte americanos realizou uma descoberta que colocaria em xeque essa antiga visão sobre a ocupação da América Central. Em uma exploração à Cueva (caverna) del Rio Talgua – cerca de 160 km a nordeste da capital hondurenha de Tegucigalpa – a equipe observou uma curiosa fenda a altura de 9 metros do solo. A passagem era na verdade uma câmara mortuária ocupada desde 1000 aC por povos da região, contradizendo tudo o que se sabia até então sobre a ocupação humana da antiga Honduras, em um período avaliado como “formativo” do ponto de vista social.
No interior da câmara, foram encontradas centenas de ossos e crânios que brilharam literalmente como diamantes quando os exploradores lançaram luz sobre o achado. Soube-se mais tarde, que o gotejar da caverna havia recoberto os ossos com uma fina camada de cristais de calcita, que refletia a luz de forma muito intensa! Por este motivo, receberam o nome de crânios brilhantes. O arqueólogo James E. Brady (Universidade George Washington) contabilizou posteriormente 23 depósitos de ossos humanos, muitos deles pintados de vermelho, e com minerais em pó – igualmente vermelho – salpicado no solo ao lado dos ossos. Também foram encontradas 20 tigelas de cerâmica pintada, 2 vasos de mármore e joias de jade em um estilo desconhecido, o que levou os arqueólogos a pensarem que aquele agrupamento de mortos eram representantes de uma elite de algum povoamento ainda desconhecido, e que a caverna fora utilizada como espaço sagrado coligado ao infra mundo mesoamericano.
De fato, não demorou muito para os arqueólogos descobrirem cerca de 100 montículos de terra que cobriam um antigo povoamento que se estendia por cerca de 800 metros; e de onde foram retiradas cerâmicas com datação entre 800 e 980 aC. Esse fato coloca a antiga povoação entre os mais antigos produtores de cerâmica das Américas!
A inusitada descoberta dos crânios brilhantes da caverna de Talgua revelou não apenas a existência de uma sociedade complexa até então desconhecida, mas a ocupação territorial de Honduras muito antes do que se imaginava, por povos originais e autônomos da influência dos poderosos Maias. Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)