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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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A CIDADE PERDIDA DO DEUS MACACO

Em 1526, o conquistador Hernán Cortés – que recém havia invadido o reino Mexica (Asteca), escreveu sua famosa 5ª Carta ao Imperador Carlos V de Espanha. Muitos pesquisadores acreditam que neste relato está a origem de uma das mais fascinantes lendas sobre cidades perdidas nas Américas! Na ocasião, Cortés estava ancorado na Baía de Trujillo – atual Honduras – onde havia estabelecido um posto avançado para a invasão espanhola na região do atual México. Cortés assim relata: “Eu tenho relatos confiáveis de províncias muito extensas e ricas e de poderosos chefes que as governam […] Verifiquei que se situam a oito ou dez dias de marcha a partir dessa cidade de Trujillo, ou melhor, entre 50 e 60 léguas. Tão maravilhosos são os relatórios sobre esta província particular, que […] excederá o México em riquezas, e o igualará na grandeza de suas cidades e aldeias…”

Pela descrição de Cortés, a região encontrava-se na impenetrável selva de La Mosquitia, onde cresceu a lenda da Cidade Perdida do Deus Macaco (ou Ciudad Blanca). Pelos séculos seguintes, vários exploradores, mineradores, antropólogos, engenheiros e contrabandistas desafiaram uma das mais perigosas regiões do mundo: uma floresta densa, infestada por serpentes mortais, das mais venenosas do mundo; plantas com espinhos venenosos, onças, poços de areia movediça, escarpas e desfiladeiros íngremes, carrapatos, formigas vermelhas – agressivas e possuidoras de toxinas – e moscas que transmitem o parasita Leishmania, causador da lepra branca.

Em um cenário de natureza tão perigosa, é difícil imaginar que civilizações pré-colombianas fizessem dali um império tão rico como Cortés descreveu. Contudo, a medida em que relatos de aventureiros foram surgindo, cada vez mais os pesquisadores conseguiram delimitar a região dentro de La Mosquitia, onde era possível a existência desse povo.

A lenda da Cidade Perdida do Deus Macaco começou a tornar-se realidade no século XX. Entre 1930 e 1940, três expedições financiadas por George G. Heye – um colecionador de artefatos – trouxeram muitos relatos, mapas, indícios de ruínas e caixas cheias de peças esculpidas em um estilo que não parecia ser totalmente maia. Em especial a expedição liderada por Theodore Morde, que jurou ter encontrado a citada cidade, mas que nunca revelou o local exato até seu suicídio em 1954. Contudo, em 1990 o cinegrafista Steve Elkins realizou um profundo estudo sobre tudo o que até então se sabia sobre a lenda do Deus Macaco. A pesquisa prolongou-se, esperando uma oportunidade para a realização de uma expedição local, até que em 2010 surge a tecnologia LIDAR, capaz de projetar milhares de emissões de raio laser na floresta, delineando em um mapa tridimensional o que existia abaixo da folhagem e mesmo do solo.

A expedição derradeira ocorreu em 2015, fazendo uso de anos de pesquisa e desta nova tecnologia aplicada a arqueologia, provando que muito das lendas era realidade. O livro de Douglas Preston – A cidade perdida do Deus Macaco – descreve cada momento dessa aventura real, onde pirâmides, templos, praças e campos de jogo de bola surgiam em meio à floresta. Vasos decorados, esculturas de animais e outros objetos foram resgatados para estudo; e muito mais ficou à espera de condições para futuras expedições. Ainda não sabemos se o povo que lá habitou pode ser considerado maia ou uma mistura de cultural de diversos povos oriundos da Colômbia, Panamá e regiões da América Central. A única certeza é que a região de La Mosquitia oculta ainda segredos inimagináveis para a arqueologia americana.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor

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