- Publicidade -
26.1 C
Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
- Publicidade -
- Publicidade -

A CIDADE PERDIDA DO POVO CASARABE

O período romântico da arqueologia chegou ao fim. A imagem de um arqueólogo aventureiro embrenhando-se em florestas inexploradas tornou-se coisa do passado. Imagens do século XIX e início do XX que persistem em nosso imaginário graças a filmes de aventura.

A arqueologia se faz hoje com tecnologia; e o melhor exemplo da última década é, sem dúvida, o LIDAR. Na Mesoamérica, ele nos revelou cidades Maias gigantescas, obrigando os historiadores a reverem a questão populacional dos povos pré-colombianos. O LIDAR funciona projetando feixes de luz sobre a floresta densa. Isso é feito de um helicóptero ou avião. Os feixes rebatem no solo e retornam ao aparelho, permitindo que softwares leiam as mensagens de luz e construam um mapa tridimensional do solo, revelando toda e qualquer estrutura antiga construída abaixo das copas das árvores ou mesmo enterradas. Qualquer anormalidade do solo é captada pelo LIDAR.

Agora, ele começa a ser aplicado também nas florestas da América do Sul. Em 2019, um grupo de pesquisadores ingleses e alemães utilizaram o LIDAR sobre uma área de 124 m² na região de Beni, na Bolívia. O resultado foi a descoberta de 26 assentamentos humanos, com construções feitas de barro e terra socada – inclusive pirâmides – que chegavam à altura de um edifício de oito andares. Acredita-se que os principais construtores dessas cidades foram os Casarabes, que ocuparam a região entre 1.500 e 600 anos atrás. O mundo deles era bem diferente do atual. Mais assemelhava-se a uma savana com agrupamento de árvores dispersas. Neste cenário, cultivavam milho, caçavam e pescavam. Além deles, outros povos como Landívia e Cotoca também investiam seus esforços na construção de cidades de barro, uma tradição arquitetônica característica do Beni com poucas pedras. Além de pirâmides, os pesquisadores encontraram também hidrovias e reservatórios d’água. Muitos desses assentamentos eram ligados por caminhos elevados que chegavam a 10 km de distância. 

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que as comunidades amazônicas eram pequenas e dispersas; e que sobreviviam principalmente de um limitado sistema agrícola e de coleta. Após as descobertas com tecnologia LIDAR, os estudos apontam para sociedades extremamente complexas e populosas. 

Muitos arqueólogos já não discutem mais se a região amazônica era de fato ocupada por densa população. Todos os indícios apontam para esse caminho. Agora, começamos a nos perguntar qual era o nível de interação desses povos da floresta com outros, que habitavam o deserto chileno, a região Andina, a Colômbia ou mesmo o altiplano do lago Titicaca. A cada novo estudo, novos dados apontam para uma integração continental entre os antigos povos pré-colombianos da América do Sul.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (clique aqui)

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -