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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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AS PIRÂMIDES OCULTAS DE COCHASQUÍ

O Equador continua sendo um país surpreendente quando o assunto é arqueologia. Não possui a fama do Peru ou México, mas abriga alguns dos mais intrigantes vestígios do passado pré-colombiano que conhecemos, como Hojas Jaboncillo e Ingapirca, ambos mencionados nesta coluna. Outro que nos chama a atenção é “Cochasquí”, um conjunto de pirâmides com rampas a cerca de 30 quilômetros ao norte da capital Quito, na província de Pichincha.

Cochasquí está situada a cerca de 3100 metros acima do nível do mar e próximo a uma cadeia montanhosa com vista ao vulcão Mojanda e os nevados Pichincha, Cayambe e Pambamarca. Por este motivo, alguns arqueólogos acreditam que o complexo de 15 pirâmides (a maior delas com 21 metros de altura) existentes de alguma forma tenta representar o entorno geográfico da região, homenageando as montanhas e suas entidades, na forma de pirâmides artificiais. Além delas, os arqueólogos também encontraram 21 montículos funerários chamados localmente “tolas”. 

O real motivo dessas construções até hoje é um enigma. Em 1933 o arqueólogo Max Uhle escavou uma das pirâmides, desenterrando cerca de 500 crânios. Baseado neste achado, desenvolveu a hipótese que as pirâmides eram centros dedicados a algum tipo de ritual ou cerimônia desconhecida. Em 1964, arqueólogos da Universidade de Bonn (Alemanha) escavaram pirâmides e montículos funerários, confirmando a teoria de Max Uhle, mas revelando também que o local era habitado regularmente. A afirmação provém da descoberta de habitações circulares existentes no topo das plataformas piramidais. As habitações circulares parecem ser de um tipo regionalizado e que são encontradas no norte do Peru, entre os antigos chachapoyas e também na Colômbia, entre os Taironas. O hábito de possíveis governantes e sacerdotes viverem no topo de pirâmides pode ser verificado entre os antigos mochicas, também no norte do Peru. Em 1986, o astrônomo russo Valentín Yurevitch desenvolveu estudos na área da arqueoastronomia, afirmando que Cochasquí foi utilizado como local de observação astronômica. 

Das quinze pirâmides encontradas, nove possuem rampas (algumas com duas rampas); sendo que a maior delas possui uma base de 90 x 80 metros e uma rampa de 200 metros de comprimento. O material utilizado em sua construção foi o cangahua, uma espécie de pedra pome originária de ações vulcânicas. Ela é mais leve e porosa, e por isso mesmo pouco resistente, o que nos leva a crer que as pirâmides só chegaram até nós por terem sido cobertas por uma camada fina de terra e grama, que auxiliou em sua preservação natural. 

Acredita-se que o complexo tenha sido erguido pelo povo Quito-Cara, também chamado Cara ou Caranqui, um senhorio dividido em diversos estadistas locais que partilhavam a mesma língua (panzaleo) e práticas culturais, e que deram combate aos Incas no final do século XV. Os arqueólogos estimam que a população de Cochasquí e suas terras adjacentes estivesse em torno de 3 mil pessoas. Os Quito-Cara exerceram sua influência cultural e comercial desde o litoral até o sul da Colômbia e parte da floresta Amazônica. Sua ocupação é bastante antiga, o que levou alguns arqueólogos a dividirem o território das pirâmides em três períodos: o de Integração geral (500 a 1500 d.C.); o de Cochasquí I (950 a 1250 d.C.) e o de Cochasquí II (1250 a 1550 d.C.). Os dois últimos períodos focados na construção arquitetônica das pirâmides e sepulturas.

Tudo indica que o povo Quito-Cara formaram uma aliança com outros senhorios – cañaris por exemplo – para dar combate ao avanço Inca em suas terras. Todo a região hoje existente ao redor da capital Quito fervia de agrupamentos de alta capacidade técnica. Exemplos dessa sofisticação cultural podem ser presenciadas ainda hoje nas ruínas de Rumipamba e na necrópole de La Florida. Acredita-se que a chegada dos soldados Incas às pirâmides tenha ocorrido por volta de 1505, após a tomada da fortaleza de Pambamarca. Segundo uma lenda local, Cochasquí era administrado pela rainha guerreira Quilago que, não conseguindo impedir a invasão Inca, foi obrigada a se unir matrimonialmente com o imperador Huayna Capac. Ela ainda tentou uma manobra para assassinar o mandatário Inca em seus aposentos, mas foi traída por pessoas próximas que haviam aceito a influência Inca. Capturada, Quilago foi executada e Cochasquí e suas pirâmides passaram a ficar totalmente sob influência dos invasores.

Hoje, todo complexo foi transformado em um Parque Arqueológico com infraestrutura para receber o turismo e dotado de um museu arqueológico, dois museus etnográficos, um museu didático de instrumentos musicais e um jardim botânico.
Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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