O Equador, conhecido por ser guardião das Ilhas Galápagos, não é um local pródigo em ruínas arqueológicas. Muitos de seus antigos povoamentos não deixaram vestígios, enquanto outros – como desenhos rupestres – encontram-se embrenhados na floresta amazônica. Talvez a única exceção seja a antiga capital Inca de Ingapirca, nas proximidades da atual cidade de Cuenca, ao sul do país. O termo “Ingapirca”, na língua kichwa significa “muro inca”.
A região onde ela hoje se encontra pertenceu ao povo Cañari durante séculos, que lá ergueu um povoado chamado Hatun Cañar. A expansão inca trouxe a guerra aos resistentes cañaris e forçou-os a uma incômoda aliança iniciada por Túpac Yupanqui. Casamentos entre os dois grupos foram realizados e melhorias estruturais orquestradas por Huayna Capac – filho de Yupanqui – nos senhorios de Guapondelig (Tumebamba), hoje Cuenca.
As ruínas de Ingapirca, formada em sua maior parte por fundamentos e baixos muros, possui uma beleza que lembra, de certo modo, as ruínas de Pisac: muros bem-acabados, esteticamente belos, com contornos que denunciam um amplo planejamento arquitetônico. Lá encontra-se o Templo do Sol, que para consolidar um costume incaico, ergue-se sobre um antigo local de ritual cañari: uma imponente rocha. O que destaca essa de outras estruturas é seu formato elíptico, bastante raro nas construções pré-colombianas. Acredita-se que o espaço cerimonial foi dedicado à celebração agrícola, com marcação de solstícios de verão. Também é local até hoje da celebração da Festa do Sol, o Inti Raymi, no mês de junho. Por estes motivos, e pela descoberta de residências da elite inca e cañari, é possível que o local também concentrasse, além da astronomia, funções administrativas e políticas.
Tão importante quanto o Templo do Sol é o complexo de Pilaloma. Trata-se de uma estrutura tumular semielíptica com 11 enterramentos. Essa tumba múltipla apresentava os fardos funerários em semicírculo, com as cabeças voltadas ao sul, e os pés ao norte. Acredita-se que seja o sepultamento de uma dignatária acompanhada de seus parentes e servidores, devido as riquezas – em especial oferendas de conchas spondylus – que uma mulher possuía. Ao contrário do Templo do Sol – construído pelos incas -, Pilaloma é de origem cañari.
Com a guerra entre Huáscar e Atahualpa pelo cetro Inca pouco antes da chegada dos espanhóis (1532), a cidade de Ingapirca fora destruída e abandonada. Alguns anos depois, os próprios espanhóis saquearam o que havia sobrado; e ao longo do período colonial ela foi continuamente desprovida de suas pedras para a construção de fazendas, igrejas e calçamentos em Cuenca e arredores. Somente na década de 1960 o local passou por restauração, abrindo definitivamente em 1966 para o turismo moderno.Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (clique aqui)