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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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VICHAMA – O TEMPLO DA FOME

Há 5 mil anos, nos vales centrais do atual Peru, florescia uma da civilizações mais antigas e originais das Américas, chamada atualmente de Caral. Contudo, sabemos atualmente que Caral não surgiu como um único centro habitado, mas sim como uma rede de importantes povoados (zona arqueológica) que partilhavam de uma mesma herança cultural. Entre eles, podemos citar Áspero (4.500 aC) e Vichama (3.800 aC). Esses – e outros – povoados, eram formados por pirâmides, residências, templos, plataformas de plantio e uma rede de comércio eficiente de longa distância, era formada também por especialistas de diversas áreas, como agricultores, arquitetos, sacerdotes e comerciantes. Não sem motivo, Caral é considerada, por enquanto, a cidade mais antiga das Américas.

A arqueóloga Ruth Shady Solís – que coordena os estudos dos diversos povoados da zona arqueológica de Caral – anunciou recentemente um esforço em entender os motivos de decadência dessa brilhante civilização. Para isso, está programado para o segundo semestre de 2023, um projeto multidisciplinar para entender as mudanças climáticas que afetaram a região no passado em diversos momentos, como secas prolongadas resultantes do fenômeno meteorológico conhecido como El Niño.

O direcionamento dos estudos não surgiu sem motivo. Recentes escavações apontam para uma catástrofe climática que atingiu diversas civilizações pré-colombianas em vários períodos. Um deles, já comprovado, ocorreu em 630 d.C.; e foi responsável por marcar o declínio de povos como os Nascas e Mochicas. Estes últimos registraram o evento climático através de sua sofisticada cerâmica.

Agora, fortes evidências foram encontradas em um templo na localidade conhecida como Vichama (Vale de Huaura), cerca de 15km de Caral. Em Vichama existe um importante templo que sofreu alterações reveladoras quando a seca se tornou mais grave, causando fome, morte e crise social na época de Caral. Ruth Shady aponta que no mesmo período ocorreu uma drástica mudança climática nos centros urbanos ao norte da Mesopotâmia, o que pode indicar um evento mundial e não apenas local. Ainda segundo Shady, os vales férteis do centro peruano começaram a perder água, com seus rios secando gradativamente, permitindo o avanço da zona desértica litorânea para o interior, transformando áreas de plantio em areia.

Em Vichama foram encontrados frisos esculpidos em um antigo templo, com a representação de adultos mortos, de estômagos vazios e o que parece ser jovens praticando uma dança ritual em meio a peixes. Até o momento foram achados 30 relevos pertencentes ao friso. Na época de sua construção, o templo possuía sua entrada direcionada ao oceano Pacífico. Em determinado momento, o templo foi modificado e acrescido um novo salão cerimonial orientado ao leste, por onde costumam chegar as nuvens de chuva. Mais que isso, foi acrescido a representação de um sapo humanizado com a boca aberta, que recebe em sua cabeça o que parece ser um raio. No universo pré-colombiano o sapo está associado à água. 

A zona arqueológica de Caral – juntamente com Vichama – passa ainda por promissoras escavações que prometem elucidar sobre os primórdios da civilização pré-colombiana nas Américas e como elas administraram a chegada de períodos de seca prolongado, nos fornecendo dados importantes para a nossa própria sobrevivência.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (clique aqui.)
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