Nesta quarta-feira, quando o povo já está festejando Carnaval nas ruas de Salvador e Recife, recebo e-mail da Hering me oferecendo produtos com 60% de desconto.
Dentre esses produtos, uma Bermuda Esportiva Feminina Ciclista Canelada, que com o “desconto” e o frete para Balneário Camboriú ficaria por R$ 58,77.
No último dia 9, por coincidência, comprei para minha Colombina artigos semelhantes, mas na Shein, a plataforma chinesa que conquistou consumidores vendendo coisas boas, bonitas e baratas.
Foram duas bermudas fitness e uma bermuda academia, esta última para completar o valor que dá direito ao frete grátis.
Paguei pelas três bermudas R$ 49,70, portanto R$ 9,07 a MENOS do que na Hering.
Três por um não tem argumento que convença em contrário.
E frete grátis da Ásia, enquanto a Hering, que fica a 60 Km da minha casa, queria me cobrar 22% a mais no pedido.
“Ah” diriam os carnavalescos, “os produtos da Hering são melhores que essas alegorias chinesas”.
Conversa do executivo que não entende do samba, tentando se justificar para o Rei Momo enquanto dívidas milionárias se acumulam no alalaô.
A falcatrua bilionária da Americanas, as enormes dificuldades de Riachuelo e Marisa -sem falar em outros piratas que possam estar escondidos atrás de balanços mascarados-, não são fatos isolados.
É a realidade batendo à porta de empresas que não entenderam como funciona o comércio, nestes anos de internet para todos, com mudanças aceleradas pela obrigação de ficar em casa, imposta pela pandemia.
Tem um destaque carnavalesco neste cenário, que atravessou o samba ao se meter em política (e perder), mas compreendeu antes de muitos que o negócio é vender barato.
Seu nome é Luciano Hang, que aprendeu negociando com chineses e pequenos produtores da região, que comprar e vender por preço baixo gera escala de negócio.
Ele raciocina como um Joãosinho Trinta, ao denominar de megalojas qualquer galpão que edifique em beira de estradas, é um animador da folia nato.
Hang percebeu que fora do preço baixo não tem escapatória, porque as Sheins, Shopees e Amazons da vida atropelam a sua escola de samba.
Falta o restante do bloco aprender a sambar.