Em maio de 1972, um mês depois de entrar na faculdade de Jornalismo na Federal de Porto Alegre, pisei pela primeira vez em uma redação de jornal.
Fui lá porque no intervalo das aulas, na sala de jogos e do cafezinho na faculdade, vi um anúncio de vaga para estágio na maior empresa de comunicação do sul, a Caldas Junior.
A empresa tinha na época três jornais e uma rádio: Correio do Povo (o mais antigo), Folha da Tarde (onde iniciei), Folha da Manhã e a Rádio Guaíba.
No mesmo dia à noite, depois do meu trabalho na escola em que lecionava, me apresentei na redação da Caldas Junior.
E minutos depois o chefe de redação, Fernando Martins, passou a primeira pauta da minha vida: entrevistar Jaqueline Mross, campeã gaúcha dos 100m nado borboleta que, na manhã seguinte, embarcaria para disputar um Campeonato Sul-americano, em Bogotá.
Não conhecia a nadadora e tampouco a especialidade dela. Fotógrafo e eu fomos na casa da jovem atleta, que era tímida, praticamente só dizia ‘sim’ ou ‘não’. Felizmente o pai falava bastante. Saí de lá sabendo (quase) tudo sobre nado borboleta.
De volta à redação, me mandaram para o setor de esportes procurar uma máquina para escrever. O setor era essencialmente masculino. E eu ali… parada naquele terreno desconhecido.
Felizmente alguns se tocaram e vieram me socorrer, Claiton Selistre, Nilson Souza, Betinho Blumm. Indicaram uma máquina daquelas de ferro e entregaram um punhado de laudas, que eu também nunca tinha visto. Aquela barulheira de teclados batendo junto ecoava por toda a enorme redação. Custei para me concentrar. Do barulho das máquinas lembro até hoje.
Meus ‘novos’ amigos me ajudaram a fazer o primeiro lead da minha vida. Na faculdade nem tinha dado tempo ainda de aprender sobre isso…
A matéria saiu uma hora depois e eu trabalhei no esporte da Caldas Junior por quase 10 anos.
Escrevia e cobria todos os esportes, com exceção de futebol de campo e automobilismo.
Em 1975 deixei de ser professora para me tornar funcionária pública. Comecei a trabalhar um turno de 5h, na Secretaria de Turismo de Porto Alegre, o que facilitou bastante, porque ficava pertinho do jornal, onde eu ‘batia’ o ponto às 18h30.
Fiquei mais de ano na Secretaria de Turismo, nesse que foi meu primeiro e único emprego público, tempo suficiente para ter certeza que essa não era a minha praia…
Mas foi lá que conheci o meu ‘cara-metade’…que se tornou meu grande amigo, sem imaginar que um dia seria o pai das minhas filhas…
Em 1976 me formei e sempre lembro que tinha colegas que terminaram a faculdade e tinham dificuldade de compor, fazer lead etc… porque não tiveram a mesma sorte que tive, de aprender na prática e porque é uma constatação de que terminar o curso não garante, necessariamente, a formação de um bom jornalista.
Melhor que na teoria é aprender na prática. Foram dias difíceis, porque o chefe era bravo, grosso que nem dedo destroncado, mas venci os desafios e aprendi na marra. Aprendi a fazer pauta por conta própria. Jamais recebi uma pauta nos 10 anos de Caldas Junior.
Vale lembrar que naquele tempo, o estágio em jornalismo podia acontecer em qualquer período do curso. O meu começou com 30 dias de curso…
Casei no mesmo ano, 1976. Com um jornalista, aquele que foi meu grande amigo na Secretaria de Turismo… Lá se vão 46 anos de convivência, de respeito, de reconhecimento, de batalhas, de criação de filhos, de milhares de reportagens, de conquistas, de frustrações, de angústias e sobretudo, de amor. Leads fazem parte duplamente desta história, os dele e os meus. Sobrevivemos.
Em 1981 mudamos para o Rio. Com duas filhas pequenas, fiz muito frila em jornais, revistas até retornar à ativa. Foi na redação do jornal O Globo, onde trabalhei até mudarmos para Balneário Camboriú em meados de 1988.
Nesta redação carioca, tive o primeiro contato com um negócio chamado computador. Lembro do dia em que Roberto Marinho anunciou na gigantesca redação que havia chegado o primeiro lote de computadores para redação. Foi uma comemoração efusiva.
Em Balneário, trabalhei na redação da sucursal do jornal de Santa Catarina, que funcionava na Galeria Maxim, na avenida Atlântica.
Não havia computador e as matérias seguiam para matriz, em Blumenau, via telex.
Na sucursal conheci Bola Teixeira, era assessor do prefeito Leonel Pavan. Seguidamente passava na redação para trazer informações e nos tornamos amigos.
Numa conversa, num dia qualquer de 1991, achamos que faltava em Balneário um jornal local, impresso, notícias sobre Balneário, Camboriú…e em 26 de julho de 1991 estava na rua a primeira edição do Página 3.
Lá se vão quase 31 anos…
Moral da história: neste mês de maio me tornei uma jornalista cinquentenária.
Nota: outro dia conto um pouco mais sobre estes 50 anos de profissão…