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Balneário Camboriú
Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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A HISTÓRIA E SEUS SEGREDOS

Como integrante do Conselho Editorial da Fundação Cultural de Blumenau, coube-me opinar sobre monografia de autoria de Adalberto Day, cuja publicação em livro é pleiteada pelo autor. Trata-se de “O Vale do Garcia”, abordando a história do populoso bairro em todos seus aspectos, desde os primórdios até os dias de hoje. É um trabalho minucioso, calcado em longas pesquisas e com amplo álbum fotográfico, revelando aspectos pouco conhecidos e outros que estão fadados a provocar polêmica, inclusive porque se defrontam com a história oficial consolidada e em geral aceita sem maior contestação. Chamado no início de Grande Garcia, foi sofrendo divisões no passar do tempo, dando lugar a diversos outros bairros.

Segundo o autor, quando o Dr. Blumenau (Hermann Bruno Otto Blumenau) chegou à foz do Ribeirão Garcia, em 1848, e os primeiros dezessete colonizadores ali desembarcaram, em 2 de setembro de 1850, a região já era habitada, fato que põe em dúvida a condição do célebre colonizador como fundador da cidade que leva seu nome. Em 1830, portanto vinte anos antes, um inglês de nome não revelado teria permanecido no local, em companhia de um escravo, procurando ouro. Muitos anos mais tarde esse escravo retornaria ao local, procurando e encontrando ouro e prata para vender, mas abandonou a atividade em face da pequena produção. Em 1846, quatro anos antes da chegada de Blumenau, uma família conhecida como “gente do Garcia” habitava o lugar, no início da Rua da Glória de hoje.

Essa “gente do Garcia”, oriunda da cidade de Camboriú, onde vivia às margens do Rio Garcia, antigo nome do atual Rio Camboriú, para lá se dirigiu em busca de ouro, existente na região em boa quantidade. Em virtude disso, tanto o ribeirão, como o bairro e a empresa têxtil foram batizados de Garcia. Chegando àquele local, essas pessoas se instalaram na localidade de Nova Rússia ou Russolana, no atual bairro do Progresso, e lá se depararam com os verdadeiros donos daquelas terras, os índios carijós e xoklengs – os bugres. Eles habitavam toda a região há pelo menos 8000 anos. Tão logo desembarcaram, os novos colonizadores notaram, apavorados, a fumaça que subia aos céus para os lados do Garcia, denunciadora da presença humana. Obtendo a concessão daquelas terras, o Dr. Blumenau iniciou a colonização e tanto os Garcia como os indígenas tiveram que se retirar. Daí em diante a história é bem conhecida.

Outro fato curioso do bairro, relatado pelo autor, sobre o qual muito ouvi, se refere ao “menino santo”, de nome Vilmar. Sempre que ele subia ao telhado da residência, N. S. de Fátima aparecia num abacateiro próximo, promovendo curas e milagres. No local foi erigida uma gruta em torno da qual chegaram a se reunir cerca de 6000 peregrinos. Desvendou-se depois que tudo não passava de farsa montada pelo pai do garoto, obtendo com isso boas vantagens pecuniárias.

Foi com real espanto que li nos jornais e vi na TV a comunidade da Invernada dos Negros, de Campos Novos, batalhando pela posse de suas terras. Aquele quilombo, habitado por descendentes de escravos libertos, foi testado pelo antigo dono aos então moradores e, em conseqüência, aos seus herdeiros. Desde criança acompanhei a luta daquela pobre gente para legalizar suas terras, onde vários espertalhões já meteram a mão. Pelo que entendi, até hoje não conseguiu legalizar suas posses e está ameaçada por novas manobras para desalojá-la. É inacreditável!

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