Em nossas cabeças, a Torre de Babel se estende no sentido vertical. Mas não é o que acontece no terreno das línguas existentes no mundo. Comentando a obra de William Agel de Mello, o Prof. Adovaldo Fernandes Sampaio, um dos maiores linguistas nacionais, escreveu: “Todo vocábulo de uma língua, ao encontrar o seu correspondente em outra, expande ambas as línguas, dilatando o seu âmbito e conduzindo-as a um universo em permanente expansão, como é o que propõem os dicionários bilíngues. No caso do DICIONÁRIO GERAL DAS LÍNGUAS ROMÃNICAS, de William Agel de Mello, a língua portuguesa é posta em contato com nove de suas irmãs românicas e com a língua-mãe (…), abrindo-se para novos mundos e visões, permitindo múltiplas comparações, levando o consulente a ir muito além da intenção inicial, por mais rápida e superficial que seja, pois sabe que tem ao seu dispor vocábulos e línguas que ultrapassam o desejado”.
O próprio Agel de Mello, por sua vez, em sua concepção da Torre de Babel, anota: “À proporção em que aumentava a distância entre os homens, em ordem inversa alargavam-se as fundações da Babel. Nesse sentido, o edifício foi construído em plano horizontal, e não vertical. A distância representava a altura na concepção arquitetônica. O avanço das hostes invasoras, ou a distância percorrida pelos fluxos migratórios, marcava os limites da construção do colosso. E a multiplicação das línguas, determinada por diversos fatores, modificava as características fisionômicas do edifício bíblico. E se as línguas estão a sofrer contínuas modificações no tempo, também a Torre de Babel está submetida de modo ininterrupto a toda sorte de transformações. Assim, pois, por suas características, a Torre de Babel foi e será sempre um edifício inacabado, permanentemente em construção. Mas é um edifício eterno, em cuja construção colaboram, como mão-de-obra, todos os povos do planeta em geral, e cada indivíduo em particular”.
Fascinado pela linguística desde a juventude, William Agel de Mello afundou no estudo do assunto e deu início a uma obra gigantesca que constitui hoje um dos maiores monumentos nessa área, dando especial atenção às línguas românicas ou neolatinas, aproximando os povos que fazem uso de idiomas derivados do latim, a língua-mater. Sua realização é louvada e reconhecida por todos os experts no assunto e apontada como única em vários aspectos. É motivo de intensa admiração que uma única pessoa tenha praticado semelhante proeza. Além do estudo linguístico, exigiu do autor um exame detalhado da história e da geografia com todas suas alterações no correr dos tempos. Sem falar no contato individual e direto com milhões de vocábulos, investigando suas origens, classificações e significados precisos. Como afirmou alguém, um trabalho hercúleo.
Sua obra, no campo linguístico, consiste na publicação de um conjunto de dicionários das línguas românicas jamais realizado, sem falar na proposta engenhosa e pioneira da criação do idioma panlatino, uma contribuição notável para a aproximação dos povos.
A obra de William Agel de Mello não se restringe a essa área. Diplomata de carreira, é ficcionista, ensaísta, tradutor e articulista. No domínio linguístico mergulhou na história das línguas românicas nos tempos imemoriais, até onde as fontes informativas existentes o permitiram, revelando fatos nem de longe suspeitados. Um trabalho de arqueologia histórico-linguístico jamais empreendido, enriquecido, quando necessário, por pesquisas in loco. Em sete alentados e imensos volumes, as OBRAS COMPLETAS de William Agel de Mello constituem uma preciosidade que enriquecem sobremodo os anais da cultura nacional.