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BERNARD SHAW VOLTA AO BRASIL

Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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Nos meus dias de colégio, George Bernard Shaw (1856/1950) era vetado aos alunos. Para ler os escritos dele a gente entrava às escondidas na sala dos professores e lá se fartava com uns livrinhos em papel refinado, com impressão e tradução feitas na Inglaterra, o que dava aos textos aquelas nuances estranhas dos que escrevem num idioma aprendido na escola e pouco o praticam. Nunca esqueci que o célebre dramaturgo, depois dos noventa anos, se recusava a dar entrevistas. “Sou uma múmia e múmias não falam. Tenham-me como morto!” – dizia.

Por iniciativa do SESC, seis peças de Shaw foram encenadas em São Paulo, trazendo-o de volta ao país, de cujos palcos andava ausente há tempo. Autor de peças longas e consideradas difíceis, seu teatro encontrou certa resistência, mas a experiência mostrou que ele é um grande autor teatral, capaz de agradar aos espectadores em geral, ou seja, tem caráter universal. A encenação de suas peças reanimou o teatro de qualidade e elevou o nível de nossa arte teatral. A corajosa iniciativa foi um sucesso.

Dramaturgo, crítico musical e jornalista da área cultural, Bernard Shaw sempre foi polêmico, amigo dos debates e um frasista temido pelas observações ácidas e que irritavam a tanta gente. Muitas de suas frases correram mundo e são lembradas até hoje. Eis algumas delas: “O problema dos pobres é a pobreza; o dos ricos é a sua inutilidade”; “Traduções são como as mulheres. As bonitas não são fiéis. E as fiéis não são bonitas”; “Um jornal é um instrumento incapaz de discernir entre uma queda de bicicleta e o colapso da civilização”; “Tudo que faço é jornalismo, e nada que não seja jornalismo sobreviverá”; “Tem gente que sonha com realizações importantes, e há quem vai lá e realiza”; “Alguns homens vêem as coisas como são e dizem: por quê? Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo: por que não?”

Conta-se que a bailarina Isadora Duncan teria dito a ele: “O seu cérebro é o maior do mundo e o meu corpo é o mais belo. Deveríamos produzir o filho perfeito.” Foi quando ele respondeu: “Sim, mas que será desse filho se tiver o meu corpo e o seu cérebro?” Diz-se ainda que uma atriz, contrariada com a crítica negativa feita por ele, escreveu o seguinte bilhete: “Senhor Bernard Shaw, se eu fosse sua mulher colocaria veneno em seu vinho!” E a reposta que veio de pronto: “E se eu fosse seu marido, beberia.”

Provocador e polêmico, Bernard Shaw até morrer “parece ter ocupado a posição de consciência e de advogado do diabo da sociedade inglesa. Função que ele dizia cumprir com muita honra, pois não era inglês…” – escreveu um crítico. Nascido na Irlanda e depois naturalizado inglês, recebeu inclusive o título de “Sir”, que parecia encarar com absoluto desdém. “A profissão da senhora Warren”, “Pigmaleão” (filmada como “My Fair Lady”), “Casa dos Viúvos”, “O homem e as armas” e “Cândida” são algumas de suas peças. Seu teatro influenciou bastante alguns autores brasileiros. Em 1926 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. O retorno de Shaw aos nossos palcos é mais uma tentativa de renovar o ambiente cultural do país que vive uma fase de visível estagnação, para não dizer de decadência.

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