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CONTOS PARA NÃO ESQUECER

Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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Nascido no Paraná, o escritor David Gonçalves está radicado há longos anos em nosso Estado e reside em Joinville de cuja vida literária participa. Salvo engano meu, foi nessa cidade que produziu quase toda sua obra literária, de sorte que ela se integra à literatura catarinense. Pertence à Academia Joinvilense de Letras e à Academia Catarinense de Letras. Desde muito é figura presente nos eventos culturais do Estado.

Venho acompanhando e lendo seus livros desde muitos anos. Romancista por excelência, David Gonçalves tem o fôlego e a paciência necessários para os textos longos. Também tem produzido contos em quantidade, revelando sempre que o pó da terra natal está presente debaixo dos pés da alma, como dizia Câmara Cascudo dos autores que admirava. Sua obra é vasta e muitas delas alcançaram edições e tiragens impressionantes. Continua produzindo e revelando que a imaginação criadora nunca arrefeceu. Tem como princípio não participar de concursos literários.

Nestes últimos dias venho lendo sem conseguir parar o volume “Relógio Quebrado e Outras Histórias”, coletânea publicada por Sucesso Pocket (Joinville – 2023). São 15 histórias variadas, várias delas com títulos deveras chamativos e que aguçam a curiosidade do leitor, evidenciando a ilimitada criatividade do autor. “Ninguém mata o Diabo”, “O tempo guarda os seus cadáveres”, “O caçador de horrores”, “O enterro da mula” e “Natal na casa dos leprosos” são mostras bem ilustrativas. 

David tem um faro excepcional para criar e batizar seus personagens, de tal sorte que eles se fixam para sempre na memória do leitor. Esses nomes se adaptam às figuras retratadas com perfeição, passam a constituir um indivíduo que a gente vê em carne e osso, andando, se movendo, agindo. Jamais esquecerei, por exemplo, de Rodoão e seus estranhos caminhos, ora rindo das situações, ora me compadecendo de seus fracassos. Inesquecível também é o companheiro de bebedeiras do Arnaldo e que ensinou a ele um método infalível para calar a mulher que falava como uma “gralha’. São figuras que passam a integrar uma literatura e exigem presença no rol dos seres de ficção que passam a viver no universo dos leitores.

Os romances “Sangue Verde” e “Pés Vermelhos” constituem, a meu ver, destaques na obra do autor. É com prazer e saudade que relembro certas passagens cinematográficas do primeiro deles, lido há vários anos, e da tensão que me provocaram. Certos personagens também marcaram presença por variados motivos. Quanto ao segundo, marca pelos dramas que expõe.

A obra de David Gonçalves enfrenta a questão social, retrata a realidade, mergulha no estranho, explora o grotesco e mistura o realismo com o fantástico. Mas o ser humano e seus dramas estão sempre em primeiro plano.

Com obras traduzidas para outros idiomas e bafejado pela melhor e merecida crítica, o catarinense por adoção continua o mesmo moço modesto e de pouco falar que conheci logo após sua chegada. Felicito-o pela incansável e valiosa produção, certo de que seu nome está insculpido nos anais das letras produzidas em Santa Catarina e que venho acompanhando há meio século.

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