Corria o boato de que Gabriel García Márquez havia deixado um romance inédito. Agora isso se confirma com a publicação de “Em Agosto nos Vemos” pela Editora Record (Rio/S, Paulo) em belíssima edição encadernada. Comentava-se que ele não gostava do romance por entender que não se sustentava. Os filhos Rodrigo e Gonzalo, no entanto, não obedeceram ao pai e trataram da publicação pelos motivos que expõem no prefácio (pp. 5 a 7). Agora o livro está circulando de mão em mão e já vendeu incontáveis exemplares. Ainda é cedo para se conhecer as opiniões dos críticos.
Ama Magdalena Bach, professora, bem casada, mãe de dois filhos, é ainda uma mulher elegante e bonita. Todos os anos, no dia 16 de agosto, embarcava na barca das três horas e rumava para uma ilha cujo nome não se sabe, assim como se ignora o nome da barca. Sabe-se apenas que ficava no Caribe. A viagem é bastante demorada porque ela encontra tempo para o banho de sol e para ler. Lá chegando, hospeda-se, no mesmo hotel, antigo e meio decadente, e no mesmo quarto. Em seguida visita a mesma florista, toma o mesmo táxi, também muito antigo, e se dirige ao cemitério em que sua mãe está sepultada. É um cemitério antigo e abandonado situado numa vila pobre e repleta de casebres cobertos de folhas de bananeiras. Pouco adiante estão os hotéis e pousadas de luxo destinados aos turistas. Ela se aproxima do túmulo da mãe, deposita as flores e reza em silêncio. Mais uma vez cumprira o ritual dos anos anteriores.
Satisfeita com o dever cumprido, volta ao hotel, banha-se para afastar o calorão, e resolve descer para o jantar. Na mesa vizinha estava um homem desconhecido, vestido de maneira modesta mas elegante. Vão se aproximando, bebem um pouco e acabam dormindo juntos no quarto dela. Foi uma aventura única em sua vida. Na manhã seguinte o homem havia desaparecido sem que ela soubesse ao menos o nome dele. Para sua surpresa, ele deixou uma nota de vinte dólares entre as páginas do livro que lia. Foi um choque! Mil perguntas se atropelaram em sua cabeça sobre o que ele pensava dela. Mas era um fato consumado e não havia o que fazer. Tratou de retornar para casa na mesma barca,
Chegando, sentiu de repente que não era mais a mesma. Esforça-se, porém, para retomar a rotina caseira. O malsinado cheque de vinte dólares que ele colocara na página 116 de seu livro voltava sempre ao seu pensamento provocando intensa humilhação. Mesmo com o cheque “atravessado” continua viajando para a ilha na mesma barca das três horas dos dias 16 de agosto. Em cada viagem acontece nova aventura e sempre com um homem diferente. Até que, numa noite, decidiu resistir aos encantos de um homem muito bonito e elegante que avistou no bar do hotel. Repeliu suas investidas e não abriu a porta do quarto quando ele bateu repetidas vezes. Depois chorou de arrependimento diante da hipótese de ter desperdiçado a felicidade.
No dia seguinte, muito cedo, foi ao cemitério. Contratou um coveiro improvisado e exumou os restos mortais da mãe, colocou tudo num saco e voltou para casa. Creio que com esse gesto ela se considerava livre da promessa de visitar a mãe todo 15 de agosto. E, ao mesmo tempo, de enveredar por um caminho sem volta.
O marido estranhou a surpreendente atitude. Ela explicou então que a mãe, melhor que ninguém, entenderia seu gesto. E assim termina o esperado romance.
E aí, leitor? Qual seria a mensagem?
Confesso que não sei. Estou pensando.