Terminei de reler o livro “O Caçador de Jandaíras”, de autoria do escritor potiguar Manoel Onofre Júnior, agora lançado em sua quarta edição, revista e ampliada, pela 8 Editora (Natal – 2022). Já havia me manifestado a respeito dele e agora me estendo um pouco mais. A capa do livro, retratando um trecho da caatinga é impressionante e me leva a imaginar o Raso da Catarina, onde nunca tive oportunidade de ir, mas esteve sempre na minha mira. Como se relata, era nesse lugar inóspito que Lampião e seus cabras se refugiavam quando as volantes pululavam pelo sertão à sua procura.
Manoel Onofre Júnior é um expoente da literatura do Rio Grande do Norte, hoje bem conhecido no país, e autor de uma obra importante. Magistrado de carreira, é desembargador aposentado do Tribunal de Justiça daquele Estado e um incansável batalhador pelas coisas da cultura. Quanto a jandaíra, trata-se de uma espécie de abelha brasileira de cor avermelhada e escura, segundo os dicionários. A Enciclopédia Brasileira Globo, notável em assuntos nacionais, afirma que ela é preta com listras amarelas no abdome, constrói seu ninho ao pé das casas e fabrica mel e boa qualidade. O caçador de jandaíras é um dos mais curiosos personagens que povoam o livro.
O livro é um repositório muito vivo de lembranças, quase sempre boas, indicando que a vida, se não foi um mar de rosas, nadando em dinheiro, também não foi de tristeza e miséria como as de tantos infelizes neste país. Também não lhe faltaram os entes queridos.
A cidade natal de Martins (RN), emoldurada na lembrança, a casa paterna aconchegante, as comidas, frutas e doces, sempre fartos e deliciosos, a festa da padroeira, os carrinhos toscos, enfim, a infância livre. Como contraponto, o internato impondo a fome, como, aliás, toda prisão. Mas acredito que foi bom para temperar o caráter. (Nos livros de memórias, sempre que retratados internatos, a fome ronda os alunos. É uma constante).
Os nomes curiosos em que é pródigo o Brasil e mais ainda o Nordeste. Muitos deles são musicais, cantantes, e ficaram preservados graças às lembranças do autor.
E os tipos curiosos! Estupendos, o escrivão empolado (imagino bem a figura), as solteironas fofoqueiras e partidárias fanáticas, a visita dos cangaceiros e as marcas que deixaram.
O serviço de alto-falantes! Na minha terra era a Rádio Sonora Paroquial, está visto que pertencente aos padres. Foi através dela que soube do suicídio de Getúlio Vargas e fico me perguntando o que eu andava fazendo por lá em tempo de aula. Devia ser uma fugida rápida.
A guerra entre PSD x UDN, igualzinha à de minha cidade, sem tirar nem por. As leituras sôfregas, apaixonantes, deslumbrando e encantando. E depois a descoberta e a paixão pela música.
O jornalzinho da escola e, por fim, o surgimento do carnegão literário, desvendando a vocação irrefreável. Desabrochava o escritor.
Beleza de livro que registra uma beleza de vida. Mais um marco na carreira vitoriosa do escritor. Vão a ele os efusivos parabéns deste seu colega de ofício e companheiro de aventuras (muitas delas imaginárias).