A chamada literatura de cordel existiu na Europa desde longo tempo e veio para o Brasil nas naus cabralinas. Aqui entre nós caiu no gosto do povo e passou por notável desenvolvimento. Passou a ser cultivada em inúmeros Estados, foi aprimorada no aspecto físico e o uso de capas impressas em xilogravura se tornou frequente. Seu nome se deve ao costume de expor os folhetos acavalados em cordões distendidos ao longo de pareces ou em outros locais visíveis. A forma oral também se disseminou e costuma ter seus versos declamados pelos cordelistas em feiras, mercados, festas populares e quaisquer outros lugares onde houver aglomeração de pessoas. Muitos autores de cordéis se tornaram célebres em todo o país, a exemplo de Rodolfo Coelho Cavalcanti, Hildemar de Araújo Costa, Paulo Nunes Batista, Manoel Monteiro, João Bandeira e outros mais antigos e ainda mais famosos. Existem muitas Academia dedicadas ao gênero, inclusive em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Tive a honra de ser cantado em alguns cordéis publicados por amigos.
Meu amigo Cincinato Palmas Azevedo, mais conhecido como “Nato” Azevedo, escritor produtivo e operoso, é um dos cultores do gênero lá no Pará. Em outubro de 2023 publicou o curioso folheto “Para dar e vender” em homenagem aos escritores da Associação de Letras de Ananindeua (PA). Nesse folheto ele aborda os mais variados assuntos, dentre os quais dou uma mostra para os leitores.
DOS CÉUS . . . AO CHÃ O!
Eu já quis tudo na Vida:
carro, moto mais mansão. . .
Bela mulata fornida
de olhos verdes, “cabelão”!
Sonhei com conta num banco,
viagens, farras, “putaria”
e – para ser muito franco –
nem mesmo filhos queria!
Hoje, triste, solitário,
vou cumprindo meu calvário,
roupas rotas, pé no chão,
e quero pra mim apenas
um viver com poucas penas. . .
saúde e INSPIRAÇÃO!
ETERNO CIGANO
Onde está minha terra, me pergunto?
Nem o Deus do Universo sabe ao certo!
Triste e só perambulo, o azar junto . . .
Tenho em mim que ninguém me quer por perto.
Vivi em mil lugares tempo incerto!
Que ao fim de tudo , , , então, após defunto,
se lancem minhas cinzas num deserto
para não ser de hipócritas o assunto.
As respostas se vão, ao som do vento. . .
a PAZ entre as nações, NÃO à fronteira
cantaram John e Dylan num lamento.
Sem Estado, país, eira nem beira,
do mundo cidadão vivo, ao relento,
tendo por minha terra a Terra inteira.
Outro grande cordelista, pernambucano radicado em São Paulo, é meu amigo e correspondente há longos anos. Ativo praticante do cordelismo, pertence à Academia Brasileira de Literatura de Cordel e participa com intensidade das atividades do setor. Cícero Pedro de Assis é reconhecido por todos como inspirado e prolífico poeta. Em recente publicação, brindou-me com a seguinte homenagem.
ILUSTRE CAMPONOVENSE
Escritor catarinense
Que muito deve ser lido
E o seu rico trabalho
Literário mais vendido,
É Enéas Athanázio,
Um nome reconhecido.
É filho de Campos Novos,
O escritor de quem falo.
Tenho um imenso prazer
De aqui lhes apresentá-lo.
Quanto mais eu o estimo,
Bem mais desejo estimá-lo.
Amigo dos nordestinos
Ele é, declaro aqui,
Até escreveu o livro
Que é Fazer o Piauí,
Crônicas do Meio-Norte,
Um de seus livros que li.
Autor de uma extensa obra
De excelente qualidade,
Que agrada a todo leitor
Que o lê com boa vontade.
Enéas com os seus livros
Vem conquistando amizade.
Mora lá em Balneário
Camboriú que é tão lindo.
Ler tudo o que ele escreve
Traz contentamento infindo.
Seu trabalho literário
Sempre nos será bem-vindo.
Meu querido amigo Enéas
Feliz eu lhe homenageio.
Da nossa literatura
Você é um forte esteio.
Saiba que muito contente
Todos os seus livros leio.
(Publicado na XXX Antologia da
Academia Brasileira de Literatura
de Cordel – S. Paulo – 2023, Pág.
35).