Depois que publiquei um artigo sobre o golpismo recebi algumas mensagens de protesto. Dizem que o coronelismo nada tem a ver com o desejo de um golpe e que a influência do coronel, aqui no Sul, não foi tão grande como em outras regiões. E é justamente no Sul que o sentimento golpista é mais acentuado. Todas as manifestações, sem exceção, revelam um medo pânico do comunismo. É ele quem lhes tira o sono.
Ora, o coronelismo é um fato registrado pela História do Brasil. Basta abrir uma obra de Rocha Pombo, Gilberto Freyre ou Wilson Martins e ele mostrará sua face, sempre agindo com mão de ferro, despotismo e violência, agindo a seu talante e punindo os adversários. No seu feudo era autêntico ditador e, para ele, nada melhor que uma ditadura. Erico Veríssimo o retratou aqui no Sul; Jorge Amado no sertão da Bahia; Graciliano Ramos, José Lins do Rego e José Américo de Almeida no Nordeste açucareiro; Dalcídio Jurandir e Inglês de Souza na Amazônia. Guido Wilmar Sassi aqui em nosso Estado. Uma presença nacional cujas ideias e ações penetraram fundo.
Quanto ao comunismo, eis um receio infundado. Basta observar o panorama mundial e se vê que não existe mais. Todas as experiências comunistas fracassaram. A URSS, com todo o poderio de quem dominava meio mundo, implodiu e tanto a Rússia como seus satélites enveredaram por um capitalismo selvagem ao extremo. A China abriu as pernas para a economia de mercado e se tornou a maior exportadora mundial de quinquilharia. Restam a Coreia do Norte e Cuba, cercadas, combatidas e bloqueadas, vegetando como podem. O comunismo deixou de ser o fantasma que ronda o mundo de que falavam Karl Marx e Friedrich Engels. Eric Hobsbawm, o mais influente historiador do Século XX afirmava que qualquer iniciativa que tenha como escopo o comunismo.está de antemão destinada ao fracasso.
O verdadeiro perigo, no entanto, está bem próximo e aqui entre nós. Os capitalistas não o enxergam porque estão cegos pelo reacionarismo e agem como se não existisse. Refiro-me aos trinta milhões de brasileiros miseráveis e famintos que não comem uma só vez por dia; aos milhões de moradores das favelas que cercam todas nossas cidades, sem exceção; aos milhões de sem-terra e sem-teto que não têm onde encostar o esqueleto no fim do dia; aos milhões de mendigos e moradores de rua que perambulam pelas nossas cidades sem destino ou esperança; aos milhões de brasileiros desempregados que mendigam por um empreguinho sem nada conseguir. Essa imensa mole humana não dá mostras de ter uma consciência de classe, mas, sem dúvida, sente a injustiça de que é vítima e que se eterniza sem que o país procure resolver o problema e curar essa chaga. Algum dia surgirá um líder carismático que galvanizará essa multidão e ela avançará qual tsunami humano de maneira incontrolável e sem deixar pedra sobre pedra.
Mostra a História Universal que todas as grandes revoluções sociais tiveram a fome na sua origem e os revoltosos não se preocupavam com ideologia alguma. Não eram comunistas, nazistas, fascistas, anarquistas ou liberais. Apenas famintos.
Os recentes arrastões no Rio de Janeiro e a guerra entre traficantes e a polícia em Salvador são amostras significativas do que pode acontecer em âmbito nacional. Só não vê quem não quer.
Espero não estar aqui para assistir a essa hecatombe.