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Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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O LIVRO DE CARLINHOS BALZAC

Cada livro de Pedro Rogério Moreira é algo surpreendente. Na sua inesgotável vis criativa, ele nos brinda sempre com histórias envolventes que prendem do início ao fim. Foi o que acabou de acontecer com “O Livro de Carlinhos Balzac” (Topbooks – – Rio – 2021) que ele identifica como novela e que acabo de ler. Para mim é um misto de novela e memórias romanceadas compondo um conjunto atraente e que traz à lembrança lugares, cenas, fatos e gente do velho Rio de Janeiro, aliás nem tão velho porque ambientado no século passado.

O livro revela um escritor dotado de excelente memória, requisito que Gilberto Amado considerava essencial ao ficcionista, uma vez que o avoado, o distraído, pode ser tudo na vida exceto ficcionista, como ele dizia. Nesse sentido, é impressionante a quantidade de fatos e pessoas esquecidas no passado que ele retira do ostracismo e coloca diante do leitor. Quantos encontrei que pareciam varridos da memória, inclusive muitos que provocaram reboliço com suas atitudes. É um mergulho num passado tão próximo e ao mesmo tempo tão diferente que retrata um mundo ainda tranquilo se comparado à loucura dos dias atuais.

O narrador memorialista é um típico malandro carioca do século passado. Escolado, conhece tudo e todos, em especial as mulheres. Graças a antigas ligações de família obteve colocação na Corretora Maxim’s DTVM, cujo chefe, o Dr. Francisco José, o tomou sob sua proteção. Levava-o a jantares refinados, orientava nas jogadas e apontava negócios que poderiam ser lucrativos. Mas Carlinhos Balzac parecia receber todas essas benesses com certo enfado e pouco interesse. Mesmo assim se tornou um “expert” no mercado financeiro.

Carlinhos Balzac seria um leitor compulsivo e era audacioso. Creio que à força das comparações com episódios das obras de Balzac recebeu o apelido. Segundo outros, porém, seu conhecimento do autor francês era mais de orelha que de miolo. O autor do Posfácio escreveu o seguinte: “Ele mesmo concordava que sabia mais pela orelha dos livros do que pelo miolo e recorria ao Google para as suas citações, como Carol flagrou. Carlinhos era um leitor compulsivo, é verdade, mas passadista em seu gosto literário, tanto quanto reacionário em política e conservador em finanças…” Mas o fato é que era uma figura que parecia impressionar as pessoas. Entre suas leituras estava Humberto de Campos que ele considerava o Balzac do jornalismo brasileiro, mas isso foi mais tarde. É pena registrar que ele não concluiu suas memórias.

O relato é repleto de fatos, figuras, lugares e tudo mais que relembra o velho Rio. “Naquelas ruas e becos encardidos de História, no centro velho do Rio, Carlinhos Balzac fez o seu trottoir financeiro e livresco no final do século passado” – conclui o autor. E ele voltará à memória dos que leram o livro e por ali passarem. Graças ao engenho de Pedro Rogério Moreira.

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