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O RETORNO DE ARSÈNE LUPIN

Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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Desde muito não via nas montras das livrarias e bancas de jornais os livros dedicados às aventuras de Arsène Lupin, o mais célebre dos ladrões da França, que lia e relia nos meus tempos de colégio. Agora, para minha surpresa, topei com três títulos deles, editados por Ciranda Cultural Editora (S. Paulo – 2021).

Esse personagem ganhou espaços no cinema, na televisão e nas revistas em quadrinhos. Foi criado pelo romancista francês Maurice Leblanc, ele próprio muito famoso, por encomenda do editor Pierre Lafitte para ser publicado na revista “Je suis tout” e logo caiu no gosto do público, tornando-se ainda mais conhecido que seu criador que ficou, por assim dizer, ofuscado por ele. Os leitores admiravam a incrível imaginação do autor na criação das mais incríveis e ousadas trapaças em que a criatura se envolvia, sempre com sucesso e deixando perplexas as autoridades policiais de Paris. Partes dessas aventuras foram apresentadas no teatro e com grande sucesso.

Lupin é tão hábil e criativo nos seus furtos que parece um mágico ou prestidigitador em ação. Enquanto detetives célebres como Sherlock Holmes e Jules Maigret combatem criminosos que têm os pés no chão, o inspetor Ganimard, da Polícia francesa, seu mais dedicado perseguidor, se vê na situação de lidar com uma espécie de mágico ou adivinho. Lupin sente intenso prazer em comunicar às vítimas de seus furtos aquilo que irá furtar, o local e a hora, como que lançando um desafio à polícia. Tudo acontece como planeja, por mais cuidadosas e severas que sejam as precauções tomadas. Mesmo quando preso, vigiado com extremo rigor, consegue fugir e, ainda por cima, surrupiar o relógio do inspetor com quem conversa na cela da Santé. Numa de suas aventuras mais extraordinárias, comunica ao juiz de instrução que não assistirá ao seu próprio julgamento. E, de fato, não assiste porque é solto ao entenderem, inclusive o inspetor, que o acusado presente não era ele, embora na realidade fosse o próprio. Sua habilidade chegava ao ponto de se transformar fisicamente em certas situações.

Nestes volumes que acabo de manusear com saudade dos velhos tempos deparei com novelas e contos que marcaram época na carreira do famoso ladrão. “O retorno de Arsène Lupin” contém três trabalhos, entre eles o que dá nome ao livro, escrito em forma de diálogo e que foi apresentada no teatro com grande sucesso. Já o volume “O ladrão de casaca”, forma pela qual ele também se tornou conhecido, é uma antologia contendo nove contos, entre os quais uma trilogia muito conhecida e admirada: “A prisão de Arsène Lupin”, “Arsène Lupin na prisão” e “A fuga de Arsène Lupin”. Como ele próprio afirmava, ficaria preso enquanto quisesse e assim o leitor fica ansioso à espera de sua fuga e ela de fato acontece em grande estilo para espanto da sociedade e da imprensa. “Os bilhões de Arsène Lupin” focaliza a intrigante morte do criador de um jornal especializado em noticiar crimes. Eis que entra em cena o mais famoso escroque francês para responder a todas as perguntas que ninguém, nem mesmo a experiente polícia francesa consegue fazer.

Lupin, além de sua superior imaginação, é mestre nos disfarces e na astúcia, porta-se como autêntico cavalheiro, quando necessário, frequenta e ilude a mais refinada aristocracia parisiense e se diverte com seu refinado senso de humor. Caso único nos anais policiais. É verdade que algumas de suas aventuras extrapolam o senso comum e beiram a infantilidade mas divertem pela engenhosidade.

Pouco falando de si próprio, cercado de segredos, ele confessa que tantas mutações e piruetas o deixam cansado. “Mas acontece – diz ele – que a gente acaba não se reconhecendo mais no meio disso tudo, e isso é triste. Sinto atualmente o que devia sentir o homem que perdeu a sua sombra. Vou me procurar… e me encontrar…”

Ignoro se isso aconteceu, mas uma coisa é certa: encontrou lugar permanente da grande literatura policial.

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