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Balneário Camboriú

REVISTA ACADÊMICA ATINGE O NÚMERO 80

Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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A Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (ANRL) está publicando sua edição de número 80. Sob a eficiente e dedicada direção do escritor Manoel Onofre Jr., o novo volume tem excelente feição gráfica e conteúdo rico e variado. Ilustrada sempre com obras de artistas plásticos locais, a revista foi lançada em solenidade no salão térreo da Academia, realizando-se também a abertura da exposição coletiva “A Necessidade da Arte”, além do lançamento de livro de Oswaldo Lamartine. Foi um dia de gala para a cultura potiguar.

Entre os trabalhos publicados, atrai a atenção uma das célebres Actas Diurnas de Luís da Câmara Cascudo (1898/1986) inédita em livro. Nela, o célebre folclorista abordou a figura de Manuel Dantas, escritor e jornalista muito admirado. Cascudo foi um dos fundadores da Academia, ocupante de sua Cadeira número 13 e sua presença no cenário cultural daquele Estado é uma constante. Cascudo escreveu sobre meus contos, tinha admiração pelo meu personagem Caleco, andarilho dos Campos Gerais. Tive o prazer de visitá-lo em 1983 e passar toda uma tarde com ele e a esposa em sua casa à Avenida Junqueira Ayres. Foi em tempo, pois ele faleceria três anos depois.

Interessante e dos mais curiosos é o pequeno artigo de Manoel Onofre Jr. – “Potiguares no Diário Secreto de Humberto de Campos.”  No seu benéfico impulso investigador, ele se debruçou sobre o instigante Diário Secreto do célebre Conselheiro XX. Descobriu referências a Juvenal Lamartine e manifestações sobre ele de parte do presidente Washington Luís. Fica a impressão de que o presidente não quis recebê-lo. Também há referências a Tavares de Lyra, elogiado por Rui Barbosa, e Eloy de Souza, político potiguar que privava da intimidade do poderoso Pinheiro Machado. Humberto de Campos é escritor de minha admiração, muito li e escrevi sobre ele.  

Veríssimo de Melo (1921/1996), meu grande amigo e correspondente de longos anos revela confissões inéditas do poeta Carlos Drummond de Andrade. Em carta a Veríssimo, Drummond diz que não era inclinado a viajar, preferindo ficar no seu cantinho, embora lamentasse não conhecer o Brasil. Na idade em que estava, 80 anos, nada mais poderia fazer. Quanto ao Prêmio Nobel, dizia ser indiferente, inclusive devido ao seu temperamento tímido e reservado. Afirmava que Guimarães Rosa e Jorge Amado seriam merecedores, assim como Jorge Luís Borges, a quem admirava pela obra e pela personalidade. Tinha excelentes amigos na Academia Brasileira de Letras, mas se declarava avesso a associações que não tinham caráter profissional. Declarava, por fim, admirar a poesia de Ascenso Ferreira. A carta é um belo documento, sincero e claro. Creio, porém, que o constante afastamento do poeta está levando ao seu esquecimento. Hoje seu nome e sua obra já são menos lembrados. Escrevi uma crônica sobre seu famoso Poema da Pedra e ele agradeceu em simpática cartinha. Conheci Drummond e conversei com ele em uma reunião do Sabadoyle, no Rio de Janeiro.

Thiago Gonzaga, escritor potiguar dos mais ativos, publica extensa entrevista com Paulo de Tarso Correia de Melo, poeta consagrado, por ocasião de seus 80 anos. Perguntas bem formuladas levam o entrevistado a se abrir sobre sua biografia e sua obra. 

Em inspirado e poético discurso, Valério Mesquita destaca as obras urbanísticas realizadas na capital, em especial a nova passarela ligando o Forte dos Reis Magos ao continente com 820 m de extensão. E de fato, a obra enriqueceu e embelezou aquele recanto histórico da cidade. Segundo o sempre lembrado Cascudo, “não há trecho de terra mais sagrado no Rio Grande do Norte.” Realça ainda outras obras e eventos marcantes ocorridos na capital.

Abordei apenas alguns dos múltiplos temas tratados na revista. Cada um deles, a rigor, mereceria um comentário especial, mas seria inviável nos limites de um artigo. Há várias abordagens sobre o Seridó, sua gente e seus hábitos; referências a várias figuras destacadas no mundo das letras; páginas de memórias; comemorações, crônicas e poesias. Variedade enorme e para todos os gostos. Causa admiração a quantidade de bons escritores no Estado, muitos deles integrantes da Academia.

Encerro com um quarteto de Jarbas Martins celebrando o amor total:

“Morrer de amores é morrer total.

Não parte pelo todo. É morrer

em suas várias instâncias de viver.

Morrer de amores é morrer plural.”  

EA é sócio-correspondente da ANRL e

do ICOP/Mossoró  

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