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Balneário Camboriú
Enéas Athanázio
Enéas Athanázio
Promotor de Justiça (aposentado), advogado e escritor. Tem 60 livros publicados em variados gêneros literários. É detentor de vários prêmios e pertence a diversas entidades culturais. Assina colunas no Jornal Página 3, na revista Blumenau em Cadernos e no site Coojornal - Revista Rio Total.
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SOBRE O PIAUÍ

Como sabem meus poucos leitores, sou Cidadão Piauiense Honorário por generosidade dos integrantes da Assembleia Legislativa daquele Estado (ALESPI). Desde muito antes já mantinha intercâmbio com o Piauí, lá estive por diversas vezes, muito li e escrevi sobre uma unidade da Federação pouco conhecida mas muito curiosa. Foi o único Estado brasileiro colonizado do sul para o norte, ou do interior para o litoral, tanto que sua primeira capital, – Oeiras, – a Cidade Branca, está situada no sul do Estado. O Piauí se estende em parte pelo agreste e em parte pelo sertão, margeando o rio Parnaíba que o separa do Maranhão. Os dois Estados compõem o chamado Meio-Norte, área de transição entre o Nordeste e a Amazônia. Nunca esquecer que sertão, para nós sulistas, é o ínvio, a floresta, o matagal, enquanto lá é o semi-árido, quase deserto. Teresina, uma das poucas cidades pré-traçadas, como Belo Horizonte,  Goiânia e Brasília, é a única capital nordestina que não fica no litoral.  Essas circunstâncias ímpares deram ao Piauí uma história muito individual e própria, originando uma cultura sui generis

Numa noite destas, saltando de canal em canal na televisão, deparei com longo documentário sobre o Alto Sertão piauiense. Os repórteres e a equipe visitavam vários municípios daquela região, registrando o cotidiano de suas vidas durante o dia e a noite. Contando sempre com a simpatia e a boa vontade dos moradores, procuraram fixar um retrato verdadeiro. A realidade é entristecedora.

As cidades têm poucos habitantes. Os quarteirões imensos são ocupados em geral por uma ou duas casas de construção precária e sem qualquer segurança ou conforto. Não possuem cercados, jardins, hortas ou pomares, mesmo porque não vingariam naquela secura de terra rachada. As ruas não contam com calçamento, meio-fio ou iluminação pública. A noite é de uma escuridão total. As poucas árvores existentes são baixas, raquíticas, esgalhadas e com poucas folhas. A terra não forneceu os nutrientes necessários ao seu pleno desenvolvimento ou, talvez, tenha faltado chuva na época devida. A impressão que fica é de que cada família vive num sítio isolado, ainda que esteja no centro urbano.

As noites são tétricas. Sem energia elétrica, não há iluminação, rádio, televisão, telefone ou geladeira. Alguns moradores tiveram a ideia de instalar placas para a captação da abundante energia solar. Como são poucas, não alimentam vários aparelhos ao mesmo tempo; é preciso optar por um deles.  

Água, como é de imaginar, é produto raro e custoso. Vem das lagoas nas pesadas latas nas cabeças ou em baldes, um em cada mão. Os caminhões-pipas abastecem as cisternas de tempos em tempos. Nessas condições, a higiene só poderia ser precária.

A carne de bode e a macaxeira são as bases da alimentação. Outros alimentos são consumidos de forma esporádica. 

Às perguntas dos repórteres responderam que jamais consultavam médicos e muito menos dentistas. Os sorrisos revelavam sempre a falta de dentes. E muitos.

Um garoto de oito anos, deitado numa rede, afirmou que não conhecia iluminação, energia elétrica, e outro, com cerca de cinco anos, indagou como é a chuva. Não conhecia.

Para ir à escola as crianças caminham muitos quilômetros com o caderninho sob o braço. Retornam exaustas, mas, mesmo assim, têm que ajudar no trabalho.

Todos são brasileiros, amam o país que deles esqueceu e os abandonou.  Não deixam a sua terra, ainda que sofrendo.

Essa triste realidade um dia mudará? É possível acreditar?

Aqueles “conterrâneos” precisam de ajuda, de socorro urgente. O Estado, sozinho, não tem capacidade econômica para resolver o gravíssimo problema.

É imperioso que o governo federal deixe de lado a politicagem e abra os olhos para a realidade nacional.

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