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WHITEHAVEN

Com esse título enigmático, a poeta paulista Márcia Villaça da Rosa me ofereceu um livro de sua autoria publicado pela Editora Matarazzo (S. Paulo – 2019). O volume reúne poemas e crônicas a respeito de instituições artísticas e culturais espalhadas pelo mundo. Whitehaven, segundo variadas interpretações, significa cidade inglesa, porto branco, praia, refúgio, abrigo, sossego, esperança e também se relaciona com viagens. É o que a autora parece sugerir quando associa o local a outros recantos do país e do mundo no poema-título. Nos poemas há muito sobre viagens, o que se justifica porque, como dizia Hemingway, viajar e escrever são continuidades. A poeta anseia por partir quando exclama: “Deixem-me ir, quero partir…/Atracar em novos portos, emancipar-me!” Em “Saint Lazare” o ímpeto de ir, viajar, partir também se insinua. Estações ferroviárias, rodoviárias, marítimas, aeroportuárias, Gare de Saint Lazare, Gare du Midi, Gare Central. 

A ideia de refúgio se casa com o silêncio que a poeta inscreve no poema: “O silêncio é a morada da solidão/O silêncio é saber dizer sim e não!/O silêncio é segredo divino/O silêncio é a plenitude do adeus…” O amor, tema preferencial de todos os poetas, também se apresenta e em várias oportunidades. As faces do amor e as fases do amor, onde mora o amor, o amor é dono de si, que seria do mundo sem o amor?

No correr da obra a autora revela intimidade com a grande literatura. Amor de perdição (Camilo Castelo Branco), as lições de Lord Byron e a melancolia dos últimos românticos, Moulin Rouge (Toulouse Lautrec), prefácio interessantíssimo (Mario de Andrade), espumas flutuantes (Castro Alves), tupi or not tupi (Oswald de Andrade), rebelde sem causa (Lima Barreto), a insustentável leveza do ser (Milan Kundera), Shakespeare, construção, tijolos, operários (Vinicius de Moraes) etc. Mas também ouve as ruas: ao bom entendedor meia palavra basta, mais vale um pássaro na mão do que dois voando, quanto mais se procura menos se encontra, quem ama o feio bonito lhe parece, as paredes escutam mais do que os ouvidos, quem nada deve nada teme. . .Também lança um olhar enternecido aos oprimidos, renegados, molestados. Aos mendigos, pedintes, seres que vivem nas ruas.

Poesia erudita, rica, atitude, indagação, reflexão, comportamento. Poesia para rechear a vida.

Na segunda parte mais andanças: roteiros culturais. Casa Leopardi, em Recanati (Itália), Chillons Castle, onde Lard Byron, último dos ultrarromânticos produziu obras primas, Fundação Shakespeare, no local do nascimento do poeta, Keats & Shelley Museum, em Roma, e por fim o Museu Monteiro Lobato, em Taubaté.

O Museu Monteiro Lobato funciona na chamada Chácara do Visconde, situada na cidade de Taubaté (SP), onde residiu José Francisco Monteiro, o Visconde de Tremembé, avô materno do escritor. Embora se afirme que Lobato nasceu no local, a versão é desmentida pela História. Segundo Edgard Cavalheiro, o mais autorizado biógrafo de Lobato, ele nasceu em uma casa situada no centro da cidade, depois sede da Prefeitura Municipal e Museu Histórico. O biógrafo estampou inclusive uma foto do casarão entre as páginas 14 e 15 do primeiro volume do livro “Monteiro Lobato – Vida e Obra” (Editora Brasiliense – S. Paulo – 1962). Como a casa foi demolida, para justificar o erro, trataram de alterar a História, como é comum no país. Nas minhas visitas ao Museu deparei com um acervo muito pobre e uma biblioteca sem maior expressão. Procurei nessas visitas algumas publicações básicas sobre o escritor e não as encontrei. O escritor Trajano Pereira da Silva, grande conhecedor da vida/obra lobatiana, morreu inconformado com os erros existentes nas informações fornecidas pelo Museu. Dizia ele que existia uma espécie de orgulho bairrista ou ufanismo quando se tratava de Lobato, mas nenhum empenho em estudá-lo de verdade. Lamentável. 

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