A minha mente cotidianamente é invadida por múltiplos pensamentos. Nem sempre claros, explicáveis ou compreensíveis. Por vezes, há turbulências e desconexões. E estes movimentos são intensificados particularmente quando leio, assisto a algum filme ou alguma peça teatral, quando ouço uma canção, visito um museu… A Arte em suas múltiplas linguagens tem um poder incrível sobre minhas percepções e fruições.
Recentemente esses circuitos artísticos andaram me dando trabalho e justo nas férias! Seria o ócio criativo de Domenico de Masi?
Bem, foi uma sequência de experiências que aparentemente não tinham a intenção de conexão, mas, pelas circunstâncias e aleatoriamente, assisti sequencialmente a Divertida Mente 2 (amo animações infantis!), andei no túnel do tempo com Máfia no Divã, reencontrei Cisne Negro e conclui a densa leitura A Vegetariana, da escritora coreana Han Kang.
Esse circuito me fez penetrar nas personagens, nas suas e, por certo, nas minhas dores, angústias, estresses, fobias e alucinações. As personagens são rodeadas de desafios e pressões que atingem profundamente a percepção da realidade e das suas próprias identidades.
Você já se perguntou em algum momento se a situação vivida por você era sonho ou realidade? Se era você ou o estranho?
Então, não sou especialista em psicologia ou psicanálise, mas sou uma pessoa, talvez como você, atravessada por milhares de questionamentos e muito atenta aos meus sentimentos e (confesso!) atentíssima aos sinais dos que me cercam. Não escapa nada – quem me conhece sabe que até já fiz previsões, mas calma! Eram apenas “previsões estrelares”. Essa minha mania de querer entender tudo chega a ser até chata, e acredito que escrever seja mais um caminho de partilha e ressignificação daquilo que fica pipocando em mim.
Então, se até um gângster tem suas necessidades de terapia, imagina eu. Queria mesmo ter o poder (quem sabe?) daquela mesa de controle de Divertida Mente – ah, seria só alegria! –, também ser a personagem principal de A Vegetariana – não me desnutriria da vida e da necessidade de enfrentar a casa, os estereótipos e todos os carnívoros sedentos da posse dos corpos femininos e feministas. Quem sabe dançaria o Cisne Branco e o Cisne Negro sem naufragar na ambição do outro e do eterno desejo de sermos obedientes e disciplinadas – sermos as melhores mesmo que condicionadas ao flagelo pessoal ou da despersonificação.
As asas interiores ocultam tantos voos, tantas mortes e tantas passagens que as penugens desenvolvidas pela Yeonghye (personagem central de A Vegetariana) se fundem na plumagem de Nina (Natalie Portman – protagonista do Cisne Negro) e avançam na engendrada luta de sentimentos/emoções que vão ocupando espaços e diferentes contornos na vida de Riley (personagem principal de Divertida Mente).
Bem, a personagem Paul Vitti (Robert De Niro – Máfia no Divã) e o humor envolvido na busca de ajuda com um psiquiatra ajudam pelo menos a lembrar que, particularmente, terapias e análises, no caso da psicanálise, nos convocam a retroceder, olhar para dentro, para a infância, para as relações maternas, para os símbolos, os significantes… (dependendo da linha escolhida pelo terapeuta) e abrem caminhos para a autorregulação e talvez o equilíbrio saudável das nossas emoções.
Entrelaçar esses enredos me fez cruzar caminhos pessoais e me defrontar com conturbados pensamentos e emoções que preciso regular. Talvez sim, talvez não. Será mesmo?