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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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A LENDA DO HOLANDÊS VOADOR

O mar é um espaço repleto de mitos e lendas. Dentro deste rico universo, os navios fantasmas ocupam um espaço de importância, por estarem associados a maldições e trazerem em si o temor da infinitude humana. Marinheiros condenados a vagar pelas ondas sem nunca descer em terra, sem nunca reencontrar seus lares e pessoas amadas. O navio fantasma é, antes de mais nada, um espaço de horror encarcerado na própria existência.

Talvez uma das mais famosas histórias envolvendo este universo seja a do Holandês Voador (The Flying Dutchman), retratado na série de filmes “Piratas do Caribe – O Baú da Morte” (2006) e, por isso mesmo, relembrado de tempos em tempos. Como diversas lendas marítimas, sua origem perdeu-se no tempo. Acredita-se que tenha surgido no século XVII ou antes disso; apresentando diversas versões que hoje se fundem em uma só. 

O termo “The Flying Dutchman” refere-se ao capitão e não ao navio que o transportava. Uma das versões mais antigas diz que nas proximidades do Cabo da Boa Esperança (África do Sul), o capitão holandês Hendrick Van Der Decken insistia em levar seu navio de volta a Amsterdam em meio a uma terrível tempestade. O navio pertencia a Companhia Holandesa das Índias Orientais, e transportava especiarias e produtos exóticos da Ásia para Europa. A região em que se encontrava, desde sempre, é conhecida por suas tormentas e pelos inúmeros naufrágios que jazem no fundo do oceano. Contudo, Hendrick zombava da tempestade, bebendo, fumando e cantando canções religiosamente provocativas. A tripulação em desespero, implorava ao imprudente capitão para desviar da tormenta. Diante da recusa, muitos se amotinaram. 

Irritado com a insubordinação dos marinheiros, Hendrick sacou de sua arma, matou o líder dos amotinados e jogou seu corpo ao mar. Neste instante, as nuvens acima do barco se abriram e uma voz estrondosa surgiu, dizendo que ele era um homem muito teimoso. A reação do capitão foi desafiadora e carregada de ódio, dizendo que nunca havia pedido por uma viagem tranquila e que aquilo não era da conta de ninguém. Ao finalizar sua fala, sacou novamente da arma e atirou ao céu acima de sua cabeça; mas ao invés do tiro, a arma explodiu em sua mão. 

Deste momento em diante, uma terrível maldição teve início. O navio e sua tripulação estavam condenados a navegar pela eternidade, sem nunca alcançar terra firme. A tripulação seria transformada em mortos vivos, permanecendo no fundo dos mares e subindo eventualmente para nunca atingir o litoral. O navio seria uma imagem espectral da maldição, e quem a avistasse morreriam também ou nunca mais teriam paz. Com o passar dos anos, a tripulação e o navio se tornariam um só; e a memória de vidas passadas seriam para sempre, esquecidas.

Em uma outra versão da lenda, o próprio Diabo apareceu ao ouvir o Capitão dizer que iria navegar até o “Juízo Final”, e embora o condenasse a navegar para sempre, deu a ele um alento: a cada sete anos, o capitão podia desembarcar por alguns momentos em terra firme para se redimir pelo amor de uma mulher fiel, encontrando assim, sua salvação. Essa variante da história gerou a imagem do capitão e o Diabo jogando dados a bordo do navio fantasma, em uma luta simbólica pela posse de sua alma. 

A lenda do Holandês Voador é uma fábula que nos faz pensar sobre a imprudência da navegação e a arrogância daqueles que navegam. Mesmo assim, de tempos em tempos, é revivida com pessoas que afirmam ter avistado a embarcação fantasma. Um dos registros mais antigos vem da obra “Travels in parts of Europe, Asia, and Africa, during a series of thirty years and upwards”, publicada originalmente em 1790. 

Em 1835, um capitão inglês afirma ter quase realizado um colisão com o navio fantasma durante uma tempestade; mas no momento da colisão, o Flying Dutchman teria desaparecido como por encanto. Outra aparição famosa data de 1881, quando o navio de guerra britânico HMS Bacchante avistou o navio fantasma às 4hs da madrugada. O avistamento foi realizado pelo futuro rei George V e o príncipe Albert Victor que na época prestavam serviço militar, e o fato foi registrado pelos oficiais do Almirantado nos papéis do The Cruise of HMS Bacchante

No século XX ele foi avistado na praia de Muizenberg em 1939 por um grupo de banhistas; e em 1941 na praia de Glencairn, ambas na Cidade do Cabo, África do Sul. O último registro conhecido vem de um almirante de submarino alemão durante a 2ª Grande Guerra. O nazista Karl Donitz o teria avistado nas proximidades de Suez, no Egito.

Atualmente, cientistas sugerem que avistamentos deste tipo – navios fantasmas – possam ocorrer devido ao efeito térmico conhecido como Efeito Fada Morgana. Trata-se de uma miragem em alto mar, vista na linha do horizonte, quando o encontro do ar quente e frio produzem uma imagem fractal e distorcida (refração), muitas vezes de objetos distantes. Esse efeito também pode ser observado no horizonte de um deserto ou mesmo em altas montanhas.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)
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