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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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A MÁQUINA DE MERGULHO DE JOHN LETHBRIDGE

Não existe limites para a curiosidade humana. Muitas vezes, ela é movida pela necessidade de dinheiro, como foi o caso do inglês John Lethbridge (1675-1759), que buscava inovação na técnica de resgate de tesouros submersos. John era um vendedor de lã em Newton Abbot, uma cidade comercial de Devon, Inglaterra. Logo sua “máquina de mergulho” ficou conhecida pela Companhia das Índias Orientais e também por outros mergulhadores profissionais da época. Segundo edição da Gentleman’s Magazine de setembro de 1749, ele justificava sua trajetória como “a necessidade é a mãe das invenções, e sendo o ano de 1715, bastante difícil, e tendo uma família numerosa, meus pensamentos se voltaram para um método extraordinário, para recuperar meus infortúnios…”

Lethbridge misturou elementos do Sino de Mergulho com o traje autônomo, criando algo completamente original para a época. Em nenhum momento ele negou seu objetivo de resgatar tesouros submersos, e sua prestação de serviços às grandes empresas navegadoras da época o elevou de um modesto vendedor de lã, a um dos homens mais ricos da região, dono de propriedades em Kingskerswell. Antes, contudo, mandou fazer em Newton Abbot, um pequeno lago em seu jardim, para testar o aparelho.

A máquina – ou Tambor – de Lethbridge era um cilindro de carvalho do tamanho de um homem, com aros de metal por dentro e por fora, para compensar a pressão da água. O mergulhador ficava deitado de bruços o tempo todo, no fundo do barril, com os braços enfiados em dois tubos feitos de couro impermeável, com graxa para evitar infiltrações; mas a aplicação e detalhe da graxa nunca foram exatamente explicados. Para sua visibilidade, instalou uma janela redonda, que lhe permitia uma boa visão do fundo do mar. O barril era baixado e erguido no mar por um sistema de cordas e roldanas manuais, presas no mastro de um navio. A máquina não possuía dutos de renovação de ar. Para isso, era trazido à superfície e acionado um sistema de foles manuais.

Em seus testes iniciais, permaneceu por 18 e 22 metros de profundidade, por 30 minutos. Suas demonstrações incluíram apresentações no Rio Tâmisa (Londres) para a Companhia das Índias Orientais; e também em Marselha, França. Jornais de Londres relatam que ele submergiu com bebida e carne, acendendo uma fogueira dentro de sua máquina, onde assou um bolo. O aparelho de Lethbridge é considerado o primeiro traje de mergulho atmosférico, ou seja, ele criava um ambiente dentro de uma cápsula artificial, isolando o mergulhador do contato com o mar, e consequentemente dos riscos fisiológicos da pressão e narcose.

As duas únicas limitações do aparelho de Lethbridge eram a pouca mobilidade de seu corpo – só os braços se mexiam – e a pressão da água sobre os braços, que ficam para fora do aparelho. Contudo, isso parece que não foi uma barreira no processo de trabalho do inventor, pois prestou serviços contínuos como salvador de tesouros à British East India Company e Dutch East India Company.

Um dos mais famosos resgates de Lethbridge ocorreu em 1724. Naquele ano, o navio Slotter Hooge, da Companhia Holandesa das Índias Orientais, afundou em uma tormenta na pequena ilha de Porto Santo, no arquipélago da Madeira. O navio tinha 850 toneladas e era capitaneado por Steven Boghoute, que partiu em 19 de novembro da Holanda em direção à Jacarta via Cidade do Cabo, seguindo pelo Oceano Índico. Apenas 33 homens dos 254 a bordo sobreviveram ao desastre. Nos porões do naufrágio, a 18 metros de profundidade, jaziam toneladas de lingotes de prata, distribuídas em 15 arcas e diversos baús repletos de moedas (reais espanhóis) além de outros objetos de valor.

Pouco tempo depois do naufrágio, a Companhia das Índias Holandesas contratou Lethbridge, então já um renomado técnico na área do resgate de tesouros submersos. Em suas primeiras tentativas, recuperou 349 lingotes de prata e 9 mil moedas, deixando os representantes da Companhia Holandesa das Índias Orientais, bastante satisfeitos! Dez anos após o naufrágio, Lethbridge ainda recuperava peças do Hooge, quando finalmente desistiu, verificando que o restante do tesouro estava enterrado nas profundezas de um mar de areia. Ao final do último verão de trabalho, e centenas de mergulhos, havia resgatado quase a metade do total perdido no Slotter Hooge.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (clique aqui)
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