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CHING SHIH – A RAINHA PIRATA CHINESA

Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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Existem protagonistas, cujas histórias, são dignas de um filme de cinema. Ching Shih – também chamada Zheng Yi Sao – foi uma dessas pessoas. Esta mulher chinesa, comandante da Frota das Bandeiras Vermelhas, se tornou líder de milhares de piratas no século XIX; e parece não encontrar paralelo quando o assunto é pirataria marítima.

Sabemos pouco sobre sua infância e juventude. Ela nasceu pobre, como tantas outras crianças da Província de Cantão (China) no ano de 1775. Sua origem foi humilde e marcada pela necessidade de sobrevivência, por pequenos furtos e trocas propositais de nomes para manter-se protegida. O que distinguia Ching Shih das outras crianças, parece ter sido uma notável beleza e inteligência. Mais do que inteligente, ela parece ter desenvolvido uma sagacidade e perspicácia típica das pessoas que lutam pela sua sobrevivência desde pequenas. 

A primeira referência que temos dela provém dos bordéis da cidade de Guangzhou: um lugar violento, corrupto, multiétnico, repleto de comércio ilícito, apinhado de gente e frequentado por homens de carreira duvidosa e obscura. Um de seus clientes mais assíduos foi Zheng Yi, um pirata candidato ao controle de poder no litoral sul da China. Zheng era comandante de uma frota de navios conhecida como Frota da Bandeira Vermelha. Numa noite em que se encontrou com Ching Shih, o que parecia ser apenas mais uma aventura sexual tornou-se um pedido de casamento. Em 1804, o casal havia reunido uma Confederação composta por 70 mil piratas e 1200 navios, divididos em esquadras identificadas por cores: Branco, Preto, Amarelo, Verde e Azul. Contudo, em 1807 um incidente terrível deu espaço a criação do mito da Rainha Pirata. Zheng Yi foi atingido por uma violenta tempestade, que lhe tirou a vida aos 42 anos, assim como de muitos de seus homens. Ao receber a notícia, Ching Shih – agora oficialmente Zheng Yi Sao (Viúva de Zheng) – agiu de forma rápida, consolidando os privilégios e o poder que havia conquistado.

Ching Shih foi uma mulher com visão além de seu tempo. Como prova disso, manteve a obediência dos piratas através da imposição de códigos e leis que deveriam ser seguidos sem hesitação. As leis eram diretas, objetivas e brutais; e notamos que, em várias delas, existia a preocupação em defender a posição de mulheres capturadas. As punições para quem as infligisse eram geralmente executadas com a decapitação. 

Em 1810, o poderio da Frota pirata era tão grande e influente, que nem toda força da Marinha Imperial Chinesa unida conseguia contê-la. Pior, muitos tenentes imperiais preferiam sabotar seus próprios navios a entrar em confronto direto com as forças piratas. Em uma das tentativas imperiais para conter os piratas, Ching Shih mostrou todo seu brilhantismo tático indo inesperadamente de encontro aos navios da marinha chinesa, antecipando o ataque inimigo e roubando 63 dos grandes navios do imperador, que foram incorporados a Frota das Bandeiras Vermelhas. Aos marinheiros do governo imperial, Ching Shih oferecia as seguintes opções: ou tornavam-se piratas prestando serviço a Frota, ou teriam seus pés pregados no convés, seguido de espancamento até a morte. Não é preciso dizer que desta forma, a Rainha dos Piratas substituía com bônus, os piratas eventualmente mortos em combate.

Contudo, com o passar dos anos, Ching Shih reavaliou sua posição. Ela sabia que um poder tão absoluto atraía traições e outros tipos de problemas. E logo eles começaram a aparecer. O comandante da Frota Verde rebelou-se e aceitou a anistia do governador de Guangzhou, trocando de lado junto com seus homens. Também o Imperador chinês prometeu eterno combate aos piratas, e para isso obteve o apoio da frota portuguesa nesse confronto, em troca de benefício comerciais. Diante dos problemas que iam se acumulando, Ching Shih – num ato de extrema autoconfiança – negociou o perdão com o governo, para si e seus homens. Mais que isso, negociou um título social que a permitia frequentar a elite chinesa, e o direito de administrar seu próprio negócio: um prostíbulo de luxo e cassino.

E desta forma, Ching Shih se aposentou de seus crimes e da pirataria, como uma mulher poderosa, admirada e rica; até suas morte aos 69 anos, enquanto dormia calmamente em sua cama. 

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (clique aqui).
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