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COSTA RICA – OS NAUFRÁGIOS DE CAHUITA

Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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Quando falamos sobre histórias náuticas, muitas vezes o conhecimento popular pode funcionar como indicativo de acontecimentos a muito tempo esquecidos. Vários naufrágios foram localizados a partir de ditos populares como, por exemplo, o Whydaw do capitão Samuel Bellamy. Na ocasião, um enorme tesouro foi desenterrado juntamente com o naufrágio. Mas nem sempre isso acontece.

Em 1826, pescadores se estabeleceram no litoral sul da Costa Rica, onde hoje se encontra o Parque Nacional de Cahuita. Já naquela época, os moradores falavam de dois navios piratas naufragados no local, devido a um confronto armado que os levara ao fundo do mar. Contudo, uma estranha descoberta alterou totalmente essa visão popular sobre os naufrágios: a descoberta de tijolos de cor amarela.

Quando alguns tijolos deste tipo foram trazidos à tona, imediatamente os arqueólogos do Museu Nacional da Dinamarca foram acionados. Isso porque os tijolos haviam sido produzidos na cidade alemã de Flensburg nos séculos XVIII e XIX para as colônias dinamarquesas. Eram tijolos muito específicos e atípicos para a época. Da mesma forma, pesquisadores dinamarqueses já haviam anotado a perda de dois naufrágios negreiros na América Central em 1710: o Christianus Quintus que teve suas cordas cortadas e foi arrastado para alto mar, e o Fridericus Quartus que foi incendiado.

Em 2023, arqueólogos marinhos do Museu do Navio Viking e do Museu Nacional da Dinamarca recolheram amostras de tijolos e pedaços de madeira do local. O resultado de laboratório apontou que a madeira retirada era de carvalho do Báltico, datada entre 1690 e 1695, confirmando assim a época dos navios. A argila usada nos tijolos também mostrou ser de proveniência da região ao sul da Dinamarca no século XVIII. Em comunicado a imprensa, David Gregory – chefe de pesquisa – do Museu Nacional da Dinamarca, confirmou a identificação dos destroços.

Os navios faziam a rota de Copenhague para África Ocidental (Gana), onde carregavam seus porões com escravos, seguindo dali para o mercado da América Central na colônia holandesa de St. Thomas. Documentos históricos localizados nos arquivos dinamarqueses comprovam que o navio Fridericus Quartus sofreu um motim a bordo, por causa de uma indecisão dos capitães de ambos navios. Em uma noite escura no Mar do Caribe, erraram o rumo de navegação indo parar no litoral da Costa Rica. Por dois dias, com medo dos nativos locais, discutiram se deviam desembarcar para busca de água e comida ou zarpar antes que piratas os abordassem. Neste ínterim, parte dos marinheiros e os escravizados que se encontravam acorrentados conseguiram escapar e se amotinaram. Das 800 pessoas que haviam a bordo, cerca de 650 desembarcaram e permaneceram na Costa Rica, formando as primeiras comunidades locais.

A importância da exploração desses dois naufrágios – que agora sabemos, não pertencem a piratas – está na construção do passado e na identidade do povo local. Muitas famílias afrodescendentes acreditavam que seus antepassados se estabeleceram no local 100 anos mais tarde, oriundas do processo escravagista entre América e África; mas na verdade muitas comunidades foram fundadas pelos amotinados do Fridericus Quartus e do Christianus Quintus.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e editor da revista Gilgamesh. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a página: (revistagilgamesh.com.br)

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