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JAN JANSZOON – O PIRATA RENEGADO

Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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Jan Janszoon van Haarlem (c.1570 – c.1641) foi um marinheiro de muitos nomes. Chamado ao longo da história como Jan Janssen, John Barber, Capitão John, Jan Janz, Morat Rais, Murat Rais, Morat, Caide Morato ou simplesmente Little John Ward. Sua fama e seu nome variavam de país a país, mas todos se referiam a uma mesma pessoa: um holandês de Haarlem, renegado cristão que abraçou a causa muçulmana, convertendo-se ao islamismo, em nome do poder e da riqueza. Foi um dos almirantes piratas mais temidos da República de Salé, também conhecida República dos Piratas do Bu Regregue, em Marrocos. 

Não temos informações sobre sua infância, mas sabemos que em 1600 ele já atuava como corsário para as “províncias unidas” (Países Baixos / Holanda) durante a Guerra dos 80 Anos (1568-1648). O adversário neste evento foi a Espanha, da qual as ditas províncias esperavam conquistar sua independência. Jan atuava como corsário, ou seja, possuía uma Carta de Corso (licença para saquear) que o autorizava a atacar navios espanhóis dentro de um determinado espaço geográfico ao longo do citado conflito. Mas Jan almejava mais! Buscava por lucro pessoal, e isso o fez navegar além dos limites permitidos por sua autorização; avançando ao largo do litoral africano – Costa da Barbaria – onde atacou navios de várias nacionalidades. Durante seus atos, içava bandeiras de nações diferentes para enganar suas presas. Mas em 1618 foi capturado por piratas muçulmanos, convertendo-se em pouco tempo ao islamismo. Apenas seis anos depois, estava liderando expedições de saque pela Europa, em locais como Irlanda e Islândia. A rápida adaptação de Jan – e sua conversão de cristão em muçulmano – ocorreu provavelmente porque existiam outros europeus na mesma situação. Um deles foi Ivan Dirkie De Veenboer, também chamado Slemen Reis ou Sulayman Reis. Juntos, os compatriotas holandeses – agora corsários muçulmanos – operavam uma frota de 18 navios. 

Com a morte de Sulayman em uma abordagem pirata no ano de 1619, Jan decidiu seguir de Argel para a Salé, no litoral marroquino, onde tornou-se conselheiro e almirante de frota da República Pirata de Salé. A região prosperou muito nessa época, e Jan da mesma forma enriqueceu com a venda de cativos e produtos roubados. Sua atuação foi tão impetuosa e bem coordenada, que em pouco tempo foi eleito governador da república pirata. Contudo, dono de um espírito irrequieto, não se contentava em administrar uma frota e cuidar de problemas burocráticos cada vez maiores, que lhe eram impostos devido a seu cargo como governador. 

Em 1622, partiu cada vez com mais frequência para expedições de saque no Canal da Mancha, Irlanda, Islândia, Córsega, Sardenha, Sicília e Baleares, além de outras regiões ao norte da Europa. Em seu país natal – a Holanda – foi hostilizado pelas autoridades, mas acabou por angariar patrícios para a causa pirata. Suas andanças continuaram até 1635, ano em que foi atacado e aprisionado pela Ordem de Malta (Cavaleiros Hospitalários), que na época havia deixado seus princípios beneditinos de lado para agirem como uma facção militarizada, quase como piratas no Mediterrâneo. Jan e muitos de seus homens foram assim jogados por cinco anos nas terríveis e insalubres masmorras da ilha de Malta, de onde só saiu em 1640 com a saúde bastante abalada.

Após este incidente, a carreira de Jan Janszoon declinou. Em 1640, de retorno ao Marrocos, recebeu a vista de sua filha Lysbeth Janszoon, que permanece um ano em sua companhia, mas que o descreve como um homem “velho e fraco”, em parte pela sua perda de poder, em parte pela saúde abalada pela estadia nas masmorras de Malta. Após essa data, as informações sobre Janszoon praticamente desaparecem. 

Jan Janszoon / Murat Rais pode ser entendido como parte de um movimento até certa forma constante, de cristãos que por diversos motivos se lançaram a pirataria, muitos deles atuando em nações que não eram as suas de origem. Ao que tudo indica, a conversão religiosa não era empecilho moral para a atuação desses homens que, antes de tudo, buscavam lucro e poder. 

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e editor da revista Gilgamesh. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a página: (https://www.revistagilgamesh.com.br)  

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