Quase sete mil crianças que frequentam os 27 Núcleos de Educação Infantil (NEIs) de Balneário Camboriú participaram da Semana do Brincar, que começou na segunda-feira (26) e terminou na sexta-feira (30). Cada escola organizou a sua Semana do Brincar, com base em orientações que recebeu do Departamento de Educação Infantil, da Secretaria de Educação, para promover uma programação que valorize o brincar livre.
A secretária de Educação, Maria Ester Menegasso disse que esta é uma maneira de reforçar a importância de trabalhar uma infância saudável.
“São momentos que valorizam o brincar livre explorando a imaginação das crianças”, acrescentou.

A diretora do Departamento de Educação Infantil, Francieli Carvalho Taborda, definiu a Semana do Brincar como um movimento que mobiliza a sociedade criando oportunidades para que o brincar aconteça em diferentes contextos.
“O objetivo é valorizar o direito da criança ao brincar, destacando a sua importância para o desenvolvimento infantil”, enfatizou.
Francieli tem longa experiência com educação infantil. É graduada em Pedagogia, especialista em Educação Infantil, Mestre em Educação, vencedora dos prêmios Profissional Transformador (2022) e Educador Nota 10 (2023).
Nesta reportagem Francieli fala sobre a Semana do Brincar e explica o que ela representa para os pequenos e detalha as mudanças que vieram com o tempo, porque o brincar deixou de ser visto apenas como recreação ou tempo livre e hoje educadores e especialistas entendem o brincar como parte fundamental do desenvolvimento infantil.
Acompanhe:

JP3 – Qual é a importância desta Semana?
Francieli Taborda – A Semana Municipal do Brincar, instituída pela lei nº 4160/2018, está em consonância com a Semana Mundial do Brincar, promovida e incentivada pelo movimento Aliança Pela Infância, sendo uma iniciativa fundamental para promover a valorização do brincar como um direito essencial da criança, reconhecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pela Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU. Essa semana é tradicionalmente celebrada no final de maio e pode envolver não apenas as escolas, mas também as famílias, comunidades e instituições públicas e privadas em uma mobilização pelo brincar livre, criativo e significativo.
Esse movimento é importante, pois reafirma o brincar como um direito, ajudando a lembrar a sociedade disso e reforçando a necessidade de respeitar o tempo e o espaço da infância. Também promove o desenvolvimento infantil, pois por meio das brincadeiras, a criança aprende a se expressar, resolver problemas, criar, cooperar e entender o mundo à sua volta. Convida a desacelerar o ritmo da vida moderna, que muitas vezes impõe rotinas exaustivas e o consumismo às crianças.

A semana também incentiva o resgate de brincadeiras simples e não estruturadas, afastando os pequenos da dependência excessiva de telas, por exemplo. Fortalece vínculos afetivos, uma vez que os adultos podem participar das brincadeiras com as crianças, fortalecendo os vínculos familiares e comunitários. Valoriza a cultura da infância, pois é uma oportunidade de resgatar brincadeiras tradicionais, cantigas, brinquedos feitos à mão e outras expressões culturais que fazem parte da identidade infantil, além de inspirar políticas públicas, no sentido de desenvolver espaços e práticas que favoreçam o brincar no cotidiano das crianças.
JP3 – Como são organizadas as atividades das crianças?
FT – A cada ano, o Movimento Aliança pela Infância propõe um tema diferente a ser abordado e levado em consideração no planejamento das propostas. Esse ano, o tema proposto é “Proteger o encantamento das infâncias”, com vistas a valorização da importância do brincar livre, uma linguagem natural da infância e que garante o desenvolvimento das aprendizagens.

Levando em consideração o tema proposto, o Departamento de Educação Infantil formula e envia para todas as unidades de Educação Infantil, orientações relacionadas à temática e também propostas que podem servir de inspiração para os planejamentos de cada Núcleo. A partir das orientações, as equipes das unidades planejam as atividades que acontecerão durante a semana e que podem envolver brincadeiras organizadas nos Núcleos ou em outros espaços, como a praia e o Parque ecológico. As famílias também podem ser convidadas a vivenciar momentos de brincadeiras com seus filhos em momentos planejados pela unidade.
JP3 – O ‘brincar’ antigamente era a essência, era natural, fazia parte do desenvolvimento da criança. Hoje ele precisa ser estimulado, incentivado, o que mudou?
FT – O brincar nas escolas passou por algumas mudanças nos dias atuais, tanto em sua forma quanto em seu papel no processo educativo. O brincar era muitas vezes visto apenas como recreação ou tempo livre. Hoje, educadores e especialistas entendem o brincar como parte fundamental do desenvolvimento infantil, que contribui para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional, no desenvolvimento da criatividade e resolução de problemas, assim como, na aprendizagem de regras e cooperação. Graças a essas mudanças, muitas escolas têm adaptado seus espaços para favorecer o brincar com salas com cantos temáticos, pátios com brinquedos e espaços organizados com diferentes materiais e a inclusão de elementos naturais para que as crianças criem cenários e brincadeiras.

JP3 – Esta semana seria para explorar, mostrar ‘outras’ atividades de brincar, coisas novas?
FT – Gostaria de citar um excerto do Movimento Aliança Pela Infância que diz que a Semana Mundial do Brincar é: “um chamado à sociedade para reencantar seu olhar em relação às crianças, promovendo o brincar livre, o respeito ao tempo e aos ritmos das crianças, e a criação de ambientes acolhedores, essenciais para a infância plena e digna”.
Esta semana vem ao encontro do necessário resgate do encantamento pelo brincar, pois as infâncias podem ter mudado com o passar do tempo, mas sua essência continua a mesma e a brincadeira continua sendo a forma pela qual a criança conhece o mundo. Então, essa semana busca chamar a atenção da sociedade para a necessidade de respeito ao tempo da infância e a importância do brincar livre para a constituição das aprendizagens.

JP3 – Este ‘brincar’ condiz com o brincar em casa, porque hoje os pais estão muito ocupados, tem pouco tempo para brincar com os filhos e está cada vez mais comum, entregar um celular para ocupar a criança ao invés de uma bola, uma boneca…
FT – Se levarmos em consideração as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo, crianças até dois anos de idade não deveriam ter contato com telas ou videogames, sendo que sua inserção deverá ser progressiva, de acordo com a idade da criança. Assim, as recomendações às escolas da rede, é que o uso de telas deve ser estritamente pedagógico e em tempo curto.
O brincar dessa semana vem ao encontro do resgate do brincar livre, aquele que promove o desenvolvimento da criatividade e inventividade, que traz encantamento para crianças e também para adultos. E pensando em favorecer o encantamento pelas infâncias por parte dos adultos, algumas instituições também convidam às famílias para as programações que acontecem durante a semana, pois é necessário nos encantarmos pelo tempo da infância, para que efetivamente as crianças possam vivê-las de forma plena.
A infância é o tempo mais importante da vida de um sujeito, pois é nela que criamos as estruturas necessárias para vida adulta. Por isso, precisamos unir esforços para que essa fase seja valorizada e respeitada, e para que a criança possa vivê-la de forma plena.

JP3 – Nas escolas é perceptível se há preferência das crianças por algum tipo de brincadeiras?
FT – As crianças gostam de brincar! Afinal, é por meio da brincadeira e da exploração, que investigam e conhecem o mundo. Mas percebemos que contextos que envolvem o uso e exploração de materiais naturais e não estruturados, aqueles que não têm uma função predeterminada, como tecidos, caixas, rolos de papelão, tampas, entre outros, estão entre as preferências das crianças de qualquer idade, pois são esses materiais que favorecem a criatividade, a autonomia, a exploração sensorial e o pensamento crítico, além de promoverem uma conexão mais profunda com a natureza. Além disso, esses materiais valorizam o brincar livre e espontâneo, diferente dos brinquedos industrializados que possuem um objetivo pronto, esses materiais favorecem o protagonismo infantil e a possibilidade de criar diferentes funções para um mesmo material.

JP3 – Espaço aberto para considerações finais…
FT – Destacamos que o brincar na infância é fundamental para o desenvolvimento integral das crianças. Brincar não é apenas uma forma de passar o tempo, é uma atividade essencial que contribui para o crescimento físico, emocional, social e cognitivo, além de ser um direito garantido, que deve ser respeitado e incentivado tanto em casa quanto na escola e na comunidade.