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Dalton Delfini Maziero: “Mulheres piratas existem, são reais, mas algumas relacionadas na internet são pura ficção”

Não é um movimento feminista, mas é uma história de gênero.

O historiador, escritor, especialista em arqueologia e pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima, o paulista Dalton Delfini Maziero, está escrevendo um livro sobre ‘Mulheres Piratas’, que deverá lançar até o final do ano.

O autor Dalton Maziero (Arquivo Pessoal)

Até agora descobriu mais de 60 nomes de mulheres que estiveram envolvidas com a pirataria, desde a Grécia antiga até meados do século XX. E fez muitas descobertas … será que os piratas eram assim mesmo, como o cinema nos mostra?

De suas viagens pelo Peru, Bolívia, Chile, Colômbia, México, Espanha e Portugal, resultaram várias obras. Em 1997, tornou-se o 1º brasileiro a percorrer sozinho e a pé, o lago navegável mais alto do mundo, o Titicaca; num percurso de 1300 km em busca de cidades perdidas. 

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É autor das obras “Titicaca – em busca dos antigos mistérios pré-colombianos”; “Portugal – terras de além-mar”; “Sacralizando o Solo – o uso simbólico e prático dos Geoglifos sul-americanos” e “Colômbia – tudo é uma questão de despertar a alma”. 

Coordenador do BlogsArqueologia Americana, Dalton é autor da coluna ‘América Misteriosa’ que publica no Jornal Página 3. Nos próximos dias, haverá novidades: lançará uma segunda coluna, chamada “Piratas dos Sete Mares”, com crônicas sobre piratas, naufrágios, história naval, tesouros perdidos, cidades submersas e tudo o que for misterioso e estiver relacionado com o mar. 

Nesta entrevista ele fala sobre o livro em andamento, as pesquisas e descobertas e a nova coluna que está preparando para os leitores do Página 3.

Acompanhe: 

JP3 – Você está escrevendo um livro sobre Mulheres Piratas! Fale um pouco sobre a obra e qual seu objetivo com este livro?

Dalton – Sim, é verdade! Faz um ano que comecei a coletar material para este livro. Ainda não tenho o título definido, mas a ideia inicial era apenas realizar um compêndio de mulheres piratas na história. Ocorre que o assunto foi ampliando para muito mais do que uma mera lista de mulheres piratas! Levantei mais de 60 nomes de mulheres que estiveram, potencialmente envolvidas com a atividade da pirataria, desde a Grécia antiga até meados do século XX. Então me pareceu um desperdício não utilizar todo esse material. Passei então a investigar nome a nome, e estabelecer quem de fato foi uma mulher pirata daquelas que não foram ou daquelas mulheres lendárias, em especial na Antiguidade e na Idade Média. Neste momento tenho cerca de 200 páginas escritas, mas ainda falta investigar muitas delas. O dilema nesta pesquisa é que se trata de uma história de gênero, e como tal nos induz a questões sociais importantes. Estou tentando entender de onde essas mulheres vieram, de qual estrato social elas faziam parte, se elas representaram algum movimento ou se defenderam alguma posição das mulheres no meio marítimo. 

Acredito que o maior desafio neste estudo é desmistificar essa história, que está envolta numa mitologia de aventura, tesouros e liberdade selvagem. Será que os piratas eram assim mesmo, como o cinema nos mostra? A rotina em alto mar, em um navio de guerra, era muito dura, cheia de sacrifícios. Como essas mulheres se comportavam diante de uma tripulação eminentemente masculina? O que posso antecipar para vocês, é que muitas delas se vestiam com roupas masculinas. Enfim, além de levantar a história de cada uma delas, pretendo responder algumas dessas questões sociais e “bater o martelo”, digamos assim, sobre quais delas podem ser consideradas piratas de fato e quais não. Espero conseguir entregar este livro até o final do ano.

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JP3 – Conte um pouco sobre seu interesse no assunto. Como se envolveu com o tema?

Dalton – O tema da pirataria e da história náutica me acompanha desde criança. Lembro de versões infanto-juvenis ilustradas de Moby Dick, A Ilha do Tesouro, Robinson Crusoé e de filmes antigos como Capitão Blood, O Gavião do Mar e O Cisne Negro. Ficava empolgado com eles, mas hoje vejo o quanto são equivocados na visão da pirataria. Mas como historiador me envolvi com o tema na PUC de São Paulo. 

Em 1987, ganhei uma bolsa de pesquisa para estudar o tema da presença de piratas no litoral de São Paulo no século XVIII. A partir dai comecei a levar essa linha de pesquisa mais a sério. Juntei livros, documentos antigos e passei a ler com mais frequência sobre os achados de naufrágios e tesouros perdidos. Não faz muito tempo, escrevi um livro (A Profundeza do Mar Azul: os primeiros caçadores de tesouros e suas incríveis máquinas de mergulho, 2020) sobre a evolução das técnicas de mergulho desde a Grécia antiga até o século XIX e sua aplicação no trabalho de resgate de tesouros submersos. Não falo exatamente sobre piratas, mas sobre a aventura humana em desvendar os mistérios do fundo do mar, a criação do Sino de Mergulho e sua aplicação no resgate de naufrágios. 

Foi uma pesquisa difícil, mas esta das mulheres piratas está muito mais difícil! O problema na minha carreira de historiador é que nunca consegui decidir entre minhas duas paixões: as civilizações pré-colombianas e os piratas. Então decidi seguir estudando ambos.

JP3 – Então, baseado no que está nos contando, podemos afirmar que mulheres piratas de fato, existiram?

Dalton – Sim, sem a menor sombra de dúvida! Não só existiram como existem! Mas afirmo aqui que ocorre muita desinformação na internet sobre elas. Descobri em minhas pesquisas, que alguns nomes veiculados como personagens históricos, na verdade, não o são! Algumas mulheres piratas relacionadas na internet são pura ficção. Outras de fato existiram, mas suas vidas foram fantasiadas e acrescidas de ações aventurescas que não se pode comprovar. Existe muita inverdade sobre elas e separar isso de suas vidas comuns é um desafio. Nos séculos XVIII e XIX ocorreu uma grande produção de literatura de aventura, divulgada em formato de folhetins. Essa literatura era sensacionalista e costumava inventar histórias sobre as pessoas para vender mais. Elas não eram escritas a partir de documentação histórica. Muito da fama dos piratas vem desses folhetins, que por serem antigos, foram tomados com o tempo como documentos verossímeis. Mas não o são! Por este motivo estou recolhendo manuscritos primários, como os atestados de nascimento e óbito e, principalmente, atas de julgamento e condenação de tripulações piratas.

Cartaz do filme Anne of the Indies (1951), também conhecido como A Mulher Pirata ou A Vingança do Pirata. Direção de Jacques Tourneur (20th Century Fox Studios).

As mulheres piratas Anne Bonny e Mary Read, que atuaram no Caribe por volta de 1720 só são famosas e conhecidas por causa de seu julgamento e condenação. Caso contrário, teriam desaparecido na história. Elas se tornaram símbolo da pirataria feminina e suas histórias foram posteriormente acrescidas de muita desinformação para tornar a leitura de suas vidas cada vez mais atrativa. Também tenho encontrado citações de mulheres navegantes e da relação de mulheres com piratas através de diários de pessoas capturadas por eles. E desta forma, consigo ao menos supor como as coisas aconteciam em épocas passadas, e qual era a posição das mulheres no ambiente naval. Mas a verdade é que a esmagadora maioria dos piratas não nos deixaram diários escritos, e assim sabemos sobre eles apenas pela visão de terceiros ou por documentos oficiais de condenação e captura, emitidos por governadores de províncias em especial no Caribe do século XVIII.

JP3 – Por que elas não são tão conhecidas quanto os piratas masculinos? Ocorria alguma discriminação contra elas?

Dalton – Sim, sempre ocorreu uma discriminação. Mas também existe uma história da presença feminina nos mares não contada. As mulheres sempre estiveram envolvidas em travessias marítimas, comércio marítimo e explorações em quase todas as épocas. Mas simplesmente suas histórias eram subtraídas dessa rotina, ignoradas em diários. Não posso responder essa pergunta de uma mesma maneira, porque a realidade da mulher, em especial a mulher pirata, era bastante diferente dependendo da época e da região. No Ocidente, em especial nos séculos XVII ao XIX, é comum encontrarmos relatos de mulheres que se vestiam como homens para entrarem nos navios. 

Anne Bonny. Autor Desconhecido, século XVIII (Domínio Público)

Anne Bonny e Mary Read fizeram isso. Também a botânica Jeanne Baret, para participar de uma expedição científica francesa entre 1766 e 1769 se vestiu como homem. Muitas mulheres participaram da navegação oficial, com funções específicas de trabalho, como cuidar da alimentação da tripulação, fazer a manutenção das velas, controlar estoques e mesmo auxiliar os soldados com munição, pólvora e armas numa situação de guerra. Mas existiram outros fatores que fazem delas personagens pouco conhecidos. Um deles diz respeito as regras e leis existentes nos navios, em especial nos navios piratas. Algumas dessas leis condenava os marinheiros envolvidos com mulheres a bordo, trazidas clandestinamente, com exílio e até a morte. Quem já não escutou a frase que mulher a bordo de um navio trazia azar? Isso faz parte da mitologia envolvendo as mulheres no mar. Não é que ela trazia azar, mas sim que ela pode causar uma competição sexual natural entre os marinheiros por ela, e consequentemente o descontrole e brigas entre os homens da tripulação. Por isso muitos capitães as proibiam de embarcar. E por isso muitas embarcavam vestidas com roupas masculinas e o cabelo cortado. Mas também acredito que as mulheres piratas não tiveram a mesma oportunidade de se promoverem como os piratas masculinos. 

Veja o caso de Edward Teach (Barba Negra) por exemplo. Ele foi um “marqueteiro” exemplar! Construiu uma imagem aterrorizante e uma mitologia em torno de si, que incluia uma enorme barba negra de onde pendiam fitas coloridas e fumarolas, e portava armas amarradas ao peito entre outras coisas. Segundo dizem, sem motivo fuzilava quem estava em sua frente apenas para manter sua fama e alimentar o terror em torno de si. As mulheres piratas não tiveram essa chance, pois a grande maioria nunca chegou a ser capitã de seu próprio navio.

JP3 – Na sua opinião, o que levava uma mulher comum a se tornar uma mulher pirata?

Dalton – Novamente é uma questão muito difícil de ser respondida, pois as motivações dessas mulheres não são as mesmas dependendo da época e região em que atuaram. 

Lai Choi San (segundo da direita), a bordo de seu navio, capitã pirata chinesa que atuou entre 1920 e 1930. © Fotografia L. Ekkers/Spaarnestad.

Veja o caso da chinesa Lai Choi San, que atuou nas décadas de 1920-1930. Ela herdou do pai, que também era pirata, uma frota com 12 navios de junco. Aquilo era um negócio familiar! Dia após dia, ela acordava, tomava seu café, se despedia dos filhos e saia para “trabalhar”: sequestrar pessoas, extorquir dinheiro de comerciantes, roubar navios estrangeiros e enfiar uma bala na cabeça de quem a desrespeitasse. Aquilo era a rotina dela, da família dela. Ela fazia isso com a mesma naturalidade que um trabalhador da periferia acorda e pega um ônibus para ir ao trabalho! 

Existe no imaginário popular uma tendência a pensar que piratas faziam o que faziam apenas por dinheiro, por ouro. Mas a verdade é que a maior parte deles nunca colocou as mãos em uma barra de ouro! 

É verdade que a maior parte dessas pessoas são oriundas de uma camada social desclassificada e que, portanto, buscava na pirataria uma forma de sobrevivência. Mas também é verdade que muitas mulheres piratas eram rainhas defendendo suas terras e seu litoral. Outras eram patrocinadoras de corsários! Outras eram nobres ou oriundas de famílias abastadas, e praticavam a pirataria como uma forma legítima de ganhar mais dinheiro e prestígio político. E temos até casos de mulheres que se lançaram na pirataria para fugir de um casamento forçado ou, muito provavelmente, para encontrar um local onde sua homosexualidade fosse aceita. E nas comunidades piratas existia muitas oportunidades para se viver e ganhar dinheiro para uma camada que sofria com as pressões sociais contra o homosexualismo. Sendo assim, às vezes ser pirata era uma escolha de vida, outras uma oportunidade de trabalho.

JP3 – Podemos afirmar que esta é uma história de gênero e que as mulheres piratas lutaram através dos tempos, para a afirmação feminina nos mares?

Dalton – Esta definitivamente é uma história de gênero! Contudo, até o momento não encontrei nenhum indício, em nenhum momento da história, que elas atuaram como um movimento feminista que reivindicava condições de trabalho nos navios piratas ou em outros. Isso me parece que não existiu. A relação social nas comunidades piratas era uma relação de poder e comércio. Todos queriam lucrar e tinham liberdade para fazer isso com suas “próprias armas”, independente de suas religiões ou opções sexuais. Eu tenho certeza que as mulheres piratas do Caribe mal sabiam da existência de mulheres piratas asiáticas, e lá na China elas eram donas de frotas enormes! De verdadeiras confederações piratas com centenas de navios e milhares de piratas. Não dá nem para comparar com as ações ocorridas na Europa e América! E mesmo assim, não existiam “movimentos sociais” que reivindicavam isso ou aquilo por lá. O que existia era a sensibilidade pessoal de Senhoras do Mar em relação as outras mulheres que atuavam como piratas.

JP3 – Quando pesquisamos o assunto na internet, surgem muitas imagens de mulheres usando botas e espartilhos. Era assim que elas se vestiam?

Dalton – Eu realmente dou muita risada com a representação física das mulheres piratas na internet! De fato, existe uma uma inevitável carga e tensão sexual quando abordamos o tema. Isso sem falar da glamurização dessas mulheres, tão explorada no cinema. A primeira coisa que passa na cabeça de um homem é uma mulher de botas até o meio da coxa, usando minisaia e espartilho, sozinha em um barco em alto mar. Mas a verdade é que a vida dentro de um navio era bastante árdua, cruel, difícil e violenta. Não existia muito espaço para ficar bebendo vinho e observando o por do sol, entende? A higiene dos navios era péssima e muitas vezes a tripulação apresentava sinais de subnutrição, escorbuto entre outras coisas. Essa imagem de mulheres glamurosas e voluptuosas empunhando uma espada com os cabelos esvoaçando é uma completa mentira. A tripulação pirata utilizava as roupas que estavam à disposição, que geralmente eram feitas grosseiramente em tecido cru. Em geral eram roupas largas para permitir movimentos e subidas em mastros e velas, endurecidas pelo sal do mar. Eram o oposto de roupas sensuais! Essas imagens de mulheres com botas e espartilhos ganhou força muito recentemente, numa reinterpretação que envolve jogos de RPG e de consoles e computadores.

JP3 – Como você vê a representação das mulheres em filmes piratas? Podemos acreditar em Hollywood?

Dalton – As mulheres piratas em filmes de cinema e séries são quase sempre de mulheres fortes, donas de seus destinos, destemidas e lutadoras. Mas também são mulheres apaixonadas e dispostas a viver um grande amor. Em quase todos os filmes clássicos como Captain Blood (1935), The Sea Hawk (1940), The Black Swan (1942), Against all Flags (1952) sempre existe o par romantico dos piratas masculinos, geralmente representado por mulheres apaixonadas, sensíveis, valentes e dispostas a qualquer risco. Mas existem também alguns filmes onde as mulheres são protagonistas, como Anne of the Indies (1951) no qual realizam uma representação livre… bem livre… da pirata Anne Bonny; e Cutthroat Island (1995). Esses dois últimos com Jean Peters e Geena Davis como protagonistas. Esses filmes de época realmente são apenas entretenimento. Passam longe da representação real das mulheres piratas. E isso porque o filme precisa vender e dar lucro; e para isso os produtores entendem que devem expor mulheres bonitas e admiráveis nas telas de cinema. Somente em produções recentes para TV como Black Sail (2014), Crossbones (2014) e O Reino Perdido dos Piratas (2021) que os produtores começaram a se preocupar com o realismo dos personagens e incluir alguns detalhes históricos baseados em estudos recentes, inclusive com historiadores de história marítima como consultores. Mas ainda assim o filme ideal sobre as mulheres piratas está para ser filmado.

JP3 – Pode nos dar alguns exemplos de mulheres piratas reais na história?

Dalton – Claro! Disparado, as mais conhecidas são Anne Bonny e Mary Read, que atuaram no Caribe por volta de 1720. Não tanto pelo que fizeram, mas pelo fato de terem sido julgadas por seus atos. Isso as tornou famosas. Elas só escaparam da forca por serem mulheres e estarem grávidas.

Com o passar do tempo, se tornaram uma espécie de símbolo representativo das mulheres piratas. Mas de verdade não fizeram muito mais do que roubar alguns barcos de comércio sem importância. Muito antes delas, por volta de 1300 d.C. temos Jeanne de Clisson, conhecida como a Leoa da Bretanha. Essa mulher, para vingar o assassinato de seu marido, tocou o terror nas forças francesas. Ela tem uma história interessantíssima, que envolve manipulações políticas e apoio dos ingleses em suas investidas. Temos também a muçulmana Sayyida Al-Hurra, que no primeiro quartel do século XVI financiou e aliou-se a corsários – inclusive Barba Ruiva – para defender o território do Marrocos. Posso citar também Ingela Gathenhielm, uma sueca que atuou como corsária na Grande Guerra do Norte entre 1700 e 1721. Ela atuou com seu marido, mas soube posteriormente investir o dinheiro em outros negócios, como uma padaria, fábrica de cordas para navios e uma destilaria. Embora seja uma corsária, existem indícios que o casal praticou pirataria contra navios de comércio. Temos também Margaret Jordan, que em 1809 foi julgada por pirataria junto com seu marido. Eles atuaram na Nova Escócia (Canadá) e, para ser bem sincero, ainda estou traduzindo os documentos do julgamento de Jordan. Um material muito difícil de encontrar e traduzir! Ainda não cheguei à conclusão se ela foi de fato uma mulher pirata ou se foi forçada pelo marido a participar de roubos e assassinatos…

Ching Shih. Piratas: Uma História Ilustrada de Corsários, Piratas e Piratas do Século XVI
ao Presente; (London, 1996). P.230. Nota do livro menciona que "esta representação
fantasiosa é da História dos Piratas de todas as Nações publicada em 1836 (Domínio Público)

E claro, gostaria de citar ainda a Rainha Pirata chinesa Ching Shih, que fundou uma confederação de milhares de piratas e centenas de barcos. Uma prostituta que galgou o poder até tornar-se terrivelmente poderosa e temida. Eu simplesmente não entendo como ainda não fizeram um filme sobre sua vida, que é absolutamente fascinante! Mas isso é para citar apenas algumas das mulheres piratas que estão relacionadas no livro. Para quase todas, não existe material em português, o que torna a pesquisa bastante difícil e morosa, pois os poucos documentos primários estão em inglês de séculos passados, latim, francês ou mesmo suéco.

JP3 – Existem piratas ainda hoje ou isso é coisa do passado?

Dalton – Sim, existem! A pirataria sempre existiu, de forma ininterrupta, desde a Antiguidade na época da Mesopotâmia, Egito, Oriente Médio e Grécia antiga. Existe desde que o homem começou a se aventurar no mar e estabelecer as primeiras rotas comerciais. É considerada uma das “profissões” mais antigas da história, ao lado da prostituição. O que ocorre é que ela aparece de forma mais ou menos intensa, dependendo da época e local. Por exemplo, já escutou aquela frase “Mare Nostrum”, usada pelos romanos para se referirem ao Mar Mediterrâneo? Ela justamente surgiu por causa de um grande avanço da pirataria na região; em especial pelos piratas ilirianos patrocinados pela rainha Teuta, que varreu o Mar Adriático que faz margem com a atual Itália. E mesmo na Idade Média temos os Vikings, que praticavam uma pirataria conjugada com expedições de conquista e exploração. Temos poucas ou nenhuma informação do que ocorria nos mares da China, Japão e Extremo Oriente, mas sabemos que a pirataria por lá também acontecia desde muito tempo. No século XVIII e XIX ela formou confederações de bandidos que eram mais fortes que os próprios governos locais. O governo chinês precisou da ajuda da Inglaterra, de sua força naval, para combater essas confederações. Mesmo hoje, a pirataria no litoral da china é praticamente incombatível, tamanha a quantidade de barcos e envolvimento das vilas costeiras nessa prática ilícita. Hoje, não dá para comparar a atuação da pirataria moderna que ocorre na região asiática da que ocorre no Caribe ou em qualquer outra região. A pirataria asiática é muito maior, gigantesca! Muito mais organizada e atuante. Outra região que recentemente passou por um grande “boom” de piratas foi a Somália, que aterrorizou o Mar Vermelho e obrigou as nações européias a formarem uma confederação de proteção marítima na região. O litoral da Somália é assustador, com centenas de carcaças de navios roubados e abandonados nas praias desertas. Em 2013 fizeram um excelente filme com o ator Tom Hanks, chamado “Capitão Phillips”, baseado num sequestro real dos piratas somalis. Mesmo no Brasil, temos piratas atuando na região de Santos e principalmente no rio Amazônas. Eles roubam barcos de pesca, motores, combustível e a carga que estiverem levando. Recentemente entraram em confronto com o garimpo ilegal. São muito violentos! Não faz muito tempo, assassinaram a navegadora britânica Emma Kelty, que fazia um percurso de caiaque pelo Solimões. Isso para roubar seus pertences… E claro, dentro disso tudo temos mulheres piratas “invisíveis” atuando. Uma delas foi pega nas Filipinas. Ela fazia parte da tripulação do pirata Emilio Changco, que atuou nas décadas de 1980 e 1990. O nome dela é Susan Frani e, pelo que sei, está presa até hoje.

JP3 – Quais serão seus próximos livros? Tem algum projeto especial que possa compartilhar conosco?

Dalton – Tenho sim! Finalizando esta obra sobre as Mulheres Piratas, pretendo acabar um livro com ensaios arqueológicos que já está em andamento. Ele contém alguns artigos originais sobre descobertas arqueológicas em vários continentes e discute temas como tráfico de peças arqueológicas nas Américas, o uso do poder simbólico nas civilizações egeias e a descoberta de templos megalíticos na Turquia, entre outros temas. Também em breve estarei lançando uma coleção de livros dedicados exclusivamente ao universo das culturas pré-colombianas. Cada título abordará um assunto específico, um mistério arqueológico, uma ruína ou uma civilização. Quero utilizar muito do material que recolhi em minhas viagens pelo Peru, Chile, Bolívia, Colômbia e México; e abordar em especial, assuntos sobre a antiga América que são completamente desconhecidos do público brasileiro. Inclusive, quero abordar assuntos bastante polêmicos, como o mito de algumas cidades perdidas, a cosmovisão indígena, o significado dos geoglifos e as construções de pirâmides e templos na antiguidade americana. Na linha de histórias náuticas, já estou coletando material para mais dois livros. O primeiro deles sobre tesouros perdidos em naufrágios e o segundo sobre a mitologia que envolve os piratas e como nós o concebemos no imaginário social. Mas acho que a grande novidade será o lançamento de uma Coluna de Jornal intitulada “Piratas dos Sete Mares”! Nela, pretendo escrever crônicas sobre piratas, naufrágios, história naval, tesouros perdidos, cidades submersas e tudo o que for misterioso e estiver relacionado com o Mar! Existem lendas e mitos interessantíssimos, além de histórias de sobrevivência marítima que valem a pena um registro. E falando a verdade, gostaria muito que a coluna “Piratas dos Sete Mares” fosse lançada pelo Jornal Página 3! Será o máximo! Fica aqui a sugestão. Enfim, é trabalho para alguns anos, mas os interessados podem acompanhar o lançamento dos livros pelas redes sociais.

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