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Balneário Camboriú

Entrevista com Luciana Andréa de Jesus: “A natureza é sábia e normalmente a planta que você precisa nasce no seu entorno”

Um ‘matinho’ na sua calçada pode ser a solução dos seus problemas

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Luciana Andréa de Jesus, 51, catarinense de Blumenau, moradora de Balneário Camboriú há quase quatro décadas (1984), onde estudou Administração e Contábeis, mas não se encontrou em nenhuma delas, onde tornou-se mãe de Philippe (29) e Fernan (24) e onde encontrou sua vocação por causas coletivas e questões ambientais. Em 2016 trocou a vida urbana por um novo habitat, em meio à natureza, na região de Taquaras, em busca de uma mudança de estilo de vida, de novos hábitos e uma conexão maior com as coisas da terra. Atualmente é embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil e coordenadora do Eco Cidadão. Trabalha como autônoma e atua em diversas áreas…hoje, com consultoria lixo zero e  em formação como terapeuta naturalista. 

“Meu prazer é estar na mata e tudo que me conecta à natureza…  trilhas, cachoeiras, mar, também  gosto de práticas radicais como rapel, tirolesas, parapente…”,
comentou sobre a descoberta de sua verdadeira vocação. 

A partir da próxima semana, ela contará sobre suas experiências e conhecimentos sobre a natureza e tudo o que ela oferece, especialmente o poder das plantas, em colunas semanais no jornal Página3. 

Nesta reportagem ela antecipa um pouco do que pretende levar aos leitores. Acompanhe:

“Conhecer as plantas e fazer uso delas de forma consciente é o jeito mais simples de levar saúde às pessoas sem distinção de crenças ou classe social”.

JP3 – Quando e por que se interessou por causas coletivas?

Luciana – Quando perdi meu irmão em 96 e sofremos muito com o preconceito, na época. Em 98 passei a trabalhar no projeto CreSer, que atendia famílias de soropositivos com assistência psicológica  e cursos profissionalizantes… entrei  como aluna num curso de espanhol e depois fiz parte da equipe dando curso de artesanato. Ali formamos uma cooperativa de comercialização com os alunos. Depois segui outras áreas, mas sempre tive o artesanato em paralelo. Em 2009 fundamos uma associação de artesãs em Camboriú, a Cambuartes e em 2010 surgiu a Economia Solidária em BC. Mas foi a partir de 2011, trabalhando na Secretaria de Inclusão Social, atendendo catadores e famílias em situação de vulnerabilidade, no CadUnico, que aflorou todo meu desejo de mudar o mundo (não só a minha vida) conhecendo de perto a realidade dos catadores e a minha experiência de artesã, idealizei o Projeto Eco Cidadão…

JP3 – Desde quando começou sua atividade no Eco Cidadão?

Luciana –  Depois de 2 anos tentando, sem nenhum apoio do poder público, decidi investir tudo que eu tinha neste ideal e vendi meu único imóvel para estruturar o espaço onde aconteceu o projeto Eco Cidadão.  

(Arquivo Pessoal)

JP3 – Quais foram as respostas que colheu até aqui?

Luciana – Foi muita luta, tropeços e portas  fechadas – quando falamos de ‘lixo’, as pessoas ainda preferem vê-lo escondido em sacos pretos e enterrados. Mas foram muitas as vitórias também. Em cada ação realizada pelo Eco Cidadão e o impacto na mudança de hábitos de todos que passaram pelo projeto. Em cinco anos realizamos e participamos de mais de 600 ações em Balneário e na região, inspiramos muitas pessoas e campanhas. Veio a Semana Lixo Zero, o comprometimento como embaixadora Lixo Zero na região e mais centenas de ações de boas práticas, oficinas, palestras, consultorias  e tudo que se pode acompanhar nas redes sociais do instituto.

JP3 – A população de Balneário Camboriú é receptiva para estas questões?

Luciana – Não sou otimista em relação a isso, no geral, as pessoas são receptivas a ações ambientais, desde que não precisem sair da sua zona de conforto. E a transformação só acontece na prática, mudando hábitos, desconstruindo paradigmas, discutindo soluções… 

JP3 – Quais são os principais problemas ambientais que Balneário Camboriú tem?

Luciana – BC tem tantos problemas ambientais quanto sociais,  como os que tentam ‘camuflar’ nas cidades vizinhas de Itajaí e Camboriú, quando falamos de resíduos e catadores de recicláveis… uma vergonha é uma cidade como a nossa não ter uma cooperativa de catadores estruturada, quando se tem mais de 600 catadores nas ruas e uma promessa de construção de um Centro de Valorização de Resíduos que nunca saiu do  papel e se um dia sair, da forma que foi proposta, não é atrativo para mudar a situação de rua dos catadores. Seguimos… pagando dobrado para enterrar nossa responsabilidade em sacos pretos no município vizinho… 

(Arquivo Pessoal)

“Tão importante quanto conhecer sobre a planta e suas propriedades é saber a forma e dosagem correta de utilizá-las”

JP3 – Quando começou a interessar-se por plantas e ervas medicinais?

Luciana – Meu interesse por plantas e terapias naturais vem desde a infância, dos chazinhos da vó até as doideiras de experimentar tudo que era receita caseira de cosméticos passadas pelas amigas ou catadas da internet. Mas foi a partir de 2016 que passei a me dedicar às terapias complementares e tratamentos naturais com plantas medicinais. 

JP3 – O que elas representam na sua vida?

Luciana – As plantas me trouxeram curas. Depois de um diagnóstico de três tumores cerebrais e lúpus sistêmico, sem me adaptar aos tratamentos convencionais com drogas alopáticas, eu busquei alívio nos chás e terapias integrativas e complementares. Assim, controlei minha auto-imune e todas as questões de saúde até hoje. Faz 30 dias que recebi alta médica de remissão de tumores e do lúpus. O que me deixou muito feliz e me dá a certeza de estar trilhando o melhor caminho. Ano passado, em meio a pandemia, assim como muitos, eu precisei me reinventar e fui estudar mais sobre as plantas. Fiz alguns cursos como fitoenergética, fitoterapias de base e o de manipulação e uso de plantas medicinais que concluí recentemente e faz parte da formação de terapeuta que estou cursando.

JP3 – Onde colhe as plantas? Existe todo um processo no procedimento.

Luciana – Aprendi como identificar as plantas, buscar pesquisas científicas, entender suas propriedades, os locais, tempos e horários de colheita, higienização, armazenamento,  partes da planta que usar e suas formas de preparar. É todo um processo que muda de uma planta para outra, exige dedicação e é muito gratificante quando se vê os resultados. As que não encontro na região, mando manipular em farmácia ou compro em uma casa de ervas de minha confiança. Mas a natureza é sábia e normalmente a planta que você precisa nasce no seu entorno.

JP3 – O que as pessoas precisam saber sobre consumo de chás e ervas?

Luciana – Um ‘matinho’ na sua calçada pode ser a solução dos seus problemas. As plantas guardam segredos incríveis e são muito poderosas tanto no plano físico com suas propriedades e compostos medicinais, quanto  no campo energético, pois assim como nós humanos, as plantas também têm um campo de energia ao seu redor com propriedades energéticas específicas capazes de ajudar em diversas doenças. Tão importante quanto conhecer sobre a planta e suas propriedades é saber a forma e dosagem  correta de utilizá-las. Algumas plantas apresentam toxicidade e suas doses elevadas podem ter efeitos colaterais. Por isso é importante pesquisar em fontes seguras seu uso e toxicidade. 

JP3 – Quais são as atividades relacionadas que pratica? (chás/tinturas/escalda pés/banhos de ervas etc)

Luciana –  Hoje faço todos os meus tratamentos e também de familiares e amigos, desde os chás,  escalda-pés (que ainda comercializo),  tinturas, extratos glicólicos, xaropes, pomadas, óleos medicinais, banhos e massagens de limpeza energética, máscaras de argila, sabonetes de tratamento, produtos de higiene, enfim, são muitas as formas de se beneficiar com as maravilhas que vem da natureza. Criei a pagina @banho.de.mato no instagran e recentemente comecei a postar também no grupo do bairro informações sobre as plantas e práticas naturais e tenho me surpreendido com a procura das pessoas por mais informações sobre o assunto.

(Arquivo Pessoal)

“A Covid foi uma batalha vencida e muitas lições aprendidas…acredito no ditado ‘se não for no amor, será na dor’.

“Foram meses muito difíceis e uma recuperação lenta, todos os dias era uma sequela diferente que se apresentava”.

JP3 – No ano passado testou positivo para Covid 19, foi internada, passou por momentos difíceis. O que essa experiência trouxe para sua vida?

Luciana – A Covid foi uma batalha vencida e muitas lições aprendidas… Sempre fui muito independente, querendo resolver tudo na  hora e sozinha, mesmo consciente que precisava mudar isso em mim, não encontrava uma fórmula. Eu acredito no ditado “se não for no amor, será na dor”, e foi assim que aprendi a desacelerar, pausar, dar o tempo das coisas acontecerem, respeitar os limites do meu corpo, a pedir ajuda e que eu não preciso me mostrar forte o tempo todo, pois é humanamente natural sentir e assumir meus medos e dificuldades, também descobri que tenho muito mais amigos do que poderia imaginar e sou grata a cada um deles.

JP3- Depois que retornou para casa comentou que a doença deixa muitas sequelas. Como está lidando com elas?

Luciana – Tive complicações em praticamente todos os  órgãos, 90% dos pulmões comprometidos e uma pneumonia bacteriana. Foram meses muito difíceis e uma recuperação lenta, todos os dias era uma sequela diferente que se apresentava ou um sintoma que persistia. Das que mais me afetaram, sem dúvida, foram as neurológicas, como falta de memória, concentração, cognição, transtorno pós traumático (participo de uma  pesquisa da Unicamp sobre sequelas neurológicas pós covid), a questão pulmonar, que ainda trato um enfisema e a perda de mais de 70% dos cabelos. 

Hoje, quase 8 meses se passaram, estou muito bem, mas nada volta a ser como antes. Depois que saí do hospital,  contei com o apoio de familiares e amigos para poder me sustentar e fazer o acompanhamento e exames médicos particulares até me reestabelecer (pois pelo SUS, ainda aguardo em filas de espera). Também recebi atendimento em casa com fisioterapia da equipe da Uniavantis e suporte da equipe de saúde da família aqui do bairro, que são maravilhosas. Fora do hospital, todas as sequelas foram tratadas com ervas, alimentação e mudança de hábitos. Já retomei as atividades dentro do ‘meu novo normal’.

JP3 – Quais mudanças a pandemia trouxe?

Luciana – Penso que vivenciamos muitas mudanças bruscas no geral: o isolamento, novas formas de relacionar, de comportamento de nós para com outros e conosco mesmo, o novo trabalho remoto e os profissionais tendo que se adaptar a propostas de home office, assim como professores e alunos, o avanço da tecnologia e principalmente da ciência, a força do comércio digital, o escancaramento do problema da concentração de renda e desigualdade social, a reflexão e uma revisão de valores de mundo que nos faz refletir sobre nossa situação atual, o nosso lugar na sociedade, assim como nossa relação com a natureza e o sistema de produção…

JP3 – Como acha que será o futuro pós pandemia?

Luciana – É uma pergunta que me faço a todo momento e sei que não sou a única. É difícil imaginar o futuro, ainda mais,  com a situação que vivemos no país, onde falta administração, ética política, vacinas, etc;  Sobra desemprego, desigualdade, insegurança, nossa saúde física e principalmente mental… Com certeza não sairemos ilesos. Mas eu prefiro pensar no hoje e como melhorar o agora. É o presente que temos. O futuro será reflexo. 

“Com certeza não sairemos ilesos. Prefiro pensar no hoje e como melhorar o agora. É o presente que temos. O futuro será reflexo”. 

Luciana em palestra sobre Lixo Zero (Arquivo Pessoal)

JP3 – Na próxima semana passará a assinar uma coluna no jornal Página3. Quais serão os assuntos abordados?

Luciana – Uma honrosa surpresa receber esse convite. E sou  muito grata a esta família que é o Página 3, pelo carinho e atenção que sempre me dedicaram nas ações ambientais, do instituto e agora nesta nova fase. Quero compartilhar com o público o conhecimento adquirido sobre plantas medicinais, com segurança e responsabilidade, respeitando o uso popular mas sempre baseada em estudos e comprovações científicas e poder contribuir com o resgate dessa cultura e hábitos antigos que se confundem com o próprio surgimento das civilizações, que é o poder das plantas. Ao longo dos anos, essa sabedoria restrita aos antigos benzedeiros, curandeiros, pajés e nossos ancestrais foi sendo substituída por remédios modernos e químicos que em sua maioria só tratam os sintomas e têm a função de nos manter doentes para alimentar a indústria farmacêutica. 

Conhecer as plantas e fazer uso delas de forma consciente é a forma mais simples e viável de levar saúde e bem estar às pessoas sem distinção de crenças ou classe social. Existe em nossa cidade um centro de fitoterápicos, junto a Secretaria de Meio Ambiente, que atende gratuitamente a população e a maioria das pessoas não sabe disso ou não usufruem deste serviço por não conhecer sobre plantas, ou ainda pensar que é um ‘simples chazinho’. Desconheço um programa ou profissional dentro das unidades de saúde do município que indique ou oriente sobre os tratamentos complementares ou integrativos com plantas medicinais. Por isso, quero trazer as plantas que encontramos facilmente aqui em nossa cidade ou região, os ‘matinhos’ que nascem em nossas beiras de estradas e terrenos baldios, mas que têm um potencial incrível, assim como remédios naturais que temos na nossa horta, na nossa despensa ou  na quitanda do bairro e pode nos poupar de muitos efeitos colaterais que os químicos nos impõem.  

Minha intenção é postar semanalmente algum conteúdo e poder alcançar e interagir com mais pessoas.

“Vergonha é uma cidade como a nossa não ter uma cooperativa de catadores estruturada, quando se tem mais de 600 catadores nas ruas”. 


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