Neste sábado (8) é celebrado o Dia Internacional da Mulher, data que lembra a luta pela igualdade e direitos das mulheres. O público feminino muito já conquistou, como o direito ao voto, mais espaço no mercado de trabalho e no comando de grandes empresas, assim como a liberdade de escolher ser mãe ou não. Porém, é um dia para se refletir sobre as conquistas que ainda precisam acontecer, uma delas é mais espaço na política.
O Brasil tem 727 cidades governadas por mulheres, em 2025. Esse avanço representa uma conquista importante na luta por igualdade de gênero e representatividade feminina na política. A Campanha Março Mulher, promovida pela Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados em parceria com a Procuradoria Especial da Mulher e a Liderança da Bancada Feminina do Senado Federal, lançou o tema “A igualdade não pode esperar”, para estimular o gosto das mulheres pela política.
Em Balneário Camboriú comemoramos o Dia Internacional da Mulher com uma mulher no comando da cidade. Em 60 anos de emancipação, pela primeira vez, uma mulher venceu a eleição. Seis décadas!
Diante disso, o jornal conversou com a prefeita, Juliana Pavan, as duas vereadoras, Ciça Müller e Jade Ribeiro, e as secretárias municipais (incluindo a diretora geral da Educação, que estava como secretária interina) e perguntou para elas:
Como reduzir esse tempo e estimular mais conquistas nesse sentido?
Juliana Pavan, prefeita de Balneário Camboriú

“Nós mulheres somos igual a onda do mar, ninguém consegue conter”
“Primeiro é importante destacar que as ações citadas pelo jornal são da Câmara Federal e do Senado, são iniciativas restritas do poder legislativo. Já fui vereadora, em um mandato onde fui a única mulher eleita, e tentei contribuir também no parlamento de modo a estimular, motivar a presença das mulheres nos espaços de decisão, em funções sociais de destaque e na vida partidária.
Porém, não vemos o mesmo esforço neste sentido partindo do governo federal e do governo do estado, que representam o poder executivo.
Aqui em Balneário Camboriú tenho a oportunidade histórica de concluir um mandato parlamentar, e iniciar outro no executivo, onde vou tirar do papel os projetos que defendi na tribuna na Câmara de Vereadores.
Em pouco mais de 60 dias de governo, já tomei medidas concretas neste sentido.
Criamos o fundo municipal de políticas para as mulheres, e aprovamos na reforma administrativa a diretoria de políticas públicas para as mulheres.
Já na transição, no fim de 2024, estive em Brasília conhecendo políticas públicas do Governo do Distrito Federal que quero replicar aqui em nossa cidade.
Entendo que não devemos e nem precisaremos esperar mais 60 anos para que possamos eleger outra mulher para o comando da prefeitura.
Mas para isso, é preciso agir e com medidas concretas.
Hoje no governo temos seis mulheres à frente de secretarias, um número recorde e que espero possa aumentar no decorrer do mandato.
Enquanto prefeita, vou fomentar bandeiras de luta e motivação, para que as mulheres estejam engajadas nos debates que envolvam temas relevantes para a cidade.
Sei que é um caminho longo, de muitas lutas, e hoje tenho a condição de transformar sonhos em realidade. Criar ações na área da educação, da saúde, da segurança, que apoiem e defendam as mulheres.
Hoje mesmo (quinta-feira, 6) estive reunida com as agentes do BC Trânsito em uma reunião geral com todos os agentes e destaquei a importância do trabalho delas em uma profissão que muitas vezes é vista como masculina.
Vamos reduzir este tempo pelo exemplo, pois acredito que lugar de mulher é onde ela quiser e na política, onde o povo entender que seja necessário para liderar mudanças.
Não me coloquei à disposição para ser vereadora e prefeita, pela força do voto popular, para ser mais do mesmo.
Sempre reforço que vim para fazer diferente, fazer a diferença e estimular outras mulheres a também construírem uma trajetória quebrando paradigmas e dando sua contribuição para o desenvolvimento de BC.
Ser a primeira mulher eleita prefeita na história de Balneário Camboriú é um marco que reforça a importância de termos mais mulheres em espaços de liderança, sendo protagonistas de suas histórias.
A importância deste momento é de reforçar o aumento do número de vereadoras eleitas; de termos uma mulher prefeita; de termos uma mulher na presidência do conselho tutelar, na presidência do conselho municipal de turismo, na Afadefi, na Apae, no Convention Bureau… então vai além da política partidária, as mulheres em um contexto geral estão liderando políticas públicas em BC – no governo e na sociedade.
Então devemos celebrar e ao mesmo tempo reforçar os compromissos com o público feminino, e desta forma, com as famílias de BC.
Mulher representa, em casa, na empresa, no governo e na sociedade: afeto, atenção, zelo, responsabilidade. E tudo isto, somado, pode gerar grandes avanços para BC e sua gente.
Ser a primeira mulher prefeita de Balneário Camboriú é um marco histórico que pode servir de inspiração para muitas mulheres também ingressarem na política.
Desejo que todas nós possamos nos orgulhar, todos os dias, da nossa sensibilidade, da oportunidade de construir família e da força feminina.
Somos comandantes da nossa própria história.
Costumo falar que nós mulheres somos igual a onda do mar, ninguém consegue conter.
Nós mulheres estamos cada dia mais conquistando nosso espaço com muita luta, coragem, ousadia e determinação e fazemos as mesmas tarefas que os homens fazem, sem deixarmos de ser femininas e vejo que cada vez mais o respeito e a dignidade são necessários.
Diariamente, tenho um desafio incrível de ser mãe, esposa, prefeita. Não é fácil, mas é uma experiência maravilhosa, pois requer tempo e equilíbrio ainda mais eu que me cobro muito sobre cuidar de quem eu amo. E como mulher, mãe, filha e esposa, a preocupação que eu tenho de cuidar da minha família é a mesma preocupação que tenho com o serviço público, também de cuidar, de ver os detalhes, de ter essa sensibilidade, esse olhar sensível.
Então eu vejo que dessa forma eu consigo conciliar todo esse cuidado e, claro, também cuidando um pouco de mim, porque sem saúde a gente não consegue ir a lugar nenhum.
Eu vejo muito aquela questão da mulher-polvo, que quer dar conta de tudo, cuidar de tudo. E eu acho que está tão presente isso nos dias de hoje. Tantas mulheres acabam se identificando dessa forma. E hoje, nas atividades que eu tenho, com certeza isso está muito presente”.
Jade Ribeiro, vereadora de Balneário Camboriú

“A política ainda é um ambiente hostil, que muitas vezes desmotiva a participação feminina”
“É urgente superar as barreiras históricas e culturais que colocam as mulheres em segundo plano no que diz respeito à política partidária, à ocupação de cargos e ao exercício de funções públicas.
A política ainda é um ambiente hostil, que muitas vezes desmotiva a participação feminina. Para aumentar essa presença, é essencial um trabalho de base nas agremiações partidárias, envolvendo mulheres nas discussões desde o início e inserindo-as nesse espaço, onde tudo começa. Isso é fundamental para que elas se sintam encorajadas a ocupar esses espaços de poder.
Nós, mulheres eleitas, também temos a responsabilidade de abrir portas para que outras mulheres possam se destacar, criando oportunidades que favoreçam a ascensão delas em um cenário eleitoral.
A ampliação da participação feminina na política não é apenas uma questão de justiça ou representatividade; é uma necessidade para o desenvolvimento de sociedades mais justas, equitativas e resilientes.
Além disso, a educação política desempenha um papel crucial. Muitas mulheres, especialmente em contextos de desigualdade social, não se sentem representadas ou não têm acesso a informações sobre como ingressar na política. Promover o entendimento sobre processos políticos, direitos e como se engajar ativamente é uma maneira de empoderar as mulheres. Incentivar o protagonismo feminino em movimentos sociais, universidades e organizações civis também cria um campo fértil para que novas lideranças surjam.
A criação de redes de apoio, como mentorias e grupos de mulheres que compartilham experiências políticas, fortalece o sentido de pertencimento e confiança. As mulheres que já ocupam espaços de liderança política também podem atuar como modelos e mentoras para outras, mostrando que é possível conciliar a vida pessoal com a vida política, desafiando as normas tradicionais de gênero.
O apoio financeiro para campanhas de mulheres e a redução de custos envolvidos na candidatura também são aspectos essenciais para viabilizar a participação feminina, que, muitas vezes, é minada pela falta de recursos.
Com o exemplo da primeira prefeita eleita na cidade, e o trabalho de vereadoras atuantes, podemos vislumbrar um futuro mais igualitário, onde a presença feminina seja ainda mais representativa e a voz das mulheres seja amplamente ouvida”.
Ciça Müller, vereadora de Balneário Camboriú e Procuradora da Mulher da Câmara

“A igualdade não pode esperar, e cada passo dado hoje define o futuro que queremos para as próximas gerações”
“A presença feminina na política não é apenas uma questão de representatividade, mas de justiça e democracia. Quando mulheres ocupam cargos de decisão, trazem novas perspectivas, pautam questões fundamentais e inspiram outras a fazerem o mesmo.
No entanto, ainda enfrentamos desafios, desde barreiras culturais até a falta de incentivo e oportunidades. Para mudarmos esse cenário, é essencial fortalecer redes de apoio, garantir políticas de incentivo à participação feminina e ampliar o debate sobre igualdade de gênero.
Precisamos que mais mulheres acreditem no seu potencial e sejam encorajadas a disputar espaços de poder. A igualdade não pode esperar, e cada passo dado hoje define o futuro que queremos para as próximas gerações.
A Procuradoria Especial da Mulher é um importante instrumento que atua na defesa dos direitos das mulheres, incentivando sua participação na política e promovendo políticas públicas que garantam mais oportunidades”.
Maria Ester Menegasso, secretária de Educação de Balneário Camboriú

“Apoio familiar e suporte financeiro dos partidos”
“Estímulos na mudança cultural e da percepção do papel da mulher na sociedade. Incentivar a participação da mulher em programas de capacitação e formação política que as preparem para assumir cargos eletivos.
Apoio familiar para abraçar a causa e suporte financeiro dos partidos políticos”.
Kelli Cristina Dacol, diretora geral da Secretaria de Educação de Balneário Camboriú

“Desde a década das bruxas, as mulheres tiveram que romper paradigmas e quebrar estereótipos”
“Desde que há uma mulher em sociedade, há a vontade de autodeterminação”, esta é uma frase da jornalista e socióloga Isabelle Anchieta que gosto muito, porque em vez de vitimizar o feminino, representa muito mais a força de nós mulheres na busca pelas tomadas de decisão em todos os espectros e, especificamente, no reconhecimento da mulher na política e na ocupação de cargos públicos mediante todos os papéis que a mulher exerce conjuntamente.
Ao longo dos anos, desde a década das bruxas, as mulheres tiveram que romper paradigmas e quebrar estereótipos. Nessa trajetória, inúmeras mulheres autodeterminadas nos representaram e deixaram a sua marca na sociedade, no avanço da ciência e no papel da mulher na política.
É com essa capacidade de autodeterminação que enxergo a primeira prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan. Lembro do primeiro discurso dela como vereadora e também das diversas críticas (masculinas e femininas) que recebeu nos bastidores por ter dado ênfase na voz e se posicionado com firmeza. Em meio a muita pressão, ela não se acuou, se posicionou e, assim, conquistou o respeito e a confiança da população.
Essas são estratégias que nós mulheres impomos para sermos ouvidas (ou não sermos caladas) e firmarmos posição em espaços predominantemente ocupados por homens. Foi assim ao longo da história de reconhecimento da mulher na sociedade, continua sendo assim nos desafios atuais, quiçá tenha que continuar sendo assim.
Nesse contexto, tão difícil quanto a mulher ocupar uma posição política sem constantes tentativas de sabotagem é responder como aumentaremos o percentual de 13% de cidades brasileiras governadas por mulheres.
Talvez o caminho seja mais mulheres autodeterminadas, menos sabotagem por parte da sociedade, e, sobretudo, sanção para quem pratica violência política e de todas as ordens contra a mulher. Parabéns a todas nós mulheres por essa trajetória!”.
Aline Leal, secretaria de Saúde de Balneário Camboriú

“É essencial que continuemos a inspirar gerações, promovendo a educação e a inclusão”
“A recente conquista de ver 727 cidades no Brasil governadas por mulheres em 2025 é um marco extraordinário que simboliza não apenas a quebra de barreiras, mas a ascensão de vozes que sempre tiveram potencial para liderar.
Em Balneário Camboriú, a vitória de uma mulher após 60 anos de emancipação é um grito de esperança e transformação! É tempo de celebrar, mas também de refletir sobre o caminho que ainda precisamos trilhar.
Acredito que a mudança começa dentro de cada um de nós. Para reduzir o tempo de espera por mais conquistas e igualdade, é essencial que continuemos a inspirar gerações, promovendo a educação e a inclusão. Devemos ser agentes de transformação, unindo forças e criando espaços onde as mulheres possam não apenas participar, mas brilhar em suas plenas capacidades”.
Magda Bez, secretária da Fazenda de Balneário Camboriú

“Aspecto a ser vencido é da própria mulher, que ainda carrega a “culpa” por sua ausência no lar”
“As conquistas passam por engajar as mulheres como protagonistas nos papéis de liderança. Observamos a atuação delas em papéis secundários (vice, suplente, etc) em todas as áreas.
Outro aspecto a ser vencido é da própria mulher, que ainda carrega a “culpa” por sua ausência no lar e a pouca compreensão da família ao assumir um cargo, um desafio, que sem dúvida alguma dividirá seu tempo.
O papel das redes de apoio – sororidade – (clubes, associações etc) para inspirar, motivar, engajar as mulheres a ocupar seu espaço na sociedade é primordial. Esse trabalho é de 365 dias por ano, é uma luta diária de romper barreiras”.
Angelita Koslowski, secretária municipal de Controle e Transparência

“Aumentar a presença feminina em posições de comando é fundamental”
“A conquista das mulheres no mundo político é um passo vital em direção a uma sociedade mais justa, aumentando a presença feminina em posições de comando é fundamental para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e que as políticas reflitam a diversidade da população.
Como dizia Angela Markel, “A liderança é menos sobre uma posição dominante e mais sobre a capacidade de empoderar os outros e promover a colaboração”.
Grasiela Martins, subprefeita da região sul de Balneário Camboriú

“Nós mulheres demonstramos uma notável capacidade de enxergar questões de forma abrangente”
“Hoje, testemunhamos um marco histórico: a posse de Juliana Pavan como a primeira mulher a assumir a prefeitura de Balneário Camboriú em mais de 60 anos de emancipação do município. Sua trajetória política, pautada pelo compromisso com a população enquanto vereadora, inspirou mulheres de todas as idades a acreditarem em seu potencial e a ocuparem espaços de liderança e representatividade.
Além disso, a prefeitura, por meio da Secretaria de Assistência Social, Mulher e Família, criou a Diretoria de Políticas Públicas para as Mulheres, uma iniciativa desenvolvida dentro da Reforma Administrativa. Essa ação reforça o compromisso da atual administração em promover a igualdade de gênero, implementando políticas voltadas às mulheres nas áreas da educação, saúde, segurança, mercado de trabalho, empreendedorismo e no combate à violência contra a mulher.
Para acelerar o processo de inclusão feminina na política e em outras esferas de decisão, é fundamental fortalecer iniciativas que incentivem a participação das mulheres, garantir a aplicação efetiva das cotas de gênero nos partidos políticos, combater a violência de gênero e investir em programas de capacitação e formação de lideranças femininas. Essas medidas não apenas promovem debates e reflexões, mas também resultam em ações concretas para um futuro mais igualitário.
Nós mulheres demonstramos uma notável capacidade de enxergar questões de forma abrangente, de compreender e se conectar com as emoções dos outros, de realizar múltiplas tarefas simultaneamente e de assumir diversos papéis, tanto na vida profissional quanto pessoal. Então, por que não na política também?
Elas frequentemente enfrentam desafios e barreiras, o que as torna ainda mais resilientes e adaptáveis. Todas essas habilidades são valiosas em diferentes contextos.
Juliana Pavan é um exemplo claro dessa força, assim como tantas outras mulheres que atuam em diferentes esferas públicas e privadas no Brasil.
Que essa conquista sirva de inspiração para futuras gerações, reafirmando que a igualdade não pode esperar. Juntas, podemos construir uma sociedade mais justa e representativa”.
Nota da Redação: A secretária da Comunicação, Dagmara Spautz, foi convidada para participar da reportagem, mas não retornou até o fechamento da edição.