A Escola de Cães-Guia Helen Keller atua em Balneário Camboriú desde 2008 e desde então entregou 65 cães.
Atualmente, a Escola está com a ninhada K (os nomes são escolhidos de acordo com essa letra e o público pode ajudar através deste link), com 10 filhotes que precisam de famílias socializadoras, com quem ficarão por 15 meses para ‘conhecer o mundo’.
A Escola também precisa de voluntários e apoio financeiro para continuar o trabalho que desenvolve, com a entrega de cães-guias, a exemplo do que aconteceu nesta semana: a bancária Marina Campos de Paiva, 32 anos, de Minas Gerais, agora é acompanhada da cão-guia Eleven.
Ninhada K espera por famílias socializadoras
O Página 3 esteve na Helen Keller recentemente e acompanhou um pouco da rotina da Escola. A reportagem foi recebida pela presidente, Elis Busanello, e pela coordenadora, Graziella Regina Ganeo. Elas explicaram que de cada ninhada (que varia entre 6 em 10 filhotes, em média) costumam tirar uma matriz e/ou reprodutor, que é o cão que será utilizado para manter a reprodução de filhotes, já que é preciso ter o pedigree correto.

A Escola já recebeu doação de cães para isso e também já doou para outros locais.
“No máximo em quatro meses o filhote vai para a família socializadora. A ninhada K tem 60 dias e estamos em busca de socializadores; as famílias que quiserem, podem entrar em contato com a gente. A média é que desses 10 filhotes, cerca de seis sejam aptos a serem cães-guias, os outros podem ter outras funções como assistente para família com autista (como é o caso do cão Fargo, que está na Escola e poderá ir em breve para uma família – interessados podem procurar a Helen Keller), apoio emocional, visitas em hospitais ou então se aposentam, virando o ‘cão pet’”, explica Graziella.

Quem pode ser socializador
Para ser família socializadora, é preciso que a pessoa tenha em mente que terá que levar o cão para todo lugar, porque é exatamente essa a ideia – que ele conheça todo lugar possível; hoje, pela Legislação Brasileira, só não é possível entrar com cão-guia em UTI e cozinha industrial.

“A Escola arca com tudo, ração, veterinário, banho… a família só precisa levar ele por tudo, e respeitar os comandos para comer, não permitindo subir na cama, no sofá… porque é um cão diferente, e que precisará ser educado nesse sentido, não podendo ficar sozinho, e sim sempre acompanhando a família/pessoa onde ela for”, acrescenta a presidente Elis, destacando que fazem entrevistas e também visitam a casa da pessoa que deseja socializar os cães, para saber se ela realmente se encaixa no perfil.
Não é necessário que a pessoa saia para trabalhar, por exemplo, já que a realidade atual também é de home-office – inclusive há um cão sendo socializado nesse sentido, e ainda podendo conviver com crianças, cães, gatos e outros pets.
Treinamento após a socialização

Após os 15 meses de socialização, o cão volta para a Helen Keller, onde é treinado por seis meses pela equipe da Escola (após o fim do treinamento há uma avaliação para saber se o cão será guia ou não, e então passa por uma avaliação de 20 a 30 dias com o cego que deseja tê-lo), que hoje conta com 30 voluntários; a equipe diária do local é composta por dois estagiários, dois treinadores e três no manejo dos cães, além de veterinários voluntários.
Empresários e moradores de Balneário e região podem ajudar financeiramente e também com materiais/estrutura – a grama da Escola está precisando ser trocada, por exemplo. Ração a Helen Keller ganha da marca Dalpet.

“Toda a nossa estrutura é montada pensando no bem-estar do cão. Hoje estamos treinando seis cães, que já passaram pela socialização. O treinamento costuma durar de 1h30/2h por dia. Mas vale lembrar que desde o terceiro dia de vida o cão já começa em um processo de dessensibilização corporal, sendo tocado, estimulado, pensando no futuro, onde ele poderá ser tocado em partes como o rabo, e outros locais que outros cães podem não aceitar muito bem”, acrescenta a coordenadora Grazi.
Marina e Eleven: cão-guia de Balneário vai para Minas Gerais

Hoje há uma fila de cegos que desejam ter cão-guia e os interessados podem se inscrever, porque nos próximos meses os seis cães em treinamento poderão estar aptos a serem encaminhados para assumir a função de cão-guia oficial, como foi o caso de Eleven.
A bancária Marina Campos de Paiva, de 32 anos, é mineira e veio para Balneário Camboriú especialmente para passar pelo período de avaliação e ver se teria uma boa relação com a Eleven, uma labradora-retriever. O que aconteceu.
Marina conversou com o Página 3 e salientou que sempre quis ter um cão-guia, mas que era ‘um desafio’ encontrar em Minas Gerais. A irmã dela também é cega e conseguiu um cão através do Instituto Federal Catarinense – Campus Camboriú, e indicou então a Helen Keller.
“Era um sonho que eu tinha há muitos anos. Conhecer a Eleven e treinar com ela foi emocionante, um sentimento de gratidão profunda, ainda mais porque cuidaram dela para ela chegar até mim. Estou muito empolgada. Hoje, eu ia a lugares se precisava ir, e agora, com ela, poderei ir porque quero, tendo mais liberdade e autonomia”, afirmou.
Marina comentou que é apaixonada por cães e que Eleven será sua companheira ‘para tudo’.
“Trabalho, sou casada, faço atividade física, curso de inglês… tenho uma rotina agitada. A vida vai ser muito diferente a partir de agora. Terei liberdade de ir e vir”, completou.