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Balneário Camboriú

Dalmiro Coelho: a história do salva-vidas mais antigo de Balneário Camboriú

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Dalmiro Coelho, o guarda-vidas mais antigo de Balneário (e do Brasil!) é memória viva da praia: salvou 2.500 pessoas 
O ex guarda-vidas Dalmiro Coelho, 70 anos (nascido em 01/10/1950) tem muita história para contar! Nascido em Florianópolis, mora em Balneário Camboriú desde que tinha 20 anos. Bombeiro militar, ele se mudou para a região para trabalhar como guarda-vidas (na época chamado de salva-vidas), inicialmente em Itajaí e depois em Balneário. De lá pra cá, se passaram 50 anos. Dalmiro foi considerado o guarda-vidas que trabalhou por mais tempo no Brasil, mas, segundo ele, foi tirado da praia em 2020 contra a sua vontade por conta de sua idade. O agora aposentado conversou com o Página 3 sobre suas memórias das praias de Balneário, os salvamentos que marcaram sua vida e a saudade diária que sente do trabalho. 

Dalmiro mostra as fotos de seu tempo de atleta, onde competia pelos bombeiros e polícia (Foto Arquivo pessoal)

Manézinho da Ilha em Balneário 

Eu nasci em 01/10 de 1950! Em Florianópolis. 
Vim para Balneário em 1970, com 20 anos. 
Eu era bombeiro e vim trabalhar aqui. 

50 anos e 2.500 salvamentos 

Até hoje, eu sou o guarda-vidas mais antigo do mundo! 
O Guinness Book me procurou, mas o comandante disse que 
Não podia fazer porque não sabia se eu tinha trabalhado 
Esse tempo todo,  
Mas eu trabalhei, sim! 50 anos. 
Eu salvei uma faixa de  
2.500 pessoas! 
Fico muito feliz pelo papel que cumpri. 

Primeiro em Itajaí, depois Balneário 

Vim transferido, trabalhei na Praia de Cabeçudas, 
Atalaia, 
E depois vim pra cá e não saí mais daqui! 
Naquela época, era muito divertido, 
Aconteciam bailões pela cidade, tinha festa na Barra Sul, 
Bom mesmo! 
Hoje acabou tudo, veio pra cá. 
Eu curtia muito. 
Mas vinha embora, porque trabalhava das 8h às 18h, depois das 7h às 8h, depois das 8h às 20h, 
A gente trabalhava bastante.

Antes….(Foto Arquivo pessoal)

Depois…Dalmiro no mesmo posto em que sempre trabalhou (Foto Renata Rutes))

1992: salvamento que lembra até hoje 

Em 1992, trabalhei sem nadadeira, no posto da 
Praia dos Amores, ali na Brava né, 
Eram três elementos (guarda-vidas) no posto, um pegou folga, 
Meio-dia um foi almoçar e eu fiquei sozinho, 
Sem nadadeira! E um mar de bandeira vermelha. 
Deu um afogamento com dois elementos (pessoas), 
Esses elementos eram de Londrina, 
Se eu não me engano o pai era deputado ou prefeito. 
Tirei os dois, sofri, e escapei de morrer, escapei! 
Lambada em cima de lambada, tirei os dois caras, 
Tinham 15, 16 anos… 
O pai agradeceu e veio com mil reais naquela época, mil reais! 
Eu disse ‘não, senhor, não quero’, falei que queria que eles viessem conversar comigo. 
Mas para me agradecer eles fizeram uma festa para mim no sítio da família, 
Lá em Londrina! E eu fui, eu e um amigo meu. 
Nunca vi um sítio com tanta manga! Foi lindo. E continuei trabalhando. 

Cidade bombava no verão 

As pessoas vinham para Balneário em dezembro, 
No verão, né. 
Tinha muito argentino! Vinham muito. 
A praia era bem diferente, bem diferente. 
Na época, meu deus do céu… 
Os carros passavam pela areia, a gente chamava a atenção,  
Pedia pra eles saírem. 
Tinham poucos prédios, lembro do Hotel Fischer, que hoje não tem mais, 
Tinha o Marambaia já, e poucos prédios grandes. 
E hoje, olha só… outra cidade! 
Uma das melhores praias do Brasil, a nossa Balneário Camboriú. 

Público não respeitava o mar 

Muitos não respeitavam, e o que complicava muito 
Eram os argentinos, a gente falava: 
“Não pode entrar, não pode, bandeira vermelha”, 
E eles diziam “Tudo bem”, mas a gente virava as costas, 
E a patota estava lá de novo. 
E eu xingava, xingava mesmo (risos) 
Eu não tinha medo, ‘ah seus demonho, curisco, vai te a merda, 
Olha aqui a bandeira vermelha!’. 
Eu sabia pouco de espanhol. 

Treinamentos 

Eu muitas vezes dava treinamento físico para os guarda-vidas
Aqui na praia. 
A gente corria da 1.400 ao Pontal Norte, 
De lá vinha a nado, dava a volta na ilha, 
Depois continuava na física 
Entende? 
A gente fazia salvamento também, 
Entravam dois elementos dentro da água, cinco metros cada lado, 
E tinha que ir lá buscar os dois elementos. 
Quase todo dia era treinamento, volta na ilha, correndo. 
Muitas vezes da ponta da Barra Sul a ponta da Barra Norte, 
Nadando. Muitas vezes a gente fazia. 
Tinha o nado noturno, mas era muito perigoso aquilo. 

Poucos guarda-vidas 

Ah, quando eu vim pra cá éramos em poucos! 
Tinham uns 10 elementos e só três postos, 
Depois foi aumentando, hoje tem seis e as cadeiras. 
É obrigado a ter, é muita gente na praia de Balneário hoje. 

Dalmiro em serviço, com o guarda-vida Seba (Foto Arquivo pessoal)

Crianças perdidas 

Você não imagina como tinha criança perdida! 
Só que, na minha opinião, 
É relaxamento da mãe e do pai. 
“Vai, minha filha, brinca ali”, 
Pega outra criança, vai brincando, vai para longe. 
Um menino se perdeu uma vez, lembro bem, 
Aqui na 1.400 se perdeu e encontramos ele 
Lá no canto do Marambaia! No posto 1! 
Aqui, há uns três anos, tinha uma força d’água muito grande, 
Na Rua 2.000, uma senhora veio gritando que tinha uma excursão, 
E um se afogou. Corremos, eu e outro guarda, 
Mergulhei, dois mergulhos, achei o cara. 

“Dei uma pesada” 

Você não queira imaginar! 
A gente tenta falar para quem está bebendo 
“Sai, sai fora”, 
Acham que o mar não é perigoso. 
Já vimos muita coisa na praia, coisas feias, 
A gente não tem medo,  
Logo dei uma pesada! 
Chamamos a polícia, levam eles. 
O público mudou, não é como antigamente. 
Pessoal é da farra, tá bem complicado. 
Não vem mais tanta qualidade como antes, 
Como os argentinos, que traziam dinheiro. 
Hoje temos guarda-vidas direto porque 

Guarda-vidas o ano todo 

Tem movimento o ano todo. 
Hoje trabalha guarda-vida civil, tinha a FUNSALVAS, 
Depois separou e os bombeiros tomaram conta. 
Os bombeiros são os chefes, eles trabalham nos jet-skis,  
O resto é só guarda-vida civil. 
Temos uma equipe muito boa, excelente. 
Mas o salário deles podia melhorar, 
A diária deles tá baixa, é R$ 180 por dia.
No inverno tinha que tem posto todos abertos, 3 por posto, 
No verão trabalhamos 4, 5 por posto. 

Sentado no barco com um de seus colegas guarda-vidas, em uma temporada de verão (Foto Arquivo pessoal)

“Me tiraram da praia” 

Por conta da minha idade, tô com 70 anos, 
Me tiraram da praia! 
Eu fui atleta, quando terminava a temporada, eu ia 
Para os bombeiros, corria pela polícia também. 
Tenho as fotos tudo aqui! 
Eu corria muito. 
Eu queria continuar trabalhando, eu tinha 
Um preparo muito bom. 
Pra você ter ideia, o meu mil metros correndo 
É 2min30s. 
Daqui (1.400) até a Barra Norte, indo e voltando, 
Eu fiz em 11min. 

Eu tenho depressão, porque me tiraram da praia, 
Eu não merecia! Eu fiquei numa situação muito crítica, 
Me separei. 
Parei há um ano atrás, 
O comandante me sacaneou. 
E tanto que eu fiz por essa corporação… 
Coloquei os bombeiros lá em cima! 
E me jogaram lá embaixo.
Só pela idade, me tiraram.
Mas ainda venho, falo com todos os meninos, 
Os guris pedem pra eu voltar. 
Sou muito conhecido em Balneário. 
Tenho muita amizade aqui. 

Dia a dia 

Eu não paro, ando aqui, ando ali 
Acordo todos os dias às 4 da manhã, 
Aí fico na cama, 10 pras 6 vou no posto de gasolina, 
O Sonho Meu, moro perto ali, 
Ajudo eles a tirar os materiais do posto e 
Aí vai. Caminho pela cidade. 
Mas eu queria estar na praia! 
Fiquei chateado por me tirarem da praia. 
E a vida é essa né, fazer o que? 
Eu queria tanto voltar! 
Podiam me deixar fazer rondas,  
Se me deixassem voltar, eu voltaria. 
Eu ficaria cuidando dos meninos. 
O Fabrício, prefeito, me conhece, 
O Gotardo foi nosso guarda-vida, foi um bom guarda-vida! 
Se você ver ele, manda um abração pra ele. 

(Foto Renata Rutes))

“Balneário é Balneário” 

Vou ser bem sincero sobre o alargamento: 
Eu sou contra! 
Porque vai vim mais areia, 150m, né? 
Um buraco, ponto a ponto, como na Barra Sul, 
Vai descer. 
Parece que vão tirar os quiosques, né? 
Vão tirar tudo, asfaltar, fazer ciclovia. 
Mas Balneário é uma praia linda, todo mundo gosta. 
Vem pra cá, curte a vida! Balneário vai bem. 
Vai continuar crescendo, 
Balneário é Balneário, querida. 
Vai crescer cada vez mais! 
É uma cidade muito linda.

Texto – Renata Rutes

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