- Publicidade -
18.2 C
Balneário Camboriú
- Publicidade -

Dona Biba: cinquenta anos de Bairro das Nações, boas lembranças e trabalhos sociais

O Página3 publica todos os anos entrevistas com os antigos da praia. Essa foi publicada em julho de 2020. Confira a memória. 

Maria da Glória Mafra Bertholde diz que não existe nenhuma Maria da Glória ali, é Bibi

Ainda menina, nascida na localidade do Braço, em Camboriú, ela se apelidou Biba, como ficou conhecida. Dona Biba tem Alzheimer, e por isso durante a entrevista ao Página 3 teve ajuda de dois netos, os irmãos Sarah e Lucas. Casada com José Bertholde, que faleceu em janeiro, vieram de Camboriú para Balneário ainda em 1969, quando ela tinha 34 anos. Os dois passaram a morar na Rua Jordânia, no Bairro das Nações, onde Biba reside até hoje e onde moram seus cinco filhos, 14 netos e cinco bisnetos, a família é conhecida por lá.

“Eu me lembro, faz muito tempo”

“Ela tem 85 anos e já mora há 50 anos aqui no Nações, sempre na Jordânia”, disse o neto Lucas

“Não é 55? (risos). Ah tá, é Balneário que está fazendo 56. É… eu tenho 85. Já faz muito tempo que moro aqui, mas não sei são 50 anos não… nossa, já faz tudo isso? Não é uns 18 só? Mas nossa, eu não acho que já faz tanto assim, não. Nossa… já faz mesmo esse tempo todo. Eu me lembro, faz muito tempo”.

Casas sem grade nem portão

Tinha capim na rua e o bairro era muito tranquilo.
Era tudo um ‘areião’.
Tinha pouca gente morando aqui e eram todos gente boa.
Os vizinhos se conheciam, conversavam, as casas não tinham grade e nem portão.
Era muito bom.

Lembro da
morte do Pio

Quando a gente veio morar pra cá o prefeito era o Armando César Ghislandi.

Quando moramos no Tabuleiro, que antigamente era ali pra baixo também (perto do atual PIT, de Balneário), eu lembro da morte do Pio.

O corpo veio de Florianópolis, entrou na cidade devagarinho,
nós acompanhamos.

Feira no centro

O casal trabalhava na feira municipal na Avenida Central, perto do atual Teatro Municipal Bruno Nitz. Ela e o marido José, inclusive, tinham clientes famosos, como o cantor Nelson Ned.

“Sim, era fruta, verdura, nata, queijo também.
Bastante queijo, muito queijo (risos).”

Sarah acrescenta que a mãe dela, Izete, uma das filhas de Biba, relembra até hoje o quanto detestava embalar nata e salsinha. “Ela dizia que era um saco amarrar salsinha” (risos).

Como era a cidade e contato social

Não tinha nada, prédios, não, não.
A praia nossa daqui? Não tinha nada de hoje.

Era diferente. Eu gostava de ir, tinha carrinho de milho também, caldo de cana.

Lembro muito o lanço de tainha no final da praia, uma pilha quase do tamanho dessa casa, foi um fato histórico. Hoje é uma baita duma cidade, o progresso a gente vê todo dia, nem acredito.

A rua aqui era de barro, não era asfalto

Todo mundo se conhecia.A gente tinha TV e o pessoal vinha assistir, é. Tudo aquilo, Irmãos Coragem. E não tinha tanto barulho como hoje, a gente não precisava de muita coisa, vivíamos com pouco.

Costura e novena

Durante muitos anos, Biba ia para Itajaí de ônibus para comprar tecidos no ‘Boião’, e depois ia na novena na Igreja Matriz da cidade vizinha. Ela costumava costurar e fazer bonecas.

“O comércio de Itajaí que mandava, era melhor. Meu lazer era ir em Itajaí, na novena da Matriz e voltar pra casa”, afirma.

Quermesses

Biba participava com o esposo, José, de encontros de casais, e em quermesses que aconteciam em Balneário e Camboriú. “A vida deles era muito isso, faziam viagens todo ano para Iguape, Aparecida do Norte, todo ano, durante 30 anos, fizeram a peregrinação para Bom Jesus do Iguape”, salienta Sarah.

Cabeleireira, catequista, campanhas

“A vó também cortava cabelo, né vó?”, pergunta Lucas.

É, era mais ‘no’ Camboriú que eu fazia isso. Fazia permanente, vendia pra fazer peruca.
Eu fazia muito, muito permanente.

E  fazia trabalhos sociais como cabeleireira, cortando o cabelo no hospital, e dos presos do antigo presídio, na Rua Inglaterra, Bairro das Nações, onde hoje fica a delegacia.

“Catequista eu também fui, ministra da eucaristia na Santa Inês (igreja matriz de Balneário, ‘por uns trinta e poucos anos’), Movimento de Irmãos…”

Sarah lembra que a vó ajudou na construção da Igreja São Francisco de Assis, na Rua Itália, com o falecido Frei Anselmo.
“Ah, o Frei Anselmo… era velho! (risos) Ajudei também a fazer uma igrejinha em Camboriú, aham”, lembra Biba.

Os netos também lembram que quando eram criança era comum a vó chamar para festas de final de ano, como o Natal, pessoas que precisavam, até mesmo moradores de rua.

“Para jantar com nós da ceia de natal, pessoas humildes, a vó dava todo o apoio. Também levava cesta básica no Conde Vila Verde, Monte Alegre, em Camboriú. Ela sempre foi uma pessoa dedicada com a família, mas organizava campanhas de agasalho”, diz Lucas.

Dona Biba e o neto Lucas

Descendência italiana na mesa

A família de Biba é descendente de italianos, e isso se reflete na hora de comer.
“Sempre tivemos a minestra, polenta, muito queijo. Frutas e verduras e legumes da nossa feira também”.

Texto Renata Rutes

- Publicidade -
- Publicidade -
- publicidade -
- Publicidade -