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“Santinho vende peixe no final da rua”

O nome da família de Santo faz parte da história de Taquaras

Santo, 59, é filho do Santinho, primeira família que morou na praia de Taquaras, e que já está na quarta geração.

Ninguém sabe, mas Santo se chama Ladislau Santos Pereira. É um dos 14 filhos de Santinho e Maria.

Santo casou com Tina há 33 anos, e tiveram três filhos, o primeiro faleceu logo após o parto.

Vivem na beira do mar, de onde vem o seu sustento, e onde recebem à maneira antiga: com boa prosa, respeito e atenção. Santo é um guardião da ponta de Taquaras, conhece cada um que passa por ali para percorrer a trilha da galheta, a passeio ou hábito.

“Sei quem é turista, quem vem pescar, quem vem fumar, quem vem namorar”

Quando alguém passa do ponto, ativa a rede de segurança, porque a casa da gente tem que ter respeito, e a gente cuida.

Santo diz que “Santinho” já virou endereço e referência, se alguém perguntar por Rua Jacarandá ninguém conhece, no Santinho todo mundo sabe ir.

Foi a primeira família a morar na ‘Taquara’  “Meu pai conheceu isso aqui de quatro donos, sentimos orgulho, a gente se sente bem, tratamos com muita verdade, simplicidade, olhando no olho todo mundo que vem”.

Santo trabalhou desde pequeno, valoriza o que aprendeu na prática e se sente privilegiado.

A lembrança que eu guardo da infância é que era uma infância bacana, não tinha perigo de assalto. Brincar tinha só o domingo, porque naquela época era muito trabalhado, fazia o serviço da roça, que trabalhei até os 14 anos com o pai, roça de farinha, engenho…

Mas eu ia obrigado, dizer que eu gostava da roça não. Era puxado o serviço e eu via uma renda muito demorada, tinha que esperar um ano e oito meses no mínimo para poder colher uma roça… então só se tivesse várias. Eu já enxergava essa coisa. Na pesca a gente investe alto, mas já tem o retorno no outro dia. 

Arrepender de não ter estudado,”ser alguém” não me arrependo de nada, porque vejo muito cara estudado que não o privilégio que eu tenho, os amigos, esse jeito de levar a vida.

Você vem na minha casa, não vem só pra comprar o peixe, vem porque gosta da gente, isso é diferente, no mercado você compra e vai embora. Aqui você tem o prazer de trazer teus vizinhos, sabe que é uma casa de família, conversa, essa é uma grande diferença, coisa que a gente não encontra mais por aí.

Santo e Tina

Você é um chefe de cozinha né?

Eu faço a propaganda e a Tina ensina né, mas meu pai já falava isso, era Maria o tempo todo, que era minha mãe né, Maria pra cá Maria pra lá. Mas era ele que comunicava, falava com as pessoas. Lembro que o pessoal vinha gravar com meu pai, eu tinha uns 18, 20 anos, o Eduardo gringo que fez, ficou bacana a gravação, meu pai dando entrevista, falando do engenho de farinha quando foi feito, em 1940, a minha mãe às vezes questionava com ele: ‘ah bobiça pra que, dando entrevista’, mas uma vez ela falou, depois que viu pronto: “é, só eu que não saio”. Então às vezes tem timidez e coisa, mas quando vê a coisa pronta, é bacana né. 

E sempre que a gente vem aqui leva uma receita junto

A gente aprendeu vendo a mãe e o pai fazer né, na época tinha mais peixe, mais quantidade de garoupa, a vida toda vendo eles fazer. Quando as pessoas vem comprar um peixe, a gente sempre pergunta, como você quer fazer, assado ou frito, muitas respondem, “eu quero comer” (risos)

Não sabem que tem diferença, não entendem a pergunta

É por isso que a prefeitura antes da temporada dá curso para os ambulantes, o curso não é pra você falar bonito, é pra ter educação pra atender essas pessoas que chegam de má vontade ou com brincadeira sem graça (risos).

Porque você pergunta porque quer oferecer o melhor: se é frito, a gente tem peixe para fritar e se é assado tem o peixe pra assar.

O que fica melhor assado? Uma anchova, hoje nessa época, a tainha. Mas a tainha, se você pegar um peixe lá vivinho, vivo vivo, e for assar, ela não fica tão saborosa como se descansar uns dois dias no gelo. Eu te digo hoje com toda certeza, porque a musculatura dela ainda não descansou. Depois do descanso, até o corte fica perfeito. Se você cortar um peixe fresco, uma parte da posta fica esponjosa a outra fica pra dentro. Você corta ela descansada ela fica toda perfeita dos dois lados, vai comer a carne está macia, saborosa, porque descansou. Então, a gente tem esse conhecimento. Eu fui limpar peixe dos 20 anos pra cá, até aí chegava com o peixe, a mãe limpava, a mãe se virava. E depois a gente foi trabalhando trabalhando tudo… essa coisa, de comunicar com as pessoas, a simpatia da gente, a gente não falava, era bicho do mato, meu pai que conversava. A gente não tinha paciência sabe.

Passa uma dica boa aí então

Um copo de água, pega teu filézinho empanado, mergulha dentro e tira, não deixa molhar teu dedo, molha rapidinho, puf, bota pra fritar. O excesso de farinha vai ficar aqui dentro, não suja o óleo.

Pode fazer com peixe fresco também, passa na farinha, mergulha rapidinho e tira. Só não pode é molhar o dedo, senão pinga no óleo quente e pega fogo.

Quando eu falei pra Tina, ela trabalhou em restaurante, teimosa não quis fazer, “vai pegar fogo, vai pegar fogo”, minha sobrinha a Janete ali em cima fez, e disse: “tio, não pega fogo, é só não molhar o dedo”.

A gente tá sempre aprendendo e gosta de ensinar.

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