A história do jornalista Túlio Cordeiro, 59 anos, se cruza com a de Balneário Camboriú: a família mudou para a cidade há exatos 57 anos, no dia em que um show de fogos comemorava a emancipação de Balneário. Túlio se tornou conhecido em Balneário e em Santa Catarina por coordenar concursos de beleza, com destaque para o Miss Santa Catarina, assim como organizar festas – bailes de debutantes, desfiles de moda, e também como colunista social, onde cobriu eventos importantes e badalados de Balneário, entrevistando personalidades.
Nasceu em Ituporanga
Nasci em 23 de maio de 1962, no município de Ituporanga.
Meus pais já tinham casa de veraneio em Balneário, lá no
Iate Clube. E depois o pai resolveu fixar residência aqui.
Ele sempre foi industrial mecânico, montou uma oficina na
Avenida do Estado, uma oficina com estrutura de madeira,
Consertava muita caçamba da prefeitura, betoneira também.
Fixamos residência no dia em que
Estavam soltando os fogos de artifício da emancipação
Política de Camboriú. Na época eu tinha dois anos e meio.
Na foto Tulio na infância, em família.
Infância e lembranças
Meu pai então construiu uma casa, da Rua Jordânia com a Avenida do Estado,
Até a Rua Jamaica, que ficou de herança para um dos meus irmãos.
Brincávamos por esse Bairro das Nações, na rua, era muito bom.
Subia o morro do Cristo Luz a pé, voltava todo cortado por aquele mato que corta.
A gente ia brincar através do morro da Dona Fausta, que era uma mulher que benzia.
Conhecia todo mundo. Aos fundos da minha casa tinha pomar,
Minha mãe criava galinha, porco, eu tive coelho, codorna, tartaruga.
Isso até os meus 12 anos.
Meu pai teve um apartamento no bloco B do edifício Londrina,
Que caiu uma vez… meu pai saiu 2 minutos antes de cair.
Eu morei nesse prédio.
A gente viu Balneário crescer.
Pulei Carnaval no Iate Clube, minha mãe jogava bolão, ela foi
Braço de Ouro, comia um pastel delicioso que tinha no Iate Clube.
Adolescência:
desde cedo assistia concursos na TV
Minhas lembranças são algum tempo depois, estudando no João Goulart.
Minha primeira Miss SC, digo que é minha porque eu apoiei na época,
Não tinha coordenador na época, foi a Tânia Gall.
Minha amiga, eu ia para o primário de mão dada com ela, para a escola no João Goulart.
É uma amizade muito linda, sempre friso isso com muito orgulho.
Depois do João Goulart fui para o Salesiano, estudei do 4º ano primário até o 2º científico.
Lembro de ir na oficina do meu pai, mas eu nunca quis trabalhar com isso.
Sofri um pequeno acidente na oficina, estourou um esmerilho,
Um afiador de lâminas, e cortou minha barriga.
Teve outros acidentes na época, cortou o dedo fora de um mecânico,
Cortou o pênis do meu pai, teve que costurar.
Isso me afastou bastante. Foi bem chato.
Desde adolescente eu maquiava minhas amigas,
Tinha muitas amigas! Sempre amigas mulheres.
Arrumava o cabelo delas para sair aos finais de semana.
E desde pequeno assistia ao Miss Universo e algo me dizia que
Era com isso que eu ia trabalhar, isso na década de 70.
Muito ativo no esporte
Quando eu era estudante do Salesiano
eu fui muito atleta.
Fui atleta de tênis de mesa,
campeão dos Jogos Escolares,
Fui campeão de handebol, campeão de vôlei,
Fui para Jogos Regionais, Jogos Abertos,
campeão por Itajaí,
campeão catarinense infanto-juvenil
pelo Clube Tubarões, de Balneário.
Em 1978, 1977… isso foi histórico.
Era infanto-juvenil, uma seleção
incompleta na época,
E mesmo assim ganhamos.
Cursinhos, vestibulares…
Fui fazer cursinho pré-vestibular em Florianópolis, no Pardal.
Reprovei, ia fazer vestibular para Medicina, mas vi que
Não podia ver sangue e resolvi fazer para Jornalismo,
Estava 10 por 1, algo assim, e também não passei.
Depois vim fazer cursinho em Itajaí na Fepevi, daí passei,
Fiz faculdade de Estudos Sociais na Univali, me formei.
Fiz Jornalismo anos depois, mesmo já tendo DRT quis fazer a faculdade também.
Fui meio cigano em Balneário, morei até 1980 no Bairro das Nações,
Vim para o Pioneiros onde moro hoje, mas morei também na
Barra Sul, no Centro… morei sozinho em Floripa estudando, em São Paulo, onde
Trabalhei como modelo, adquiri bastante experiência.
Badalações
Eu era o ‘Tulinho’, sempre saí com gente mais velha.
Tinham muitas casas noturnas na cidade,
Metrô, Moustache, Sabata, La Ronde…
A gente ia muito no Cinerama domingo à noite.
Adorava ir no Cinerama.
Tinha o Clube Palmeiras, Som do Guru, lembro do Pavan nessa boate.
Tinha o Mau Mau na Avenida do Estado, em frente da Padaria Montibeller.
Tinha uma domingueira, uma piscina grande ali.
Claro, aí o Baturité! Antes de boate, era o Rancho.
Quando o Túlio Cordeiro chegava no Rancho do Baturité,
Na porta, sempre acompanhado de mulher bonita,
Marise, Maristela, Tânia Gall, Tânia Rosa, Deise Cardoso…
A gente parava tudo! Era como se todas as mesas do Rancho do Baturité
Virassem para a porta para olhar a gente chegando.
Sempre com humildade, porque a gente não tinha culpa de ser
magro, alto, bonito, bem vestido.
Éramos os modelos de Balneário!
O Rancho era tudo. A boate depois era onde a gente ‘esticava’.
Fiz o Garota Baturité, criei o Mil em uma Noites em Bagdá,
Depois o Nato deu sequência. Fiz concurso de miss no Baturité também.
Baturité foi muito legal para a minha profissão e um marco para a cidade.
Depois o Ibiza… eram muitos disputados os camarotes de lá.
como o ator Humberto Martins.
Como tudo começou: anos 80
Em 83 foi quando eu ‘lancei’ isso tudo, essa história da Crazy’s (sua agência de modelos manequins),
Eu já desfilava, bastante! Mas para montar a agência, dar os cursos,
Foi de 83 em diante. Em 1980 foi quando eu comecei a desfilar,
Mas eu sempre tive um dom de liderança, de coreógrafo,
Produtor, maquiador, professor. Deus me deu muitas dádivas,
Só tenho a agradecer. Consigo ir para estúdio, montar a pose da modelo, da miss,
Enquadro bem, tiro a foto, serviço completo assim e, modéstia à parte,
Altamente profissional! E eu vi que eu tinha uma inclinação muito grande para isso,
Mas meus pais relutaram muito.
Eu lembro que tudo o que eu ganhava nos desfiles
Eu tinha que esconder: roupas, calçados, presentes, cachês, dinheiro.
Até que eu vi que não tinha mais como esconder
e que eu tinha que falar para eles que eu estava desfilando.
Eles não concordavam, meu pai sempre foi muito rígido, machista.
Imagina, oficina mecânica, ter um filho modelo para ele não era uma boa ideia.
Era coisa de marica na época.
Desfiles dançados, ousadia
Eram desfiles dançados e eu dançava muito bem, era magrelão, altão.
Tinha o dom para a coisa.
Era a época da novela Dancin’ Days.
Era sempre com muito nível, éramos muito ousados nos desfiles,
A gente desfilava só de camisa e cueca, para vender a camisa…
Mas a nossa ousadia, que era recebida com surpresa, também deixava
As pessoas achando o máximo.
Não tenho noção de quantos fiz, foram muitos, para marcas grandes também.
A sociedade toda me conhece, sabe que sou homossexual,
Mas sempre tive uma postura diferenciada e isso sempre me colocou no topo,
Me admiravam.
É difícil dizer que não sofri preconceito, mas eu desviava.
Já apontaram e falaram ‘ah, ele é gay’. Mas eu tinha muito uma autossuperação.
Prata da casa
Meu currículo é, sinceramente, invejável.
Sou prata da casa, podem dizer que me vanglorio ao dizer isso,
Mas eu sou!
Tenho até uma certa mágoa, porque eu queria ter sido mais incentivado.
Fui montando uma sociedade, fiz concursos, desfiles, eventos, festas, homenagens.
Fui colunista social, escrevi para O Sol de Brusque, para o Jornal Balneário Camboriú, o JBC,
Para o jornal da Jackie Rosa, para o Jornal de Santa Catarina, o Santa,
Eu tinha duas, três colunas no Santa, no Diarinho também. Parei em 2013, 2014.
Mexi muito com a sociedade, bailes de debutantes, de Carnaval, Balneário, Itajaí.
Tive programa de televisão, na TV Mocinha, Badalando e Badalação,
Na TV Litoral Panorama trabalhei com a Vera Toledo e tive o programa Full Time.
Tive também um na RBS, um programete.
Fui assessor de imprensa também.
Sou um excelente maquiador.
Eu tenho aptidão para muitas coisas.
Muito trabalho, sempre divulgando Balneário
Eu cobria tantos eventos que eu saía com cabides pendurados dentro do carro,
Uma roupa para festa, saía de banho tomado e só dava tempo para trocar de roupa.
Nem sempre dava tempo de comer e eu precisava comer no Dusk, um lanche, de madrugada.
Era muito trabalho, eu fazia uma verdadeira via-sacra de eventos.
Era um deslumbre total, muito glamour, existia uma sociedade.
Fui um colunista social muito bem sucedido, eu era disputado para estar em eventos.
Falo com todas as letras: tive muito incentivo da sociedade em si.
Queria ter tido mais incentivo do município, mas agora se passaram 4 décadas.
Sou feliz porque fiz um trabalho muito limpo, verdadeiro, autêntico e profissional.
Sei que contribuí divulgando o nome de Balneário Camboriú não só
Para o Estado, mas para o Brasil e para o mundo, onde eu ia eu levava
Panfletos, cartazes, folders, cartões-postais de nossa cidade, orgulhosamente divulgando
A minha cidade.
Posso viajar para onde for, já conheci muitos países,
Mas sempre vou voltar para Balneário Camboriú.
Muitas modelos: ‘monopolizei a área’
Depois de voltar de São Paulo, em 83,
Trabalhei nove meses no Banco Bradesco, por incentivo do meu pai,
Saí de lá com uma hepatite B aguda, terrível, esgotante;
E aí já lancei meus cursos, eu tinha simultaneamente no Guarani, em Itajaí,
Em Balneário, no Senac… uma época eu tinha 150 alunos, lancei muita gente,
Porque todos queriam ser modelos manequins.
De modelo tive a Ira Barbieri, se formou comigo, não foi através de mim que ela se lançou
Foi em SP, mas se formou comigo e é minha amiga até hoje.
Outra que se formou comigo foi a Ana Paula Coelho, a própria Francine Eickemberg,
Que fez temporada em NY, no Chile.
A Georgia Melo, a Flávia Schuller… e tantas outras!
Esse grupo que fizemos, lá em 80, desfilou horrores… em SC, SP.
Tinha a Marise, a Maristela Rocha, que foi top 5
No Miss SC 80, que a Tânia Gall venceu.
Tínhamos a Tânia Rosa, filha do Carlinhos Rosa, que foi uma manequim sensacional.
E todas essas são minhas amigas até hoje.
Eu era um ‘paizão’ delas, viajávamos juntos… foram muitos momentos.
Posso dizer que ‘monopolizei’ a área mais de 3 décadas.
Não sei quantas agências vão se manter abertas,
Eu fechei a Crazy’s ano passado, vou trabalhar mais como freelancer.
Hoje o próprio Instagram é um book para o modelo.
‘Perrengues’ vivenciados
Fiz muitas ‘Noites do Champanhe’, que eram as formaturas dos meus alunos
Vi muitas modelos caírem na passarela, eu já caí.
Debutante caindo na escadaria do Guarani, se ‘empacotando’,
Várias tops caíram, escorregaram, tropeçaram. Teve modelo minha que
Caiu da passarela, em pé, voltou e continuou desfilando.
De tudo já aconteceu.
Tem Miss que arranca a coroa da outra, já soube de vestido que foi rasgado,
Sapato que some, uma pisando na cauda do vestido da outra, puxão de cabelo.
Eu, por exemplo, no palco do Miss SC em 1988, quando
a Isabel Cristina Beduschi ganhou, eu estava cumprimentando ela,
e um cara me deu um murro na cara, caí desmaiado, nariz quebrado.
E no outro dia precisei ir para SP para levar um vestido
Para uma miss.
Realmente acontece de tudo, tanto que até no Universo houve erro
De entrega de coroa.
Tem muitas situações inusitadas e chatas.
Concursos de beleza
Além dos Miss, também coordenei muitos concursos de beleza.
Fiz durante anos o Glamour Girl de Balneário Camboriú e o Glamour de SC.
As minhas do Glamour de Balneário eram mais lindas do que as do estadual.
Grazieli Schumacher, Janine Zuco… sempre ganhavam fotogenia, elegância.
Sempre nos destacávamos.
Fiz durante 20 anos o Musa SC, muitas daqui ganharam o Musa Brasil,
Como Grace Caroline Martins que ganhou em 97, em 95 Eliz Vieira,
que foi depois Miss Florianópolis, Andressa Custódio foi Musa Brasil também.
Fiz também o Rainha dos Estudantes, concurso tradicional de Balneário, ainda na década de 80.
Coordenei ainda o Garota Baturité, Garota Whiskadão, Garota Barra Sul,
Garota Coca-Cola, Garota Casa Blanca, eliminatórias do Garota Verão,
Rainha da Ginástica na Praia…
É um currículo enorme que tenho, não tem fim.
Tudo foi feito com muito amor, de forma profissional.
Fazia por amor, porque principalmente no começo a gente ganhava cachêzinho mixuruca.
A mulher catarinense
Não consigo dizer qual é a mais bonita que já conheci.
A mulher catarinense, em termos de beleza,
SC é um celeiro de beldades!
Aqui é uma ‘fábrica’.
E com todas as oportunidades que tem hoje no mercado, as mulheres
Estão ficando cada vez mais belas.
Embora eu não concorde com esse lado artificial,
Prefiro o natural, um sutil retoque para corrigir tal coisa.
Mas essa coisa ‘over’, essa sobrancelha asa de barata,
Cílios gigantes artificiais, não rola, não é legal.
Iluminador em excesso…
Isso estraga a beleza da mulher.
Mas o nosso estado, a imigração europeia, faz com que surjam essas mulheres
Tão lindas! E homens também.
As mulheres catarinenses têm muita atitude, garra, disposição.
A mulher está ocupando cada dia mais o seu lugar na sociedade,
Ela pode estar no topo de uma empresa, no topo político.
Os homens que se cuidem!
Eu sou mais elas do que eles, eles eu sou só por orientação sexual,
Eu sou elas ‘de cabo a rabo’ (risos).
Eu torço muito pelas mulheres.
Não tenho amigo homem, só colegas, brothers… amigas mulheres tenho muitas!
Miss Santa Catarina:
‘história linda’
Eu tenho essa história de 3 décadas com o Miss,
E é uma história de vida muito linda!
Foi o concurso mais importante que coordenei.
Preparei muitas misses de Balneário, Itajaí, Itapema,
Às vezes de outros municípios também, como Curitibanos,
E é claro, as Misses que representavam SC e que iam para o nacional,
Muitas se tornaram Miss Brasil e foram para o Universo também.
A última Miss Balneário a ser Miss SC foi a Laura Lopes, em 2014,
nessa versão Universo.
Já fui em vários Miss Universo também, como espectador e jornalista.
Sentei na primeira fila, é muito nobre, muito orgulhoso.
A atual Miss SC, a Milena Sens, é como uma filha.
Foi um timaço! Muitas para serem citadas.
Meio mundo passou por mim, dizem que estou velho, mas não!
Estou no pique.
Se eu parasse hoje, estaria realizado profissionalmente, porque sei que deixei
Um legado fantástico.
Saiu do Universo
Mas me tiraram em 2020 da coordenação da Versão Universo.
Nem sei o motivo. Eu sou muito sensível,
não nasci para me incomodar, mas me senti injustiçado.
Não deixo todo mundo pisar em mim, tenho meu limite.
Se ultrapassou, eu vou me defender.
Busco muito a ética, a postura e a elegância, mas já tive momentos que
Eu não me reconhecia, porque passei por uma injustiça.
Esse foi o maior ‘baque’ profissional que já passei na minha vida.
A minha vontade era falar tudo o que eu queria, sem me podar de nada.
Mas mantive minha postura. Foram monstros, uma corja do mal.
Eu vou continuar fazendo o meu Miss SC, mas o Beleza Internacional,
sou licenciado deles, essa versão que envia para o Japão.
Há muitos concursos, hoje temos mais de 10 Miss SC, devemos ter
Meia dúzia de Miss Balneário Camboriú.
Eu não faço mais o Miss Balneário, eram muitas funções e fui ‘delegando’.
A direção nacional sempre pediu que eu comandasse apenas o Miss SC,
Que manda para o Nacional e então o Beleza Internacional, no Japão.
Não haverá concurso em 2021, por conta da pandemia.
Esperamos conseguir fazer em 2022.
Futuro de Balneário
Eu tenho a idade exata de Balneário vivendo aqui,
Sou pratíssima da casa!
Cada dia que olho para cima, vejo um prédio novo nascendo.
Eu prefiro morar em casa, mas nascem torres todos os dias aqui.
Vejo que quem vai ter a sorte de viver aqui, vai morar na melhor cidade.
Balneário será totalmente verticalizada, unida com Camboriú, Itajaí e Itapema,
Porque não tem mais para onde crescer.
Temos que cuidar muito porque é preciso manter o verde, para a cidade respirar.
Minha única crítica é a segurança, tem muito indigente, bandido, mendigo…
Eu acho que é isso que mais falta e que eu pediria.
Ainda acho que a nossa cidade recebe bem, que moramos no paraíso,
É uma cidade caliente, tem essa coisa que ferve, que encanta.
Vamos ver Balneário conquistar seu espaço, essa badalação, essa coisa moderna!
É só sucesso.
Por Renata Rutes