Chegaram as férias e decidimos passear pelo sul, já havíamos ido uma vez até Montevidéu explorar a cidade, mas dessa vez resolvemos esticar um pouco mais até Colonia Del Sacramento e atravessar o Rio de la Plata para Buenos Aires, e assim fizemos.
Nossa primeira ideia era ir pelo litoral, mas os preços nas praias, como Punta de Leste estavam impraticáveis, mesmo com um mês de antecedência não achamos mais nenhum BnB (bed and breakfast) ou pousada, com o mínimo de conforto e preço razoável, então mudamos a rota. Fomos primeiro até Santa Maria, passamos pela alfândega em Rivera, de lá fomos direto para Montevidéu, na sequência e ainda no Uruguai fomos até Colonia Del Sacramento e por fim, Buenos Aires. No caminho de volta passamos por Uruguaiana, Santa Maria e de lá pra casa, Florianópolis.
Bom, vou contar em detalhes a nossa aventura, vem junto!
Dia 3, de Florianópolis a Santa Maria
Esse é um trajeto que faço ao menos duas vezes no ano, minha sogra e cunhados moram na cidade, e vez ou outra damos um pulinho por lá, não é uma viagem curta, ainda mais levando um cachorrinho que precisa de várias paradas para esticar as pernas. Só aí foram 11 horas de viagem, saímos no dia 3 de janeiro, às 4 horas da manhã, acordamos e já estávamos com as malas preparadas, só faltava embalar alguns equipamentos do trabalho (caso precisasse intervir em algum servidor rebelde, mas a ideia não era trabalhar). Às 5 da manhã já estávamos atravessando a Colombo Salles*, e o sol estava vindo com a gente. Boa viagem para nós!
De cara já percebi que íamos no contrafluxo, muita gente subindo para as praias, como esperado, enquanto descíamos para o sul.
Sou de Curitiba, e pra quem não sabe, curitibanos são acostumados com filas na Serra do Mar, então sempre tem água, biscoito, e coisinhas pra lanchar no carro, é um costume de quem desce pra praia em época de sufoco nas estradas, e mesmo radicada em Santa Catarina há quase 3 décadas, ainda levo esse hábito. Então só paramos mesmo para banheiro e um café pra dar uma acordada.
Pedágios: 14 postos de pedágios nesse trajeto.
Parada em Sta Maria antes de descer pro Uruguai
Deixamos o Sr. Billy na minha sogra, paramos por lá dois dias inteiros e voltamos pra estrada a caminho de Montevidéu no dia 6. Seguimos o roteiro de acordar, um café rápido e cair na estrada bem cedinho.
Dia 6, no caminho de Montevidéu
Os dias estavam de sol a pino, calor o tempo inteiro, abafado e a próxima parada seria Santana do Livramento, cidade fronteiriça com o Uruguai.
Planejamento e disciplina: Quando estava decidido, a gente cumpria o cronograma e pronto, apesar de conhecer um pouco a região, não queria estar na rua quando a noite caísse. E fomos pra estrada cedinho, poucos carros dividiam o caminho com a gente.
E a todo o tempo o cenário que passava pela gente mudava. E apesar de ser uma sexta-feira, continuávamos com pouca companhia de outros carros pelo caminho.
Quem já foi até o Uruguai “por dentro” já ouviu falar nas famosas retas, intermináveis retas durante todo o trajeto, elas se tornam algumas vezes cansativas, porque é só o que tem! Mesmo!
E com três horas de viagem, Santana do Livramento, chegamos à fronteira com o Uruguai, do outro lado a cidade de Rivera, onde está a Imigração, e onde ficamos por quase duas horas.
Hora de pedir saída do Brasil e entrada no Uruguai. A gente sempre carrega o passaporte porque é mais rápido, e chegamos cedo, deveria ser uma parada de meia hora, mas não contávamos com a fila na Imigração. Um dos agentes comentou comigo que estavam esperando muito movimento durante o dia, era um dos feriados mais importantes para os uruguaios, Dia dos Reis. Que beleza!
Primeiro pensei na demora pra pedir passagem, mas ainda daria tempo de sobra pra chegar em Montevidéu ainda dia. Segundo, íamos continuar sem muita companhia na estrada. Estávamos mais no contrafluxo do que nunca.
Depois de conseguir os carimbos e nos permitirem entrar no país vizinho, era hora de comprar alguns pesos uruguaios, ativar o cartão para compras internacionais, confirmar hospedagem e mandar recado pra mãe: “oi, mãe, estamos entrando no Uruguai, daqui pra frente só fico online quando achar algum wi-fi, não se preocupe, estamos bem”.
A carta verde, seguro obrigatório para dirigir em país estrangeiro da América Latina, já estava no carro e também já havíamos preenchido o cadastro do Telepeaje*, que nos garante passar por todos os pedágios e pagar depois. Também fizemos um seguro saúde. Com tudo pronto, hora de seguir para Montevidéu.
A moeda uruguaia, assim como a argentina, tem diferença grande quanto ao real, 750 pesos uruguaios equivale a mais ou menos R$100,00. Mas não se engane, uma água pode custar até 90 pesos. Sendo assim, no Uruguai as coisas são mais caras do que no Brasil.
Quando voltamos pra estrada, na saída de Rivera, no posto da Aduana nos pararam pra checagem, pediram nossos documentos, carta de motorista, documento do carro e queriam saber o de praxe: – O que estão fazendo aqui? – Estão de férias? – Quando vão embora? – Vão pra quais locais durante esses dias? E eu no meu melhor portunhol, respondi sem nem precisar repetir, me entenderam.
E lá fomos nós! Não demorou 20 minutos e já encostamos em um posto de gasolina pra eu pegar na conveniência um sorvete da Conaprole, se tem uma coisa que eu gosto lá são os produtos da Conaprole. Vinhos, assados? Que nada, Conaprole.
Conaprole, um amor.
Dali pra frente, foi reta atrás de reta. Muita reta, reta e mais reta.. a estrada por todo o tempo excelente e reta. Seguimos.
E o primeiro susto, o carro começa a apitar! Encostei, e lá no horizonte havia uma casa, já pensei que no pior dos casos, vou até lá pedir um socorro já que na estrada não tinha quase ninguém. Puxa o manual do carro, vamos investigar o que é o apito e o sinal vermelho no painel. Lembramos que já havia acontecido antes, e constatamos o que imaginávamos, sujeira na gasolina, a instrução é parar, desligar o motor, ligar novamente e evitar abastecer outra vez no último posto. Ok, voltei a ligar o carro e continuamos a viagem.
A milanesa: quando sai de casa, com o plano de não almoçar, até pra não enjoar na estrada, não imaginava cruzar logo no primeiro dia uma milanesa. Então tá, paramos pra um lanche
Finalmente, depois de quase um dia inteiro na estrada chegamos em Montevidéu, sem forças pra nada, queria apenas descansar.
A BnB que pegamos na capital foi uma grata surpresa, a nossa passagem ali foi de uma noite, tivemos um ótimo descanso. O café da manhã foi legal e tivemos a companhia de outros brasileiros para compartilhar experiência com as rotas. O lugar chama CaneBnB.
Dia 7, vamos para Colonia del Sacramento
Colonia fica perto de Montevidéu, 2 horas de viagem. Então optamos por passear durante a manhã e pegar a estrada só a tarde.
Um dos pontos que a gente mais gosta em Montevidéu, é Pocitos, um bairro todo arborizado, bem antigo, costeando o rio, com uma pequena praia na beira do De la Plata. Uma parte da história do Uruguai passa por este lugar.
Tirei esse tempo livre para fazer algumas fotos e depois fomos almoçar no famoso Mercado del Puerto. Fui no intuito de comer um assado de tira, mas acabamos escolhendo carne de ‘oveia’.
Logo após o almoço colocamos os carro na direção de Colonia e lá fomos nós. Em verdade não tinha grandes expectativas quanto à vila, é uma cidade pequena de litoral e achei que havíamos programado errado duas noites por lá, achei que seria muito, mas não poderia estar mais enganada.
Chegamos na pousada no final da tarde, subimos com as mochilas, acertamos os detalhes da hospedagem e depois de um banho fomos esticar as pernas, tínhamos que comprar as passagens do Buquebus para no dia 9.
O atendimento na central do Buquebus foi bom, o Marcelo -quem estava no atendimento no dia- nos tirou várias dúvidas que a internet não conseguiu. Então já deixamos tudo pago e agendado.
Feito isso fomos visitar uma casa de chopp que a Suzi Tidra me indicou e depois olhar o pôr do sol na orla do centrinho.
Como não sabíamos quase nada sobre a cidade, fomos dar uma pesquisada. A cidade foi fundada em 1680 pelo português, general e governador da capitania do Rio de Janeiro, Manuel Lobo. Pouco tempo depois os espanhóis do outro lado do La Plata tomaram posse do lugar.
As arquiteturas se confundem, os espanhóis são conhecidos por suas ruas geometricamente planejadas, já os portugueses seguem o coração. Então algumas ruas são retas e outras uns labirintos. Muito curioso!
Também descobrimos que a famosa Rua dos Suspiros (Calle D-Los Suspiros) era a última passagem dos condenados de guerra antes de formar linha frente ao fuzilamento, mas tem uma outra versão, de que seria a rua onde ficavam as meretrizes, então os soldados passavam ali suspirando antes do último embarque, já que era caminho para as embarcações. Não sei dizer, talvez as duas histórias estejam corretas.
Dia 8, um dia inteiro em Colonia Del Sacramento
Na manhã seguinte lá fomos nós bater perna na rua. De cara, subindo a rua da pousada, encontrei uma feira. Queijos, ximia, artesanatos, frutas, antiguidades, tralhinhas em geral, típica feira de domingo. Inclusive na Redenção (Porto Alegre) e no Largo da Ordem (Curitiba) tem ótimas.
Antes do almoço, andamos por tudo e tirei algumas fotos da cidade.
As ruas são tomadas por restaurantes. De manhã é calmo, depois do almoço a cidade começa a ter muita gente andando ali pelo centro, e por ser do lado de Buenos Aires, é um bom lugar de final de semana para os argentinos.
Para o almoço meu cunhado indicou uma bodeguinha mas não encontramos, achamos um lugarzinho semelhante, com proposta parecida da propaganda que ele fez sobre a paella local, e realmente, deliciosa.
Depois de andar por um dia inteiro, e com viagem marcada para a próxima manhã -às 9h-, optamos por descansar depois do pôr do sol e de algumas empanadas.
Dia 9, partiu Buenos Aires
Novo dia, novo destino. Agora finalmente o que seria nossa última parada -ledo engano-, Buenos Aires, Argentina. Para isso bastava chegar do outro lado do rio, uma travessia de mais ou menos uma hora e meia. Escolhemos a empresa Buquebus, existem outras, mas essa a gente sabia que tinha como levar o carro.
Descemos da embarcação, passamos pela aduana, foi tudo muito tranquilo, colocamos um restaurante que queríamos conhecer no GPS e já estávamos em terras argentinas, e com almoço programado.
Diferente das outras duas cidade, onde optamos por pousada e um quarto em um BnB, em Buenos Aires alugamos um apartamento, a ideia era ficar uma semana inteira, seria interessante ter mais espaço, e os valores eram equivalentes.
Ficamos na Recoleta, um dos bairros mais charmosos da capital.
Entrega da chave: O host do ap marcou de nos encontrar às 14h para entregar a chave e apresentar nossas instalações, então fomos em um lugar com wi-fi para procurar um estacionamento que fosse perto, e achamos um bem em frente ao prédio, perfeito. Dificilmente esses apartamentos em bairros antigos tem vagas para carros, esse não foi exceção.
E como precisávamos de coisinhas para a geladeira, como leite, café, manteiga, cervejas, queijos e afins, fui logo tratando de me informar onde era o Super mais próximo.
É impressionante o tanto de enlatados que o argentinos consomem, tudo deles é enlatado, não comprei quase nada além do necessário. Cheguei em ‘casa’ com as compras, fiz uma massa ao sugo, abri uma Quilmes e pernas para o alto.
Enquanto estávamos viajando, na TV Argentina o Brasil era pauta de todos os noticiários. Aquele orgulho! Só que não.
Dia 10, 11, 12, 13, Buenos Aires
Nossa primeira vez em Buenos Aires, então queríamos conhecer os pontos turísticos e foi o que fizemos a semana toda. Como estava de carro, e o trânsito é muito parecido com o nosso, fui de cabo a rabo pela cidade, primeira parada Caminito.
Fomos dormir na noite anterior com a ideia de explorar a cidade, então olhamos no maps e achamos como chegar em Caminito. Rota traçada, vamos lá!
Caminito: Como estávamos sem internet, deixamos os mapas baixados e funcionou muito bem. O que eu encontrei lá me surpreendeu um pouco, muitos turistas de várias partes do mundo. Franceses, alemães, americanos, italianos, de todos os lugares.
A história do bairro La Boca, onde está a famosa Calle Caminito, tem várias curiosidades, mas a que mais me chamou atenção foi a dos imigrantes italianos que tentaram desvincular o bairro da Argentina, se autoproclamaram ‘República Independiente de La Boca’, ou seja, pertenceria ao império Italiano, chegaram a içar a bandeira de Genova no porto. Só Por Dio!
Em Caminito há muito comércio, restaurantes, artesanato, existe uma feira bem grande e diversificada. E tango, há vários shows, também lá se encontra a casa do Maradona e outros museus, incluindo do artista Benito Quinquela Martín.
Cemitério da Recoleta: Contra a minha vontade, fomos fazer uma visita ao cemitério da Recoleta, onde estão enterrados grandes personalidade da história argentina, entre eles e a mais visitada, Eva Peron, que teve por muitos anos a sua sepultura escondida para que os opositores políticos não profanassem os seus restos mortais.
Tem que pagar entrada no cemitério, você pode escolher fazer o ‘tour’ com uma guia, ou explorar por conta própria. Escolhemos seguir com acompanhamento, e no final foi interessante.
Nesse passeio descobri que os argentinos se autodenominam os criadores do doce de leite, e que o fato aconteceu quando inimigos mortais -de uma das guerras no país- sentaram para conversar, no intuito de apaziguar as coisas. Um dos figurões gostava de tomar chá com leite, então colocaram lá um leite para esquentar, que seria servido após a tal conversa, mas demorou tanto, mas tanto que o leite, como devem imaginar, virou doce de leite.
Além disso, existe um Festival anual -não me recordo em qual cidade-, com uma grande disputa de melhor doce de leite do país, tudo informação de cemitério.
El Ateneo: Também fomos no antigo anfiteatro, que agora é uma grande livraria, El Ateneo. É encantador!
La Bombonera: Adoro futebol, então coloquei La Bombonera no meu roteiro, fui no museu que tem dentro do estádio de um dos maiores times da Argentina, o Boca Juniors, também é o clube de ‘la mano de Dios’, Diego Maradona. Mas infelizmente não pude entrar nas arquibancadas, ia ter jogo naquela noite e o acesso estava restrito.
O Malba: Antes da viagem já tinha programado ir até o Museu de Belas Artes da América Latina, demos sorte, a exposição principal era da brasileira, Anna Maria Maiolino.
Lá também vimos a obra brasileira mais icônica da arte moderna, Abaporu de Tarsila do Amaral. O Brasil já tentou por algumas vezes trazer a tela para o país, mas sem sucesso.
Fizemos muitos passeios pela cidade conhecemos San Telmo, Palermo, Palermo Hollywood e Chico, Belgrano, fomos em alguns restaurantes mas não quero me alongar sobre a gastronomia, e por incrível que pareça, o que mais gostei foi um tailandês, na Recoleta, com um preço incrível e indescritível de tão bom.
O Jardim Japonês estava muito cheio no dia que programamos a visita, então optei por não entrar. Sério, a fila dobrava a quadra.
E chega, vamos pra casa!
Dia 14, 15 e 17, voltando pra casa
A nossa volta foi um pouco mais complicada, teríamos que ir até a fronteira do Uruguai, queríamos de inicio evitar as estradas argentinas, mas não foi possível, todos tiveram a mesma ideia, e depois de duas horas em uma fila pra atravessar a ponte de Cólon (AR) para Paysandu (URU), resolvi fazer a meia voltar e tomar rumo até Uruguaiana. Chegamos a noite, dessa vez sem fila para atravessar a fronteira, dormimos em um hotel de passagem, muito bom por sinal, e na manhã seguinte seguimos para Santa Maria. Na minha sogra peguei o meu cachorro e voltamos para Floripa.
Uma lembrança, ainda próximo à capital argentina resolvi passar no Carrefour, um pouco depois da saída da cidade para compra vinhos. Inclusive, me agradeço até hoje por ter tido esse estalo, de procurar um mercado mais afastado, com preços melhores. E foi batata! E como comem batata, caramba.
4000km: contanto todas as estradas, ida e vinda, e o tanto que rodamos dentro das cidade, foram quase 4000km marcados no ponteiro da quilometragem. É chão, minha gente. Já estou planejando a próxima. Valeu
Mais algumas fotos da volta pra vocês.
Espero que tenham gostado. Valeu e boa viagem pra quem está na estrada.
*Colombo Salles é uma das pontes de Florianópolis, de saída da ilha.
*”Horizon Zero Dawn” é um jogo de video game, onde as máquinas simulam os animais através de inteligência artificial, com cenário apocalíptico.
*Telepeaje, pedágio no Uruguai e na Argentina.